É certo que remonta ao período romano e teve ocupação mais ou menos permanente até final do século XVI, mas sobre a Igreja de São Gião, na freguesia de Famalicão – que o REGIÃO DE CISTER visitou na passada quarta-feira -, há poucas certezas e muitas dúvidas.
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Entre as questões que levantam interrogações está o facto de existirem elementos na arquitetura do edifício muito distintos e de diferentes períodos da história.
A igreja, património classificado Monumento de Interesse Nacional, foi objeto de obras de restauro e de consolidação da estrutura do edifício, uma empreitada iniciada em 2018 e concluída no início de 2021. No âmbito da intervenção no espaço, está ainda prevista a instalação no local de um Centro Interpretativo do Monumento, confirmou o arqueólogo Carlos Fidalgo, que promove os esclarecimentos nas visitas mensais à Igreja, da responsabilidade da Câmara da Nazaré, e que tem vários trabalhos publicados sobre o monumento. As visitas à Igreja de São Gião são ainda guiadas pela historiadora Ana Adelaide Hilario.
“É um diamante em bruto e tem muito para ser estudado”, resume o especialista, que fala em “enigma” num monumento em relação ao qual “há mais perguntas do que respostas e mais dúvidas que certezas”.
“Foi muito importante como edificação romana, mas não sabemos que importância teria para o culto ou quem habitava”, reconhece Carlos Fidalgo, que confirma que a Igreja de São Gião – que nunca pertenceu aos Coutos de Alcobaça, mas aos Marqueses de Abrantes -, foi utilizada como palheiro até ao século XX. Está inserida numa quinta de exploração agrícola, a cerca de 600 metros do mar, e “nas invasões francesas ainda produzia bastante”.
Descoberta em 1961, a Igreja de São Gião é considerada um dos templos cristãos mais antigos do território nacional e mesmo da Península Ibérica. Isso mesmo é confirmado pela cronologia histórica estabelecida de acordo com os vários trabalhos de investigação ali realizados.
O monumento foi objeto de três escavações arqueológicas e as primeiras teorias classificaram a igreja como da era visigótica, mas “O estudo de Arqueologia da Arquitectura”, de 2003, esclareceu algumas das anteriores suspeitas e acrescentou novas evidências. O facto de os muros, a título de exemplo, integrarem fragmentos escultóricos da época visigótica leva os investigadores a pressupôr uma construção posterior à perda de simbolismo desses materiais.
A par da riqueza histórica, é certo que “o local de São Gião desempenhou um papel aglutinador de comunidades monásticas e não monásticas, não só pela função cultural, mas com maior propriedade pelas condições naturais que o local oferecia para a sobrevivência de todos os que se instalaram naquele local”, como salienta o município da Nazaré no site.