Terça-feira, Abril 30, 2024
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Heróis da Luta contra a Covid-19: David Gonçalves, enfermeiro

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No Domingo de Páscoa, David Gonçalves preparou, pela primeira vez, uma massada de marisco e um folar numa “mesa jeitosinha”. O almoço aconteceu na casa da sua terra-natal (Pataias), onde não estava há mais de três décadas. Sentou-se à mesa com a mulher, a filha, o filho, o genro, a nora, a neta, o pai, a sogra, as irmãs, os cunhados e os sobrinhos. Pelo menos, na sua imaginação, foi assim que aconteceu, com a ajuda de uns papelinhos nos lugares da mesa com o nome dos seus familiares. 

No Domingo de Páscoa, David Gonçalves preparou, pela primeira vez, uma massada de marisco e um folar numa “mesa jeitosinha”. O almoço aconteceu na casa da sua terra-natal (Pataias), onde não estava há mais de três décadas. Sentou-se à mesa com a mulher, a filha, o filho, o genro, a nora, a neta, o pai, a sogra, as irmãs, os cunhados e os sobrinhos. Pelo menos, na sua imaginação, foi assim que aconteceu, com a ajuda de uns papelinhos nos lugares da mesa com o nome dos seus familiares. Há mais de um mês desde que o enfermeiro, de 53 anos, deixou voluntariamente a sua primeira casa e a sua família em Leiria, depois de ter tido contacto com o primeiro doente suspeito de Covid-19 no Centro Hospitalar de Leiria, onde trabalha há 32 anos.

“Havia uma forte suspeita que esse caso fosse positivo. Acabou por revelar-se negativo, mas a probabilidade de ser um falso negativo era muita, porque o período de incubação do vírus é longo. Não podia colocar a minha família em risco”, conta David Gonçalves, que acabou por mudar-se para Pataias onde podia estar completamente isolado. 

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O enfermeiro, que faz turnos de 12 horas há quatro semanas, tem atuado em duas frentes de batalha: na Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) e no bloco operatório. Para o profissional de saúde, não restam dúvidas de que o serviço da VMER é o maior perigo de contágio que corre. “Andamos na rua. Estamos expostos a tudo. Se tivermos de entrar num lar com pessoas infetadas, entramos. Se tivermos de apanhar o vírus com alguém da equipa apanhamos. Ninguém está a salvo”, confessa o enfermeiro. “Naquele momento de aflição o nosso foco é socorrer as pessoas, o resto esquecemo-nos por completo”, acrescenta. Não sabe o número de casos positivos que já teve contacto direto, mas sabe que “os casos aumentam todos os dias”. 

Enquanto trabalha “pede a todos os santinhos” para o tempo passar rápido e ir para casa, mas quando está em casa conta o tempo para voltar a ir para o hospital. Estar sozinho em casa não ajuda. “É muito difícil estar privado do contacto físico da minha família. É uma emoção que nem sei explicar. De vez em quando passo em casa e fico nas escadas para os ver à distância. Mas custa muito”, admite o enfermeiro. “Sinto o coração apertado da minha mulher e vejo as lágrimas da minha filha ao mesmo tempo que me diz que tem medo. Eu estou tranquilo em relação a eles, mas eles sentem medo por mim”, revela David Gonçalves, que vive com a mulher, com a filha e com a sogra de 88 anos. Mas a situação torna-se ainda mais angustiante quando se fala da neta. A bebé Maria Leonor nasceu há dois meses, mas só foi possível ao avô dar-lhe colo no primeiro mês. David Gonçalves pede desculpa por não conseguir esconder a emoção: “É muito difícil”. 

Para atenuar a dor e as saudades, o enfermeiro tem vestido o seu fato de treino para ir caminhar na zona de mata que o rodeia. “É a minha higiene mental. Se não o fizer dou em maluco”, desabafa. As duas irmãs também o têm acompanhado, com a devida segurança. “Tem sido um verdadeiro regresso às origens. Parece que voltámos à nossa infância quando vamos os três caminhar”, reconhece o profissional de saúde. Em casa, tenta evitar a televisão. “Faço questão de não ver com muita frequência porque percebo que todos os dias há mais casos”, nota David Gonçalves, preocupado com os “assintomáticos”. “É muito difícil perceber hoje em dia quem está e não está infetado”, afirma. 

O que não pode faltar em casa e no trabalho é o telemóvel, o seu melhor amigo nas últimas quatro semanas. “É o único meio que tenho para ouvir e ver os meus mais que tudo”, diz. Além disso, a família tentou encurtar a distância com a criação de um grupo de Facebook, a que chamou de “Super Família”. Mas, já todos sabem quem é o super-herói.

Ilustração: Natacha Costa Pereira

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