Há poucos dias fiz 200 quilómetros para passar menos de uma hora no restaurante Serrazina, um dos melhores da nossa terra. Mal me sentei atirei-me ao que me pareceu ser um delicioso pastel de bacalhau. Era delicioso sim, mas não era de bacalhau. Tratava-se de um original pastel vegetariano, embora também saibam fazer, e bem, os de bacalhau. É a isto que chamo inovação: atrevermo-nos a criar coisas novas sem enjeitar as receitas clássicas.
Esta semana recebi a boa notícia de que Alcobaça se propõe aderir à rede de cidades criativas no âmbito da Gastronomia. Já temos a tradição, já possuímos os melhores ingredientes e, no campo da doçaria, somos fiéis-depositários de um tesouro de receitas e artes da confecção. Só falta a inovação, o sentido estético, a vontade de renovar esta relação tão íntima que já temos com a gastronomia e com os ingredientes que a terra e o mar tão generosamente nos oferecem.
Mas, atenção, renovar é diferente de abastardar e não é o mesmo que abandonar as tradições. É, antes, acrescentar. Juntar ao que já temos de muito bom, ao que já sabemos fazer muito bem, novas propostas estéticas, novas combinações ou, simplesmente, ampliar a oferta e enriquecer a aparência do que já sabemos fazer, como fizeram no Serrazina.
“Os humanos somos o que comemos”, esta máxima, da autoria do filósofo alemão do séc. XIX, Ludwig Feuerbach sustentou, à data, a sua teoria de que a alimentação desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de cada indivíduo. A candidatura da nossa terra, independentemente do resultado, serve para nos recordar que a alimentação, ou melhor, a gastronomia pode muito bem desempenhar idêntico papel no progresso e nas capacidades da sociedade em que estamos inseridos. Pelo que, enquanto comunidade, também podemos ser o que comemos. Como somos terra de paixão, de amor e de tradição, sejamos, igualmente, terra de sabores, de gastronomia e de inovação.