O Arts4People nasceu em Pataias, mas já atravessou continentes e prepara agora a próxima etapa em São Tomé e Príncipe. O projeto foi criado por Ana Sílvia Malhado, 51 anos, professora de Biologia e Geologia na Escola Básica e Secundária Amadeu Gaudêncio, na Nazaré, que reside em Pataias desde 1996. Natural de Alenquer, começou a pintar apenas aos 40 anos por influência de um mestre italiano e encontrou na arte não só uma forma de expressão, mas uma missão social.
Este conteúdo é apenas para assinantes
A viragem aconteceu em 2019, quando deixou o ensino privado e ingressou na escola pública. Com mais tempo disponível, decidiu unir três dimensões que a movem: viajar, trabalhar com crianças e criar através da arte. Nasceu assim o Arts4People, com duas vertentes: Kids, dirigida à intervenção com crianças, e Crossing Continents, dedicada ao encontro entre artistas e culturas.
A pandemia adiou os planos, mas não a intenção. Entre 2022 e 2024, Sílvia viajou sozinha para Bangladesh, Índia, Nepal e Sri Lanka, onde dinamizou 15 atividades e trabalhou com cerca de 800 crianças dos 6 aos 12 anos. As sessões decorrem em escolas, templos budistas, igrejas ou instituições locais, sempre em contextos onde o acesso a atividades artísticas é reduzido. Sílvia fornece o material – papel e lápis – e durante 90 minutos as crianças desenham temas ligados ao seu país, cultura, natureza ou vida diária.
No final de cada sessão, são escolhidos dez trabalhos e os participantes recebem um lanche e kits de material escolar, adquiridos sobretudo com recursos próprios. O projeto não tem financiamento fixo.Ana Sílvia aceita donativos de material novo ou usado e, pontualmente, realiza workshops. “As pessoas devem ter no seu projeto de vida algo em que deem um pouco de si aos outros”, afirma. No Sri Lanka, chegou a pagar 100 euros por dois dias de colaboração a um casal cujo salário mensal ronda os 170 euros.
O Arts4People cresceu também no plano artístico. Através da vertente Crossing Continents, já realizou exposições no Bangladesh, Nepal e Portugal. Em 2023, organizou uma mostra no concelho da Marinha Grande com 30 artistas de 14 países, com a colaboração dos seus alunos da Universidade Sénior de Pataias, onde leciona pintura desde a abertura, há dez anos. Ana Sílvia Malhado recebeu ainda uma menção honrosa numa bienal internacional no Bangladesh, entre 460 artistas de 113 países, com obras criadas a partir de saquetas de chá usadas, uma técnica que desenvolve há anos.
Depois de três anos de missão na Ásia, o projeto prepara agora novo destino: São Tomé e Príncipe, em abril de 2026, em colaboração com instituições locais. A intervenção manterá o mesmo modelo, dirigida a crianças do ensino primário. Até março, a artista apela a donativos de material escolar (exceto livros e papel), como lápis, canetas, borrachas, lápis e canetas de cor, que devem ser entregues na Biblioteca de Pataias.
Do ateliê às escolas do outro lado do mundo, o Arts4People afirma uma ideia simples: a arte não tem fronteiras. E a solidariedade também não.


