Num francês irrepreensível, Joaquim Silvério Ferreira, de 82 anos, atende um casal de turistas com a mesma dedicação de há 58 anos, quando abriu, com a mulher, a Casa Beira Mar, de bordados regionais, em plena marginal da Nazaré.
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Foi em 1967. Tinha 24 anos, dois filhos e a vontade de ter um negócio próprio, depois de ter sido alguns anos empregado do comércio. Na sua loja, “ao início eram só bordados e malhas da Póvoa do Varzim”, recorda o lojista, filho de um pescador e de uma peixeira. Joaquim nunca pensou em seguir os passos do pai, que passava meio ano na Gronelândia na dura pesca do bacalhau e os outros seis meses na faina na Nazaré. Já a mãe vendia peixe porta a porta nas Pedreiras, no concelho de Porto de Mós, para onde se deslocava inicialmente de burro e, mais tarde, de camioneta.
A Casa Beira Mar é hoje um espaço com muito mais do que atoalhados, mas são as toalhas que continuam a ser o produto com mais saída. “Devo ser dos únicos a vender destas toalhas de mesa”, acredita o lojista. Quem as procura é clientela de mais idade, “porque as novas já não querem nada disto nas decorações da casa”, analisa o comerciante. As ondas gigantes da praia do Norte são vistas com bons olhos pelo lojista. “Mudou sobretudo o tipo de clientela”, analisa o comerciante, que nota maior diversidade de nacionalidades de visita à vila da Nazaré.
Joaquim Silvério Ferreira não esconde o desalento para com a política local. “É só oportunistas”, atira o comerciante que, por outro lado, tece duras críticas à instalação do Estádio do Viveiro sempre no mesmo local do areal. “Passamos meses com o estádio à porta, o que prejudica muito os negócios e só beneficia a indústria hoteleira e os gelados”, descreve Joaquim Silvério Ferreira, que defende que “deviam pôr alternadamente em vários pontos do areal. Mesmo que aqui estivesse algum tempo, não eram estes meses todos”.
Hoje, como há 58 anos, o senhor Joaquim abre a porta de segunda-feira a domingo. “Abro todos os dias à hora que bem me apetecer”, brinca o nazareno, que prefere não pensar no futuro da loja. Na verdade, não mostra sinais de cansaço ou tão pouco aparenta ser octogenário, a avaliar pela destreza com que se movimenta na loja.
O comerciante não se ficou pela loja de atoalhados. Em 1974 abriu a Ferreira & Granada, uma empresa de materiais de construção civil que hoje é gerida pelos filhos. Há quase duas décadas, o empreendedor conseguiu ainda comprar a loja que arrendou durante quatro décadas.