Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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Paulo Félix: “Queremos a permanência e não podemos pensar em muito mais”

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O Dom Fuas AC vai viver um dia histórico este sábado. A formação nazarena vai visitar o reduto do Artística de Avanca naquela que será a primeira vez na história que o clube vai competir na… 1.ª Divisão Nacional. Em vésperas da estreia, o REGIÃO DE CISTER esteve à conversa com o técnico Paulo Félix, que lançou um primeiro olhar sobre o que esperar da equipa no convívio dos grandes.

REGIÃO DE CISTER (RC) > Como sente o pulsar do balneário a dias da estreia do clube na elite?
Paulo Félix (PF) >
A motivação está em altas. Estamos a trabalhar muito bem. Tivemos alguns contratempos, nomeadamente com atletas envolvidos nas seleções nacionais e outros de férias. Também por causa da fase final acabámos a última época mais tarde do que as equipas da 1.ª Divisão Nacional. De resto, está tudo dentro do perspetivado. Já existe um bom ritmo.

RC > O objetivo é a manutenção?
PF > Os objetivos estão muito bem traçados por todos: queremos a permanência e não podemos pensar em muito mais do que isso. Obviamente se conseguirmos entrar no Grupo B [5.º ao 8.º lugar] será fantástico, mas nas nossas cabeças está a permanência. É um campeonato com 12 equipas apenas e com conjuntos muito mais fortes do que nas épocas anteriores. Há equipas que estão mais fortes do que na época passada e depois há os grandes. Não vamos entrar para perder e temos de estar atentos porque se a oportunidade surgir teremos de estar preparados. Depois há o ABC Braga e o Águas Santas, que são equipas que lutam pela quarta vaga no grupo do título. Mas mesmo essas equipas, se se descuidarem, podemos surpreender.

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RC > Para ser mais concreto em termos de lugar na classificação, a que posição apontaria num cenário tangível?
PF > Uma classificação razoável é fugir aos dois últimos lugares [risos]. Um lugar bom é mesmo integrar o Grupo B.

RC > O Artística de Avanca é o primeiro adversário. O que espera deste primeiro jogo e de que forma vai encará-lo?
PF > Espero alguma ansiedade normal, mas temos atletas com experiência de 1.ª Divisão. Há um misto no grupo. O Avanca está muito diferente em relação à temporada passada. Manteve o treinador, mas mudou muitas peças. Será um início de jogo com alguma ansiedade de parte a parte, mas julgo que depois nos iremos libertar. Estamos focados em ir a Avanca e conseguir um bom resultado, que será a vitória, mas percebendo que será um início dífícil.

RC > Quem coloca como candidatos ao título?
PF > Sporting e FC Porto. O Sporting, neste momento, talvez com alguma vantagem. Se bem que o FC Porto, com a entrada do novo técnico, é sempre de ter em bastante consideração.

RC > E a surpreender no campeonato?
PF > O Águas Santas, o Póvoa AC, que é sempre uma incógnita, o ABC Braga é sempre o ABC Braga. A luta pelo 4.º lugar diria que vai ser um dos aspetos mais interessantes no campeonato.

RC > Olhando para dentro, o plantel do Dom Fuas AC sofreu alguns ajustes, com quatro entradas, contudo, há também mais de uma dezena de renovações. O grupo está fechado?
PF > É importante manter o grupo e mantivemos a grande maioria. Tivemos cinco saídas e quatro entradas. Este ano o grupo tem 19 jogadores. O plantel não está fechado. Há uns tempos tivemos a possibilidade de contratar um estrangeiro, mas que acabou por não acontecer. Estamos atentos, mas não estamos preocupados com isso. O grupo está bem, mas se surgir alguma possibilidade de recrutar um atleta que se enquadre naquilo que a equipa técnica pretende, estaremos atentos.

RC > Esse suposto reforço será para fazer a diferença no imediato?
PF > Será um atleta mais de características defensivas e não de ataque. Na época passada tínhamos quatro atletas a defender em zona central e perdemos um deles. Neste momento só temos três opções para duas posições que são muito importantes. Temos atletas que poderão passar nessas posições, mas por serem preponderantes no ataque não podem passar numa posição defensivas daquelas que acarreta um enorme desgaste físico.

