Quarta-feira, Novembro 27, 2024
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Olga Silvestre: “A sinergia entre Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós está subaproveitada”

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Natural da Cruz da Légua (Pedreiras), a advogada divide a sua vida entre os concelhos de Porto de Mós e Alcobaça, onde possui o seu escritório desde 1991. Embora tenha considerado seguir uma carreira ligada ao jornalismo, a vontade de mudar o mundo e defender quem mais precisa falou mais alto. Ligada a várias causas sociais, é presidente da Comissão Política de Porto de Mós, primeira secretária da mesa da Assembleia Municipal, vogal da Comissão Política Distrital alargada e coordenadora distrital das Mulheres Social Democratas. Aos 55 anos, foi eleita deputada da Assembleia da Republica, integrando as comissões de Defesa Nacional, Cultura e Comunicação, e Trabalho e Segurança Social

Conhecida pelo sentido de serviço ao próximo e à comunidade, um dos cinco parlamentares do PSD pelo círculo eleitoral de Leiria fala, em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, das potencialidades que vê nas parcerias entre os municípios da região. A portomosense defende um olhar mais atento para a coesão territorial, para as acessibilidades e para o Serviço Nacional de Saúde.

REGIÃO DE CISTER (RC) > Chega à Assembleia da República aos 55 anos. Quando é que, efetivamente, despertou para a política?
OLGA SILVESTRE (OS) > O interesse pela política surgiu algum tempo após a conclusão da licenciatura em Direito. Tinha 24 anos. Vim para Alcobaça trabalhar e, olhando para trás, acredito que o desejo de diminuir as desigualdades sociais foi o principal motivo para me ter tornado militante da Comissão Concelhia de Alcobaça do PSD.

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RC > Ser advogado(a) é um palco de entrada para a política?
OS > O facto de sermos advogados dá-nos uma maior bagagem para podermos argumentar com conhecimento de causa e, consequentemente, defendermos as nossas ideias. A profissão de advogado é um ponto de partida, mas não é “boleia” para nenhum estatuto. A persistência é a palavra-chave para atingir qualquer posição. Cheguei a deputada porque há 30 anos abracei a causa pública e porque tive coragem de ouvir “não”. Esta foi a quarta vez que fui candidata a deputada… fui sempre persistente.

RC > Fazer leis, enquanto política, e depois aplicá-las, enquanto advogada, é um risco ou uma segurança?
OS > Pode ser as duas coisas. É uma sensação agradável poder participar no processo legislativo e depois aplicar, ou pelo menos respeitar, essa mesma legislação. Acredito que é uma vantagem, mas o meu percurso enquanto deputada ainda é muito curto, pelo que ainda não tive a oportunidade de experienciar essa realidade. A primeira vez que tive oportunidade de participar mais ativamente no processo legislativo foi agora com o orçamento de Estado.

RC > Qual é a ligação que tem a Alcobaça?
OS > Vim trabalhar para Alcobaça em 1991 e três anos depois fixei aqui a minha residência. Tenho grandes amigos nesta cidade e decidi sediar aqui o meu escritório de advocacia porque tenho um grande apreço por esta cidade. Mas tenho de confessar que o concelho de Porto de Mós é detentor do meu coração.

RC > É mais o que une ou o que separa os concelhos de Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós?
OS > Os concelhos podem e devem aproveitar este triângulo. Mas, esta sinergia entre Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós está subaproveitada e existe uma maior união entre os concelhos de Alcobaça e da Nazaré. Porto de Mós acaba por ficar um pouco de fora devido às suas características muito próprias. No entanto, através do atual presidente de Câmara de Porto de Mós existe um desejo maior de colaborar com Alcobaça e com a Nazaré e dinamizar atividades em comum que consigam beneficiar todos os envolvidos.

