Quinta-feira, Outubro 10, 2024
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Entrevista a Nelson Matos

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O comandante da PSP de Alcobaça, nos últimos seis anos, aborda os principais focos de insegurança na cidade. A noite, os estupefacientes e a comunidade cigana causam problemas mas segundo Nelson Matos, Alcobaça é uma cidade tranquila para se morar.

Natural de Pedreiras, sempre teve uma visão sobre Alcobaça. Mas esse olhar mudou quando, há seis anos, começou a comandar a esquadra da PSP da cidade, naquela que foi a sua primeira experiência de comando. Assume-se como um homem igual aos outros, é casado e tem dois filhos. Aproveita o tempo livre para nadar e praticar atletismo, ainda que já não tenha tanto tempo quanto gostaria para participar em provas. Ao contrário de muitas crianças, nunca sonhou ser polícia mas depois de uma experiência enquanto militar vestiu a “farda” e encarou a profissão com sentido de missão para trabalhar em prol da comunidade.

O comandante da PSP de Alcobaça, nos últimos seis anos, aborda os principais focos de insegurança na cidade. A noite, os estupefacientes e a comunidade cigana causam problemas mas segundo Nelson Matos, Alcobaça é uma cidade tranquila para se morar.

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REGIÃO DE CISTER (RC) > É comandante da PSP de Alcobaça há seis anos. Como é que foi recebido? E que balanço faz?

Nelson Matos (NM) > Fui bem recebido, não só pela população como também pelas instituições do concelho, principalmente aquelas sediadas na cidade. O balanço é positivo. A população da cidade é simpática. Como todas, tem alguns problemas, mas estamos sempre a tentar encontrar a melhor solução para os resolver.

RC > Que problemas são esses?

NM > De forma geral, e à semelhança de muitos outros locais, serão os crimes contra o património, nomeadamente os furtos. Pontualmente temos algum crime mais grave, como roubos, o que acontece muito pontualmente. Também há crimes de violência doméstica; há uma panóplia diversificada em termos de burlas informáticas, por exemplo, que apesar de ser competência da Polícia Judiciária também tratamos.

RC > Sente que há um clima de insegurança na cidade?

NM > Não, pelo contrário. Alcobaça é uma cidade extremamente segura. E vemos que, a qualquer hora da noite, as pessoas andam na rua tranquilas. Mesmo os eventos que existem na cidade não criam grandes problemáticas. Apostamos na prevenção para evitar mais problemas. Eventualmente, o maior foco dessa pontual insegurança que possa ir existindo são os furtos, seja no interior de veículos, ou em residências e estabelecimentos comerciais. Embora sejam raros, vão acontecendo pontualmente. Basicamente são crimes contra o património, são esses que invadem o espaço das pessoas e são os que criam o clima dessa pequena insegurança. Alcobaça é, neste momento, a cidade do distrito que regista menos ocorrências no geral.

“Uma cidade limpa e organizada é naturalmente muito mais segura

RC > Isso deve-se ao facto de a população ser inferior a outros centros urbanos ou mais diretamente à ação da PSP?

NM > Julgo que a demografia é obviamente um fator a ter em conta, mas penso que a própria cidade é tranquila. E isso deve-se, também, à ação da PSP, puxando a brasa à minha sardinha, como se costuma dizer. Porque a polícia está normalmente presente e é fácil de reparar que, ao longo do dia, se vêem com regularidade as patrulhas, seja junto às escolas ou às zonas de maior tráfego, no centro histórico e estabelecimentos comerciais.

RC > O facto de a cidade ter cada vez menos habitantes propicia estes crimes contra a propriedade?

NM > Sim, claro que também contribuiu porque há mais residências vazias e até abandonadas. A PSP é vigilante e faz a segurança a bens e pessoas, mas todos devem ser um pouco vigilantes de tudo. A Polícia não consegue estar em todo o lado. E esta colaboração também se tem visto por parte da população no sentido de resolver um problema ou outro que surja. Nós sinalizamos os casos de habitações devolutas à Câmara. Estes casos acabam por ser uma fonte de insegurança. Há uns meses a questão dos graffitis foi algo polémica. A população, por vezes, não entende como é que se consegue parar este género de comportamentos mas, dando apenas um exemplo, a PSP identificou vários cidadãos, houve uns que foram punidos criminalmente, e o que é certo que é que deixaram de aparecer mais graffitis na cidade. Isto deveu-se a uma ação de alguém e a população às vezes esquece-se disso. Nós fizemos o nosso trabalho: identificámos, apreendemos e levantámos os autos. E os graffitis deixaram de aparecer. As residências ou terrenos abandonados propiciam sempre outro tipo de situações. Se uma parede estiver toda graffitada é quase um convite a fazer mais. Sabemos que uma cidade limpa e organizada é naturalmente muito mais segura.

RC > Os estabelecimentos de diversão noturma são um foco de muitas ocorrências?

NM > Eventualmente temos uma reclamação ou outra, mas não é um problema diário. Por vezes há problemas com o ruído, mas não é um problema recorrente. Para isto muito contribui a proximidade com as pessoas e o patrulhamento de que falava há pouco. A visibilidade e a presença da polícia são sempre dissuasoras. A título de exemplo, nestes dias de Carnaval estivemos com uma presença forte para apostar na prevenção de ocorrências provenientes de alguns excessos.