RC > E a formação terá espaço para entrar no grupo?
PF > Este ano temos a novidade da equipa B, cuja ideia é precisamente essa. São atletas mais jovens, cinco dos quais já estão a trabalhar connosco, para, a qualquer momento, começarem a integrar a equipa principal. O objetivo é fomentar esse percurso. Qualquer lesão ou contratempo que surja na formação principal será também colmatado pelos atletas da equipa B, que não tenho dúvidas de que estarão preparados caso sejam chamados.

RC > Quais vão ser os principais desafios com que o Dom Fuas AC se vai deparar e o que antecipa para a primeira época?
PF > Existe a preocupação de integrar os novos elementos no nosso modelo de jogo e esse está a mudar um pouco. Pelas características da equipa, mas também da prova em si. No ano passado, em termos físicos éramos provavelmente a equipa mais forte e esta época nem lá perto. Vamos apanhar equipas fisicamente mais fortes e, portanto, esse aspeto terá de ser reavaliado na nossa forma de jogar. Defensivamente vamos ter mudanças. Com algumas equipas é impensável manter a estrutura que utilizávamos na temporada passada. Vamos apanhar atletas que rematam bem de longe e com muito mais força, por isso vamos ter de subir também um pouco as linhas. No ataque será idêntico.

RC > A exigência é, como seria de esperar, ainda maior…
PF > Sim, vamos ter de assimilar rapidamente a intensidade de uma 1.ª Divisão. A Divisão de Honra já tinha um nível bastante alto e até próximo da 1.ª Divisão, mas na elite a questão física está muito mais presente e vamos ter de nos adaptar nesse aspeto. Na época passada, esse foi um dos nossos grandes triunfos, não só a qualidade, mas também a rotação que era feita no plantel. E essa é uma característica minha enquanto treinador. Rodo muito a equipa. E na 1.ª Divisão vai continuar a acontecer porque é impensável aguentar muito tempo de jogo com uma intensidade muito alta. Quero todos os atletas prontos para a qualquer momento estarem aptos para contribuir.

RC > Vai ser um Dom Fuas AC mais retraído?
PF > Acredito até que a equipa vai entrar menos pressionada do que na época passada, em que havia uma grande pressão por não termos subido no ano antes. Muita gente nos apontava como a grande favorita e acusámos um pouco isso na 1.ª fase. Na fase final, fomos claramente a equipa mais forte e chegámos a um ponto em que estávamos mais fortes do que todos os outros. E foi precisamente no momento das decisões. Nesta época espero que isso não aconteça e que a equipa entre em campo um pouco mais descontraída. A responsabilidade é a mesma. Não vamos entrar nunca para perder, vamos ser competitivos em todos os jogos, mas obviamente vamos perder mais vezes do que na temporada passada. Não há dúvidas. Mas mesmo nesses jogos iremos retirar sempre coisas positivas para a evolução do nosso jogo.

RC > E que papel terão os adeptos nazarenos nesta caminhada?
PF > Espero que tenham um impacto muito positivo. Na época passada sentimos isso e na fase final houve jogos que precisámos e realmente houve uma correspondência grande. Espero que assim se mantenha. Os adeptos também terão de perceber que esta será uma época diferente, de estreia, mas com toda a certeza vão ver andebol com mais qualidade e, provavelmente, com a nossa equipa a perder mais vezes do que na época passada, mas isso faz parte do caminho. Vamos assistir a grandes espetáculos e espero que o apoio seja grande.

RC > Há quatro décadas que o distrito não tinha uma equipa na 1.ª Divisão. A presença do Dom Fuas AC na elite torna-se ainda mais importante por isso?
PF > Vim para Leiria em 1994 e desde então se que se fala nisso: o distrito de Leiria tinha de ter uma equipa na 1.ª Divisão Nacional. E a verdade é que Leiria sempre teve muito bons atletas, mas acabavam por ir para fora, para a zona do Porto ou Lisboa. Toda a gente no distrito sabia que havia esta necessidade e o Dom Fuas AC na elite é um grande feito para o andebol no distrito. Para qualquer clube do distrito, e para as camadas jovens, é fantástico terem a possibilidade de, aqui tão perto, de verem jogos de grande qualidade e andebol de primeira. Aqueles atletas que só vemos na televisão, ou que obrigavam a grandes deslocações, agora temos aqui ao lado e espero que seja um bom contributo para a evolução do andebol de formação de Leiria.