“Alcobaça e Porto de Mós são concelhos que apostam fortemente na cultura e este pode ser um vínculo a explorar”

RC > Que projetos elenca que podem transformar estes três concelhos numa região?
OS > Projetos ligados ao património e à cultura devem ser as apostas mais diretas. Alcobaça e Porto de Mós são concelhos que apostam fortemente na cultura e este pode ser um vínculo a explorar. Mas há também espaço para uma simbiose entre a praia e a serra, proporcionando uma parceria entre a Nazaré, que tem crescido exponencialmente enquanto marca do turismo, e Porto de Mós, que prima também pela sua beleza natural. Seja qual for o ângulo de exploração, o turismo deve ser um foco de todas as regiões. Quanto mais propostas turísticas e culturais existirem, mais pessoas vão querer habitar e visitar estas regiões, o que consequentemente vai aumentar a atividade económica local e motivar o desenvolvimento da região. Acredito que o futuro passa por aí e não apenas por investimentos públicos. O investimento particular é determinante para o desenvolvimento de uma comunidade.

RC > Está ligada a várias causas sociais e faz voluntariado em várias associações. Este é um dever político, profissional ou pessoal?
OS > Estar envolvida neste projetos é a minha missão. Ser solidária e ajudar quem precisa sempre foi o meu lema de vida. Mas, atenção: quando me refiro a “quem precisa” não estou apenas a elencar cidadãos com carência económica. Falo de carências de afeto, de algum tipo de apoio e até de um sorriso ou de uma palavra de conforto. Exemplo disso é o projeto da Universidade Sénior de Porto de Mós, criado há cerca de uma década e que tem sido muito importante no apoio à comunidade. Tenho conhecimento de alunos que tomavam antidepressivos e passavam os dias em casa. Hoje são felizes, participam em todas as atividades e são os primeiros a sublinhar a importância do projeto, que era uma verdadeira carência na comunidade. A par destes projetos, estou também envolvida na Associação de Desenvolvimento Comunitário de Porto de Mós (AC- Mós), enquanto presidente da Assembleia Geral.

RC > Apoiou Rui Rio nas eleições diretas. Como olha para os deputados que foram eleitos nas legislativas e depois apoiaram Montenegro?
OS > O PSD é um partido democrático e plural, acredito convictamente que foi eleito o líder com mais competência técnica e que melhor servirá o partido e o País. A pluralidade de escolha é positiva e somos livres de querer ficar ao lado daqueles em quem acreditamos, sem constrangimentos.

“A nossa economia tem vindo a crescer, mas isto só são boas notícias se os saldos forem canalizados para o bem-estar das pessoas”

RC > Acredita que o PSD em Porto de Mós vai ganhar as próximas eleições autárquicas com maioria absoluta?
OS > Estou muito confiante. Com este executivo, Porto de Mós está no mapa e com um dinamismo que nunca teve. Acredito que um futuro próspero para o concelho passa pelo PSD.

REGIÃO DE CISTER (RC) > A mulher já é mais do que um número por cumprir no âmbito da Lei da Paridade? Ou já ultrapassámos essa fase?
OS > Já foram dados grandes passos nesse sentido, mas há ainda um longo caminho a percorrer até que seja uma realidade. Atualmente, as mulheres ainda têm de se impor pela competência e pela persistência. A Lei da Paridade mudou, mas infelizmente ainda existem listas nas quais as mulheres ocupam lugares por imposição legislativa e não por consequência das suas competências. Tenho esperança que num futuro próximo as mulheres venham a ocupar lugares nos partidos exclusivamente pelas suas capacidades e possam demonstrar que são tão capazes quanto os seus companheiros.

RC > Como é que esse espaço das mulheres na política pode ser alcançado?
OS > Em primeiro lugar, as mulheres devem demonstrar que são competentes e estar disponíveis para aceitar as oportunidades. É igualmente importante que sejam ativas na comunidade no sentido de começarem a ocupar lugares de liderança. É imperativo que estes passos sejam dados pois, caso contrário, a realidade vai continuar a ser uma mulher e muitos homens a concorrer para o mesmo cargo. Na organização das listas, a tendência é sempre indicar mais homens que mulheres. O que devemos fazer para inverter a situação? Conquistar o nosso espaço. As mulheres estão cada vez mais despertas para o movimento associativo, mas conciliar a atividade cívica com a vida familiar é um desafio acrescido face à grande maioria dos homens.

