O apagão de eletricidade que afetou Portugal Continental desencadeou um cenário de alarme e improviso nos concelhos de Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós. Mas também de resiliência e entreajuda. O episódio inédito, que também afetou parte de outros países da Europa, mobilizou autarquias, forças de segurança, proteção civil e instituições. A dificuldade maior acabaria por ser a falha das redes de comunicação.
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Nas mercearias, voltou a haver fiado. Com a maioria dos restaurantes fechados e os fogões elétricos desligados em casa, houve quem fizesse lume à moda antiga ou se deslocasse a casa de familiares que tivessem gás para cozinhar. Os poucos postos de combustível que se mantiveram abertos viram-se rodeados por filas intermináveis de carros e muitos condutores acabaram por ficar apeados. As prateleiras de pão e água esvaziaram-se nos supermercados ainda em funcionamento.
Na praia, eram muitas as toalhas estendidas e as esplanadas dos cafés à pinha, pelo menos, enquanto ainda havia barril de cerveja. Os parques infantis lotaram. Multiplicaram-se as caminhadas, as corridas, os passeios de bicicleta e também com animais de estimação. À noite, valeram as velas e as lanternas. Quem não estava prevenido com os velhinhos rádios a pilha foi para o carro ouvir notícias nas poucas rádios que mantiveram a emissão. O dia soalheiro também motivou limpezas e bricolage em casa ou simplesmente por o sono em dia. Também deu para colocar a leitura em dia. Vizinhos reforçaram laços e assistiu-se a uma onda de solidariedade para o que fosse necessário. Pode parecer estranho, mas tudo isto aconteceu numa segunda-feira.
O apagão de eletricidade que afetou Portugal Continental desencadeou um cenário de alarme e improviso nos concelhos de Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós. Mas também de resiliência e entreajuda. O episódio inédito, que também afetou parte de outros países da Europa, mobilizou autarquias, forças de segurança, proteção civil e instituições. A dificuldade maior acabaria por ser a falha das redes de comunicação.
Na Nazaré, o plano de emergência municipal foi ativado às 15:30 horas e desativado ao final da noite. A prioridade foi manter o abastecimento de água com recurso a geradores nas estações de bombagem. Ainda assim, cerca de 15% do concelho registou falhas temporárias. Foi também colocado um gerador em funcionamento no centro de saúde, para garantir que as vacinas, que precisam de refrigeração, pudessem ser mantidas de forma adequada. Com o apoio da PSP, foi também possível garantir o abastecimento de medicamentos em farmácias, como a insulina, que precisa de ser armazenada sob condições específicas.
Em Alcobaça, o Plano de Emergência Municipal foi ativado às 17:30 horas e permaneceu em vigor até às 8 horas do dia seguinte. O presidente da Câmara destacou a prontidão dos presidentes de junta, bombeiros, autoridades e funcionários municipais, que responderam às chamadas, garantindo a segurança e o bem-estar da população. “Ao receberem um telefonema, apareceram. Com a ajuda de todos tudo correu bem”, acrescentou Hermínio Rodrigues. A Unidade Local de Saúde da Região de Leiria também ativou o plano de contingência no hospital de Alcobaça, assegurando cuidados urgentes através de geradores.
Na Benedita, o Centro Escolar ainda viveu momentos de apreensão quando um alarme de gás foi acionado, levando à rápida intervenção dos bombeiros, que confirmaram tratar-se de um falso alarme. Já na cidade de Alcobaça, a PSP reforçou a vigilância — tanto visível como invisível — para prevenir eventuais crimes, que não chegaram a ocorrer. O trânsito registou um abrandamento significativo e apenas um pedido de socorro foi comunicado: uma pessoa ficou presa num elevador. A situação mais sensível do dia envolveu uma criança perdida e desorientada, incapaz de contactar a mãe devido à falha nas comunicações. A menor acabou por ser entregue em segurança no local de trabalho da progenitora.
No concelho de Porto de Mós, a resposta foi marcada pela prontidão e apoio comunitário. O abastecimento de água e as escolas foram as principais preocupações. Para isso, explicou o presidente da Câmara, foram efetuados contactos com uma empresa que fornece geradores e com particulares que também podiam disponibilizar o referido equipamento. Jorge Vala destacou o pronto auxílio da empresa Mármores Cargogel e do presidente da Junta de São Bento neste capítulo e explicou que o gerador cedido precisamente por Luís Ferraria foi colocado nos Pragais, garantindo que não faltasse água nas localidades da serra. “A grande maioria da população do concelho teve sempre água até regressar a eletricidade”, explicou o autarca. O município também atendeu aos pedidos de várias instituições para a cedência de gasóleo, reforçando os reservatórios logo pela manhã.