RC > É também a sua estreia enquanto treinador na 1.ª Divisão. É um sonho tornado na realidade?
PF > Felizmente, já tive muitas experiências no andebol feminino. Mas este era um objetivo que tinha, não vou negar. É um sonho tornado realidade, ainda para mais nestas condições. Sendo do Norte, mais concretamente de Espinho, sei que se vivesse lá, a probabilidade de atingir a elite seria maior. Tal como em Lisboa, por exemplo. Se estivesse numa dessas zonas, as probabilidades de o ter conseguido provavelmente seriam maiores. Sendo onde foi, esta subida tem ainda mais impacto. Estou muito feliz por ter conseguido. Mas o mérito, é como sempre, de todos os que contribuíram para chegarmos à 1.ª Divisão.

Direção do emblema nazareno acredita na permanência

Walter Chicharro é o responsável pelo departamento sénior do Dom Fuas AC e ao REGIÃO DE CISTER abordou os desafios financeiros e estruturais de uma inédita subida ao escalão máximo do andebol português.

REGIÃO DE CISTER > É a primeira vez que o Dom Fuas AC sobe à elite. O clube está preparado financeiramente para a exigência de competir no mais alto escalão? 
WALTER CHICHARRO (WC) > Nenhum clube está preparado para uma mudança para a 1.ª Divisão e para, a dois meses do arranque da época, ter condições para ter totalidade de um orçamento. No entanto, tem sido dada uma excelente resposta da parte de potenciais patrocinadores com quem temos vindo a falar. Temos já uma larga parte do orçamento para a época alcançado, em termos de apoios, e continuamos em contactos a nível regional e nacional para conseguir mais sponsors, com a certeza de que a 1.ª Divisão de andebol tem uma exposição para as marcas absolutamente determinante, até pelo facto de envolver Benfica, Sporting e FC Porto. Esse esforço tem vindo a ser efetuado e acreditamos que a breve prazo teremos todo o orçamento garantido. Sem esquecer todos aqueles que ao longo dos últimos quatro anos foram determinantes para a subida até à 1.ª Divisão Nacional.

RC > Quais são as perspetivas da Direção para a época de estreia na elite?
WC > A nossa expectativa é muito forte. É um trabalho que foi realizado nos últimos quatro anos, em que subimos três divisões. Neste momento, a ideia passa por estabilizar o projeto na 1.ª Divisão, garantir a manutenção e ir sustentando e reforçando o projeto, esperando haver condições financeiras de outra ordem para, dentro de alguns anos, podermos almejar mais. A ideia esta época é a manutenção e sustentar o projeto na 1.ª Divisão e garantir que o andebol de grande qualidade passe também na Nazaré, como terra de desporto que é.

RC > O plantel foi construído com base na estabilidade e na continuidade. Há possibilidade de chegar mais algum reforço de última hora?
WC > Os plantéis nunca estão fechados. Neste momento, estamos contentes com o que temos, mas continuamos atentos a algumas necessidades específicas da equipa, que, dependendo do mercado, possamos contratar mais alguém. Diria também que nos últimos quatro anos conseguimos ter uma excelente relação com os três “grandes” portugueses. Já cá tivemos jogadores desses clubes e nunca sabemos se não poderá haver o preenchimento dessa vaga específica com algum jogador que possa vir destes três clubes. Como digo, o plantel nunca está fechado. Temos aqueles que consideramos necessários para o objetivo da manutenção, mas estamos sempre atentos a alguma oportunidade pontual.

RC > Este é o coroar de um projeto que sempre teve como “destino” a 1.ª Divisão Nacional. Daqui em diante, quais são os próximos passos a serem dados? Nomeadamente no que à formação diz respeito.
WC > O projeto foi um pouco ao contrário do habitual, que é realmente haver uma aposta muito forte na formação, que depois irá providenciar jogadores e a abastecer a equipa sénior. O que foi feito no Dom Fuas AC foi o inverso. Fizemos uma aposta muito forte nos seniores, com todas as dificuldades que existem em trazer jogadores de todo o país para a Nazaré. Estar nos grandes centros facilita a vida aos clubes e isso na Nazaré não existe. Tem sido feito um esforço grande, mas o que é visível é que também a formação começa a ter jogadores da região toda que se mostram interessados em vir jogar para as equipas jovens da Nazaré, naturalmente, com a perspetiva de poderem, a breve prazo, subir à equipa sénior. Por isso, teremos uma equipa B, com jogadores da região, mas cuja base são os escalões de formação do Dom Fuas AC. Alguns deles estão já a treinar com a equipa principal, tentando integrar o plantel. É um percurso ao contrário do habitual, mas acredito que com este investimento há condições para que no futuro a formação possa gerar os jogadores para abastecer a equipa principal.

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