“O investimento particular é determinante para o desenvolvimento de uma comunidade”

RC > Enquanto deputada à Assembleia da República sente que tem de vincar mais as suas opiniões por ser mulher?
OS > Diria que temos de demonstrar que somos diferentes e que isso não influencia o nosso desempenho. Somos respeitadas, mas temos de demonstrar que estamos naquele lugar por mérito. Na Assembleia da Republica nunca me senti menos respeitada por ser mulher, somos tratadas de igual para igual. Acredito que a partir daqui a sociedade vai evoluir no sentido de dar voz à mulher, quer no movimento cívico quer na política.

RC > No último congresso nacional do PSD, apontou desigualdades sociais na região. Temos um País com regiões de primeira e outras de segunda?
OS > Acredito que sim. Há situações que não podem acontecer porque influenciam diretamente o futuro dos jovens. Os estudantes do interior não têm as mesmas oportunidades que os estudantes das grandes cidades. Muitas vezes há grandes alunos que ficam aquém das suas capacidades porque não lhes foi dada uma oportunidade igual aos demais. É importante sublinhar que não estamos a falar de um concelho do interior, porque Porto de Mós não vigora nessa categoria e esta realidade existe na freguesia de São Bento. O Governo tem de investir na igualdade de oportunidades e isso pode começar por garantir que todas as crianças têm acesso a rede móvel.

RC > O programa “Trabalhar no Interior” é um bom exemplo do caminho a seguir para combater a desertificação dessas regiões?
OS > É preciso ir além. Na minha opinião, temos de encarar a desertificação do interior e a coesão territorial de frente. Isto é, aceitar como uma realidade e estudar intervenções. Sem dúvida que os incentivos fiscais na criação de emprego e na instalação de população são uma mais valia, mas não chegam. Quem é que vai viver para o interior se não tiver médico de família, acessibilidades ou rede de comunicações? Não basta dizer que existem incentivos fiscais se tudo o resto falha. Em primeiro lugar a aposta deve ser em melhorar a qualidade de vida dos habitantes e depois iniciar um projeto para cativar novos habitantes.

“As mulheres estão cada vez mais despertas para a política. Temos opiniões que devem ser ouvidas porque são únicas”

RC > Nas suas intervenções, tem falado também muito no desinvestimento na área da saúde na região. Como olha para o Serviço Nacional de Saúde? Considera que devia ser gerido de outra forma?
OS > Defendo a iniciativa privada, como social-democrata que sou. Mas defendo também a necessidade de serviço público. Ou seja, se houver a possibilidade de uma gestão mais eficiente através de gestão privada, então essa deve ser a opção assumida. A realidade é que num hospital privado, o serviço é de excelente qualidade e não há prejuízo, enquanto no Serviço Nacional de Saúde é necessária uma maior fiscalização. Os profissionais são excelentes, mas não basta as competências se depois não há meios para cumprir as suas tarefas.

RC > A base área de Monte Real, a Linha do Oeste e o IC2 são dossiês que a preocupam? As acessibilidade são o grande desafio de futuro para esta região?
OS > Sem dúvida. O IC2 é uma vergonha. O avançado estado de degradação causa insegurança e esta já não é uma questão menor. Por sua vez, a Base Aérea de Monte Real é uma ambição de longos anos. Parece-me que há abertura do Governo, mas no que toca à concretização desta vontade… teremos de esperar para ver. A Linha do Oeste é outra luta e a sua requalificação é urgente. Dessa medida resultará um desenvolvimento acentuado para a região e um importante passo na proteção do ambiente.

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