É ao comando que um camião que Lurdes Maria Santos se sente verdadeiramente livre. Um sonho de criança que conseguiu realizar há apenas dois anos, depois de “ganhar embalo” após a filha também tirar a carta de condução de pesados.
É ao comando que um camião que Lurdes Maria Santos se sente verdadeiramente livre. Um sonho de criança que conseguiu realizar há apenas dois anos, depois de “ganhar embalo” após a filha também tirar a carta de condução de pesados.
A mesma mulher que outrora trabalhou numa padaria, numa fábrica de sapatos e como empregada de limpeza, hoje faz viagens de curso internacional e, acima de tudo, sente-se feliz pela vida que conseguiu construir, mesmo com os duros obstáculos que contornou.
A determinação vem desde tenra idade. “Dizia à minha professora que ela não me podia bater e estava ansiosa por um dia mandar em mim mesma”, conta Lurdes Santos. Uma liberdade que, hoje, consegue alcançar com as viagens de longo curso, nas quais já passou por Espanha, Alemanha, Inglaterra e Áustria.
Interventiva e defensora dos seus ideais, sempre foi uma mulher de opiniões vincadas. “Costumo dizer que se há obstáculos eu contorno-os”, afirma a beneditense, numa expressão em que a palavra “contornar” não é dita ao acaso. “Não gosto de passar por cima de ninguém. Há muitos anos alguém me disse que a água era teimosa, porque contornava os obstáculos, e imaginei que tinha de ser inteligente como a água”, sublinha.
Num mundo profissional em que reina o género masculino, Lurdes Santos admite que as mulheres “são muitas vezes humilhadas” e afirma, sem medos, a sua veia feminista. “Sou muito contra ao facto de a mulher ser submissa. Enquanto bombeira voluntária na corporação da Benedita tenho-me cruzado com muitos casos e alerto todos para isso. Ninguém pode ter medo”.
Apesar de já ter concretizado alguns sonhos, a camionista continua com “muitos objetivos por cumprir”. Uma viagem de autocaravana durante duas semanas, “para levar algumas pessoas que nunca viajaram” é um desses objetivos. “Nunca paro de sonhar. Nunca houve um momento em que tivesse parado”, sublinha Lurdes Santos, sobre um caminho que vai percorrer, prazerosamente, até ao resto da vida.