RC > O tráfico e o consumo de droga criam problemas de insegurança na cidade?

NM > Penso que não. Há muito a ideia de que em Alcobaça circula muita droga, mas isso acontece em todo o lado e penso que na cidade é mais a que circula do que a que é propriamente vendida ou consumida. Com os nossos meios tentamos combater o negócio dos estupefacientes, mas não há muitos casos de relevo.

RC > Há ocorrências de tráfico de estupefacientes junto a escolas da cidade. Qual é o papel da Escola Segura?

NM > O papel da Escola Segura prende-se com fazer a segurança aos estabelecimentos de ensino, fazer a ponte entre os problemas das escolas com a polícia, tentar resolvê-los, tendo um papel de sinalizar eventuais situações junto da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e Tribunal de Família e Menores. Em relação ao tráfico e consumo de estupefacientes nos jovens, nós fazemos ações de sensibilização nas escolas. No exterior fazemos a vigilância onde são detetados, de vez em quando, alguns alunos na posse de produtos estupefacientes que são identificados.

“As comunidades ciganas não são o principal foco de insegurança”

RC > A presença de comunidades de etnia cigana na cidade é apontada como um foco de insegurança. Concorda com esta visão?

NELSON MATOS (MN) > Sim, é apontado como um foco de insegurança. Mas também considero que tem que ver com a forma de estar de muitos membros dessa comunidade. As pessoas de etnia cigana estão, quanto a mim, devidamente integradas e enquadradas na sociedade, e cada vez mais. Mas há alguns comportamentos que são reprovados pelo resto da sociedade. Por vezes há comportamentos, digamos, inadequados em termos de trato e cordialidade. Agora, os problemas da etnia cigana na cidade que surgem quase nunca são perpetrados pelos membros que residem na cidade. São normalmente pessoas que vêm de outros sítios. Mas as ocorrências que vão acontecendo não têm sido graves e a violência física é rara. O que costuma ocorrer são desentendimentos ao nível de consumo em estabelecimentos comerciais, que não têm gerado até agora qualquer onda de violência ou qualquer insegurança por não terem causado prejuízos para a integridade física ou de bens materiais. Há algumas discussões pontuais, mas a PSP consegue sanar a ocorrência. Estas comunidades não são o principal foco de insegurança na cidade, mas requerem alguma atenção e preocupação e devem ser acompanhados, quer pela PSP como pelas restantes instituições.

RC > Considera que juntar uma grande parte da comunidade cigana na mesma zona é uma boa prática?

NM > Não concordo. Talvez no ponto de vista cultural e social faça algum sentido estarem todos juntos e poderem apoiar-se uns aos outros, mas no ponto de vista da segurança não concordo. É mais difícil termos uma atuação num grupo do que em casos mais isolados.

RC > Como comenta as críticas de que até o próprio polícia, por vezes, tem medo de atuar junto das comunidades ciganas?

NM > Isso não faz sentido. Quando as pessoas de etnia cigana cometem algum crime ou o que quer que seja são tratados como toda a gente. São identificados, detidos e os processos seguem os trâmites normais. Não é por isso que deixamos de ir ao bairro e não é preciso, neste momento, nenhum reforço para lá ir. Um carro de patrulha e dois elementos são suficientes para atuar lá com facilidade. Não sinto que os polícias estejam inseguros e também não concordo que haja polícias com medo de atuar. As pessoas são bem-educadas. Às vezes até nos solicitam alguma ajuda com eventuais questões que apareçam. A nossa ação não é nada coerciva, temos um âmbito muito mais administrativo e trabalhamos na prevenção.

RC > Os meios humanos e materiais da esquadra são adequados à atividade da PSP de Alcobaça?

NM > Sim, são adequados. A nível de meios efetivos é óbvio que queremos ter sempre mais, melhor e mais atualizado. Mas para as necessidades, os meios que temos têm sido suficientes para a nossa ação. Em termos de instalações existe alguma necessidade de manutenção, que tem vindo a ser feita mediante as possibilidades. Não há situação urgente ou grave, mas para manter as condições de trabalho e segurança é preciso realizar intervenções de manutenção. Estas situações estão sinalizadas junto do Comando Distrital de Leiria, que depois fará a manutenção.

RC > A profissão de polícia é hoje tão respeitada como antes?

NM > Não. A profissão de polícia não é respeitada tal como outras profissões. Houve um descrédito tanto nos polícias, como nos médicos ou professores. A própria população perdeu um bocado essa noção, só sente essa autoridade quando lhe é incutida a responsabilidade. Antes era “senhor professor” ou “senhor polícia”, hoje em dia já não é bem assim.

RC > Os agentes da PSP de Alcobaça sentem-se seguros?

NM > Sim, claro. Não é por causa de a profissão não ser tão respeitada como antigamente que deixamos de cumprir a nossa missão. A maneira como o fazemos pode ser diferente, mas também há vários anos não havia tanta proximidade entre a polícia e a comunidade. Dantes a Polícia quase não falava com ninguém e isso também podia dar a perceção de autoridade. Esta aproximação é benéfica desde que as pessoas saibam estar, quer seja com o polícia, o professor ou o médico.

RC > Quem é Nelson Matos quando tira a farda de polícia?

NM > É um homem como os outros. Pai, marido, filho… O Nelson Matos com e sem farda também tem filhos na escola, também se preocupa com a segurança dos nossos jovens, também anda na rua.

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