A tradição secular de trabalhar o junco e dele fazer as mais variadas peças regressou em força há uma década, pela mão do Centro de Bem Estar Social da Freguesia (CBESF) de Coz, que assinalou, no passado dia 11 de maio, o 10.º aniversário da Coz’Art, projeto de empreendedorismo social da associação com loja mesmo ao lado do Mosteiro de Santa Maria.
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“Avançar para um projeto social que contribuísse para a sustentabilidade da instituição era na altura um imperativo”, recorda a diretora técnica da instituição, lembrando ainda que “o trabalho em junco tinha os dias contados”. As artesãs que ainda promoviam a arte “estavam a chegar na sua maioria à quarta idade e naturalmente retirar-se-iam da atividade”, constata Alda Gomes, reforçando que os responsáveis do CBESF tinham muitas dificuldades em permitir que a arte se perdesse. “Considerávamos tratar-se de uma perda irreparável”, acrescenta.
Por outro lado, a instituição não estava tranquila com a circunstância de ter o Mosteiro de Coz fechado. “Assistir à chegada de visitantes e saber que não havia ninguém disponível para acompanhar ou para mostrar, explicando com clareza e detalhe a obra, a espiritualidade e a presença de um mosteiro cisterciense feminino, também não nos fazia qualquer sentido”, refere a técnica, explicando que foram esses os motivos para a criação da Coz’Art.
Uma década depois, o balanço é positivo. “Um projeto bem-sucedido, com os objetivos atingidos. Revitalizámos a arte de tecer o junco, temos peças muito bonitas, inovadoras e com muita qualidade, que nos enchem de orgulho”, descreve Alda Gomes, referindo-se aos cestos, malas, esteiras, abajures para candeeiros e as mais inusitadas peças, como pequenas casas para pássaros.
Até à data, o projeto, que inclui o serviço de visitas ao Mosteiro, envolveu cerca de 80 pessoas, “tendo em conta que nestes 10 anos várias entidades se envolveram e com elas outras tantas pessoas, nomeadamente vários artesãos, elementos da Câmara Municipal de Alcobaça, Associação Portuguesa para a Inovação Social, técnicos da Blindesign, fundação Vieira de Almeida, alunos e professores da Escola Superior Artes e Design das Caldas da Rainha, alunos e professores da área de artes da Escola Secundária D. Inês de Castro, a Casa do Pão-de-ló de Alfeizerão, Minidesigners, Montes e Trilhos, entre outros”, destaca Alda Gomes. A diretora técnica acredita que o projeto contribuiu para “recolocar Coz no mapa, por um lado através das peças de junco” que a instituição reinventou e, por outro, porque tiveram a “ousadia” de abrir o Mosteiro, “oferecendo a possibilidade a 50 mil visitantes de conhecerem esta joia cisterciense”.
Na festa de aniversário, o CBESF de Coz promoveu um espetáculo com o coro da instituição “Quem canta seus males espanta”, com as crianças das escolas de Coz. Outro momento alto foi a homenagem às mães artesãs “que passaram o conhecimento às crianças e fizeram delas os artesãos que temos hoje”, como Eurico Leonardo, rosto principal do Coz’Art e “alma do projeto”.