Em tempos de paragem letiva, o REGIÃO DE CISTER foi à procura de casos em que, por vontade ou necessidade, os pais levem os filhos para o trabalho.
O pequeno Toomas tem apenas 5 anos e como qualquer criança com essa idade é muito irrequieto. Mas quando acompanha o pai e enfermeiro, João Araújo, às consultas que faz ao domicílio, o seu comportamento muda. “Fica interessado nas pessoas e naquilo que eu estou a fazer”, explica João Araújo, que justifica o facto de levar o filho para o trabalho pela importância de “as crianças estarem em contacto com novas realidades”. Em tempos de paragem letiva, o REGIÃO DE CISTER foi à procura de casos em que, por vontade ou necessidade, os pais levem os filhos para o trabalho.
Toomas, que foi “buscar” o nome à Estónia, país de origem da mãe, gosta de “ajudar como pode” e isso, regra geral, traduz-se em dar ao pai “pensos ou outros utensílios necessários”, explica João Araújo. Mas o que o rapaz, que sonha ter um jardim zoológico de borboletas, mais gosta é de conversar com os pacientes do pai. O menino “aproxima-se e interessa-se” pelas pessoas novas que vai conhecendo e pelas vidas que levam. Curiosamente, a presença da criança acaba por ter um efeito “terapêutico não farmacológico” porque todos os pacientes ficam “muito mais alegres” quando Toomas os acompanha nos tratamentos. “Ele é o centro das atenções e as consultas acabam por correr melhor”, refere João Araújo.
Durante o verão, muitos adolescentes ocupam o seu tempo na praia, ficando em casa ou convivendo com amigos, mas há exceções.
Toomas Araújo, Arménio Pedro e Bianca Lazarino têm em comum o facto de acompanharem os pais no trabalho. Para os pais, o aumento da responsabilidade e o contacto com novas realidades é “benéfico”
Arménio Pedro completou recentemente 18 anos, mas desde os 12 que ajuda os pais nos terrenos agrícolas dos pais. O celense faz os “trabalhos mais fáceis” mas não é por isso que não sabe o custo do trabalho. O jovem “tira as folhas e limpa os terrenos” onde os pais cultivam árvores de maçãs, pêssegos e ameixas. É durante o verão que tem mais trabalho, que o obriga a trabalhar diariamente, durante várias horas, por causa da apanha da fruta, tarefa que executa com afinco e dedicação, também porque os pais fazem questão de lhe pagar o ordenado como se de outro trabalhador se tratasse.
O jovem agricultor assume o gosto pelo setor e até pondera um futuro ligado ao campo. Mas sempre como segunda opção, caso a informática não lhe garanta um meio de sustento. Arménio Pedro frequenta o curso profissional de Gestão e Programação de Sistema Informáticos, da Escola D. Inês de Castro de Alcobaça (Esdica), e é por esta área que pretende enveredar no futuro.
“Se não estivesse a ajudar os meus pais, estaria em casa e assim ajudo e sei que sou útil aos meus pais”, conta o adolescente.
Por seu turno, em vez de ficar em “casa sem nada para fazer”, Bianca Lazarino decidiu, este verão, começar ajudar a mãe Isabel na lota do Porto da Nazaré. O que começou como uma forma de, ao mesmo tempo, ocupar as férias e auxiliar a mãe, depressa se tornou num gosto e, até, numa forma de “ganhar alguma independência”.
Apesar de não querer seguir as pisadas da mãe, a rapariga, de 14 anos, gosta de “pesar o pescado” e de o “preparar para a congelação”, transporte e comercialização. Bianca ainda não tem a certeza do que quer fazer no futuro mas sabe que a responsabilidade que lhe é depositada diariamente, durante todas as tardes, é “útil” para a sua formação enquanto pessoa. A convicção é comum à mãe Isabel, que vê com bons olhos a ajuda que a filha lhe dá na lota.
Esta certeza é partilhada por todos os casos destes filhos que acompanham os pais no trabalho. João Araújo, com uma “forte vocação para a educação”, defende que “quanto mais cedo” as crianças forem “expostas a estas vivências melhor” é para os jovens. “A doença, a diferença e o envelhecimento fazem parte da vida” e, por isso, o enfermeiro faz questão de, quando pode, levar o pequeno Toomas para as consultas. Por seu lado, Arménio Pedro garante que o trabalho e a responsabilidade são “uma importante lição para o futuro de qualquer pessoa”. Jovem ou menos jovem.
Toomas Araújo, Arménio Pedro e Bianca Lazarino vão crescer a saber o que custa o trabalho. E, talvez assim, saibam aproveitar melhor a vida.