Celebrar o Natal no dia 6 de janeiro, jogar futebol com a mão ou preferir um prato de vegetais a um bitoque pode parecer “bizarro” para a maioria das crianças. Não para os alunos da turma C, do 1.º e 3.º ano, do Centro Escolar de Alcobaça, na qual estes comportamentos já são considerados “banais”. O facto de haver seis nacionalidades diferentes na mesma turma ajuda a explicar o inédito.
Celebrar o Natal no dia 6 de janeiro, jogar futebol com a mão ou preferir um prato de vegetais a um bitoque pode parecer “bizarro” para a maioria das crianças. Não para os alunos da turma C, do 1.º e 3.º ano, do Centro Escolar de Alcobaça, na qual estes comportamentos já são considerados “banais”. O facto de haver seis nacionalidades diferentes na mesma turma ajuda a explicar o inédito.
Nesta sala de aula, a mesma resposta pode ser ouvida em cinco línguas diferentes uma vez que a turma, constituída por 17 alunos, inclui crianças provenientes da Moldávia, da Índia, do Quénia, do Brasil, de França e de Portugal. “Costumo dizer que temos aqui uma pequena parte do mundo representada. É uma turma verdadeiramente rica em diversidade cultural”, revela a professora Helena Coelho ao REGIÃO DE CISTER. Embora estas crianças já se encontrem integradas na comunidade escolar, nem sempre foi este o cenário. A docente recorda que, nos primeiros dias de aulas, os irmãos indianos passavam grande parte do período de aulas a chorar, recusando-se a interagir com os colegas. “Confesso que estava em pânico, porque não sabia o que fazer para ajudar. Não comiam na cantina, apenas falavam um com o outro e não conseguiam explicar a razão pela qual choravam”, relembra.
A solução encontrada pela professora foi convidar a mãe dos alunos para assistir às aulas e dedicar algum do seu tempo pessoal ao estudo da cultura indiana. “A mãe entendeu a dinâmica da escola e transmitiu aos filhos a segurança e a tranquilidade para começarem a conviver. Adaptámos o menu à dieta deles e hoje até já se deliciam com alguns pratos da gastronomia portuguesa”, confessa, entre risos.
No entanto, a língua continua a ser uma barreira na comunicação dos meninos indianos, que ainda recorrem à velha técnica do “explicar através do gesto” ou… à língua inglesa. “Tento sempre contrariar esta tendência, estimulo a comunicação em Língua Portuguesa e insisto que este lema seja utilizado também em casa”, declara a docente.
Para os irmãos Máximo e Mário, que chegaram da Moldávia em agosto, esta é uma dificuldade praticamente ultrapassada. Nos primeiros dias de aulas, as crianças fizeram-se acompanhar de um tradutor profissional para conseguir comunicar, mas cerca de meio ano depois, já comunicam com mais facilidade.
Os métodos de ensino utilizados nesta turma também estão fora do padrão descrito como “normal”. “Esta é uma turma que tem de aprender através de recursos visuais. Uma vez que são meninos que precisavam em primeiro lugar de aprender a falar, tive de inverter o sistema e começar por ensinar palavras banais antes do alfabeto”, sublinha Helena Coelho. Jogos lúdicos, estímulos musicais e trabalhos de expressão plástica são alguns dos “truques” utilizados pela professora para contornar as barreiras culturais e de comunicação.
Acolher os encarregados de educação destes alunos e expor o sistema de ensino português é também uma importante ferramenta para conseguir conquistar a confiança e dedicação destes alunos. “Estes pais querem garantir o sucesso dos seus filhos no país estrangeiro e por isso são rigorosos e exigem dedicação”, revela.
Ao toque da campainha, o “adeus” espontâneo dos alunos é feito em diferentes línguas e não apenas em português. Mas neste caso, Helena Coelho não repreende os “seus” meninos, sublinhando que é também importante não tentar “eliminar toda a nacionalidade” destas crianças.