Quarta-feira, Abril 24, 2024
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Gafa: um centro comercial ligado à história de Alcobaça

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 Das 47 lojas disponíveis, 38 estão a funcionar com negócios dedicados à restauração, comércio de roupa e joalharia, estética, perfumaria e cabeleireiro. 

A alcobacense Celeste Rosa começa a manhã com um café e uma torrada no Forno, deambula depois para ver o que há de novo nas montras de lojas de roupa da Joanne ou da Gravata, da sapataria Marypele ou da perfumaria Afrodite e acaba no Minipreço a fazer as compras para o almoço. Da parte da tarde, ainda volta para uma bica no café Pérola. A septuagenária faz, com frequência, esta “maratona” no “velhinho, mas muito eficaz”, Centro Comercial Gafa. 

“Num dia em que as pernas estejam decididas a colaborar, percorro quase as lojas todas. Começo com um bom pequeno-almoço, sigo para as lojas e acabo no supermercado para comprar os legumes para a sopa do almoço”, conta ao REGIÃO DE CISTER. “Penso que a única loja que ainda não visitei foi a das tatuagens. Não vou lá fazer grande coisa, não é?”, graceja. Mas, nem por isso se inibe de espreitar pela montra “quando está lá gente a desenhar no corpo”.A rotina da alcobacense é semelhante à de muitos outros clientes, que diariamente visitam o centro comercial mais antigo da cidade de Alcobaça para comprar de tudo um pouco, almoçar ou simplesmente encontrar velhos amigos para uma conversa. Das 47 lojas disponíveis, 38 estão a funcionar com negócios dedicados à restauração, comércio de roupa e joalharia, estética, perfumaria e cabeleireiro. 

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Os visitantes não são os mesmos de há quatro décadas, quando o Gafa abriu, mas há quem não pense de ali sair. É o caso de Lurdes Fernandes, proprietária da loja de decoração e mobiliário “Inova”, instalada no Gafa há 39 anos. “O meu pai foi um dos construtores do imóvel e adquiriu logo uma loja no único lote que existia na época, o lote J, onde ainda hoje me mantenho”, recorda. A comerciante com mais anos de “casa” lamenta, todavia, o decréscimo de poder de compra e de afluência de público. “Antigamente as pessoas tinham mais facilidade em comprar algo. É óbvio que temos de ter em conta a situação financeira do País e o custo de vida atual. Mas nós, que temos no comércio o nosso ganha-pão, sentimos bastante estas mudanças”, desabafa. 

Contudo, à hora de almoço a realidade parece ser diferente. As esplanadas estão, na maioria dos dias, repletas de jovens e de adultos. “Em período de aulas, os jovens são o lucro dos cafés e restaurantes, mas depois das 14 horas, os corredores voltam a ficar um pouco vazios”, sublinha. Foi por esta razão que Vânia Gonçalves, uma das inquilinas mais recentes do Gafa, decidiu abrir portas apenas em casos de marcação. De acordo com a proprietária da “Cherry Tattoo”, manter as portas abertas era sinónimo “de ficar sentada e ser alvo de alguma curiosidade do público, mas de muito pouco trabalho”. “O cliente que visita o centro comercial com mais frequência é o mais velho e muitos não conhecem ou não têm interesse no tipo de produto que comercializo”, afirma a proprietária da loja 10 do lote L. “A maioria das vezes, perguntavam-me se fazia pedicure ou se era um gabinete de estética. Ficar dias sentada à espera do cliente não é para mim e, por isso, decidi abri apenas por marcação”, sublinha a tatuadora, de 29 anos.

As duas entradas do centro comercial, uma pela Rua Afonso de Albuquerque e outra pela Praça João de Deus Ramos, acabam por ser também uma mais-valia para os negócios, tendo em conta que muitos transeuntes acabam por usar o centro comercial como local de passagem de uma rua para a outra, acabando por “namorar” as montras. Dividido por dois pisos (cave e rés do chão), o Gafa chegou até a acolher, entre 1985 e 2003, a sede da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alcobaça.

De uma forma (quase) unânime, os comerciantes do Gafa reconhecem que são os adultos e os seniores que mais frequentam as instalações. Conquistar novos públicos é, por isso, um dos maiores desafios. “Alcobaça é uma população envelhecida e não é por falta de dedicação dos comerciantes que o projeto não é mais bem-sucedido. As pessoas têm de acarinhar o que é da terra e investir cá em vez de optar por fazer compras em Leiria ou em Caldas da Rainha”, defende Lurdes Fernandes. Para a empresária, abrir o centro comercial durante todo o domingo pode ser uma solução, embora não seja uma opção harmoniosa para todos. “Sou da opinião que deixar as portas do espaço abertas, para que as pessoas tenham oportunidade de ver as montras, é o mais acertado. Criava-se a rotina de as pessoas verem os objetos e voltarem na segunda-feira para comprar”, explica.

Certo é que para os alcobacenses que procuram um presente de última hora ou que não prescindem de uma conversa simpática acompanhada de um café o Centro Comercial Gafa continua a ser um fiel ponto de encontro de gerações, sobrevivendo aos tempos modernos.

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