Destreza nas mãos e na mente. É assim que, aos 74 anos, Joaquim Coelho vive há mais de 60 anos dando vida a peças de cerâmica em terracota.
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Com a roda já ligada, Joaquim Coelho prepara o barro, molha-o, coloca-o numa base em cima do tornilho, que foi devidamente preparada, e deixa a sapiência de mais de 60 anos de experiência fazer o resto. Em pouco mais de dois minutos, nasce das mãos do oleiro, radicado no Chão Pardo, uma jarra em terracota, que passará por várias horas de secagem para, no dia seguinte, ser aplicada a asa, passar por novo processo de secagem e, finalmente, ir ao forno a uma temperatura superior a mil graus.
Jarras, alguidares, tachos de diferentes formas e tamanhos. Joaquim Coelho faz de tudo um pouco. “Tento fazer o que o cliente me pedir”, explica o oleiro, enquanto lapida os últimos detalhes da peça que fez propositadamente para mostrar a arte ao Região de Cister. Os artefactos em terracota que lhe passam nas mãos seguem para vários pontos do país, desde o Porto ao Algarve, sendo predominantemente distribuídos para revendedores, que os vendem em feiras e lojas.
Nascido na Moitalina, na freguesia de Pedreiras, numa localidade bem conhecida por ser terra de muitos oleiros, Joaquim Coelho começou cedo, aos 12 anos, a dedicar-se ao ofício de oleiro. Mas só aos 20 anos se profissionalizou na área, herdando a paixão e a sabedoria transmitida pelo pai e pelos avós, que, tal como muitos conterrâneos, também viviam da produção de peças em terracota. “Naquele tempo, havia muita gente a fazer este trabalho”, recorda o artesão, confessando a paixão que sente ainda aos 74 anos por essa arte.
“Deito-me a pensar no trabalho e a planear na minha cabeça o que vou fazer no dia seguinte. Quando tenho muitas peças para fazer, vou ali para a roda, começo a trabalhar e nem dou pelo tempo passar”, descreve Joaquim Coelho, confirmando as propriedades terapêuticas de colocar as mãos no barro. “Permite-me descontrair”, confessa o oleiro.
Além das inúmeras peças que produz no seu espaço, quer para encomenda, como para ter disponível em stock, Joaquim Coelho é também responsável por dar forma a vários projetos de uma empresa sediada na Moitalina. “Eles trazem-me o projeto da peça e eu dou forma e faço o molde de forma artesanal, para depois ser levado para a fábrica e ser produzido a larga escala”, explica. Apesar da idade, o oleiro não pensa em abrandar, pelo menos, nos próximos tempos. “Não quero morrer a trabalhar, também quero descansar um bocadinho. Talvez daqui a um ou dois anos termine”, partilha, referindo que, por agora, as solicitações ainda são muitas. “Ainda tenho muita gente que me vem aqui procurar. Antes de você chegar, esteve aqui um senhor que levou peças para Rio Maior”, conta Joaquim Coelho.
O artesão confessa ainda ser surpreendido com alguns desenhos que lhe pedem para dar forma, mas, nada que com calma não se resolva. “Começo devagarinho, a trabalhar e vou pondo as coisas ao meu jeito. Acabo sempre por conseguir”, garante.
Sucessor de uma “linhagem” de oleiros, Joaquim Coelho diz que o ofício está a chegar ao fim na família, facto que é transversal à arte da olaria no país. “Estas peças de barro estão muito ligadas à culinária, um pouco à moda antiga. Aquela comida de tacho. As coisas agora estão mais modernizadas e já não há tanta procura e utilização como havia antigamente”, explica.
Os mais de 60 anos dedicados ao ofício não tiram a motivação nem a paixão a Joaquim Coelho, que, na sua olaria, continua a transformar barro em autênticas obras de arte, que saem do Chão Pardo com o selo de qualidade artesanal da região.