Os crentes acreditam ter sido Deus o responsável pela criação do universo, os ateus defendem a teoria do Big Bang. Há quem utilize a fé e a crença para explicar o mundo, há também quem prefira as causas naturais para justificar a existência do mesmo. As visões são dispersas, mas permitiram uma (re)união, na noite do passado sábado, na Ala Sul do Mosteiro de Alcobaça. Através do projeto SiGA, desenvolvido pela Paróquia de Alcobaça, dezenas de pessoas juntaram-se para debater o tema “Big Bang, Big God”, num momento que motivou uma (saudável) discussão durante cerca de duas horas.
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E para tal contribuiu também a presença de Bernardo Motta e Gonçalo Andrade, autores do podcast “Café, Ciência e Fé”, que se debruçaram sobre o tema. Numa fase inicial, os dois “engenheiros católicos” deram linhas orientadoras para os grupos de trabalho que se seguiriam. Depois, cada grupo reuniu numa sala de trabalho para discutir a temática e partilhar as visões pessoais sobre o tema. Posteriormente, toda a plateia reuniu, de novo, na sala principal, avançando com as conclusões retiradas de cada grupo.
As respostas continuam a depender de cada ser humano e daquilo em que acredita, mas é esse espaço de partilha e de abertura que se pretende com a realização do SiGA, tal como defendeu o padre Tiago Roque ao REGIÃO DE CISTER.
“Penso sempre em duas realidades. Uma delas é o facto do Papa Francisco ter apelado sempre a que a Igreja pusesse as mãos na massa. Não interessava mantermo-nos no nosso espaço, mas o desafio é, de facto, falar a todos daquilo que nos dá sentido, que é Jesus Cristo e os seus ensinamentos. Mas depois também o facto de ter noção de que já não faz sentido uma Igreja fechada em si, de fazer as coisas para se manterem, mas poder adotar muito mais uma dinâmica de saída e aí interpolar até pessoas que estão completamente fora deste contexto”, explicou o pároco de Alcobaça.
E nesse sentido a estratégia passa por levar temas sobre a fé e o dia a dia para a discussão, temas esses que, refere, dizem “respeito a todos”. “Começámos por pensar em temas que cativassem, no fundo, os dois blocos: a parte dos paroquianos e daqueles que estão mais distantes. E, por isso, tanto o tema da existência de Deus [que motivou a primeira reunião, dinamizada no passado mês de outubro], como hoje [sábado] o da criação do universo, foi sempre com esse intuito de não trazer só uma das partes, mas trazer as duas e pô-las a refletir em conjunto”, justificou o também vigário.
O SiGA é um projeto que surge na sequência de um outro realizado anteriormente pela Paróquia de Alcobaça e acontecerá uma vez por mês na Ala Sul do Mosteiro. Os temas de cada reunião já estão delineados, abordando várias questões estruturais da comunidade. O próximo encontro está agendado para o próximo dia 13 de dezembro, e questionará “Será que ainda podemos falar de família?” e vai contar com o testemunho de uma família.
Na forja estão já outros temas da atualidade, como a sexualidade, que merecerá uma reflexão profunda num espaço que se pretende “sempre aberto ao diálogo e à troca de ideias”, sem prejuízo de visões mais ou menos certeiras. E é para toda a sociedade civil. Das gerações mais novas às mais velhas. Dos mais crentes aos ateus.


