Quinta-feira, Junho 26, 2025
Quinta-feira, Junho 26, 2025

Covid-19: Professoras da região aceitam desafio de ensinar através da televisão

Data:

Partilhar artigo:

Situações únicas obrigam a medidas excecionais. Foi este o lema que levou várias professoras do concelho de Alcobaça a colocar de lado os seus receios e aceitar o desafio de participar no projeto “Estudo em Casa”, trocando a sala de aula pelos estúdios de televisão. À frente das câmaras ou a apoiar na produção dos conteúdos transmitidos pela RTP, este é um desafio para o qual ninguém estava preparado.

Situações únicas obrigam a medidas excecionais. Foi este o lema que levou várias professoras do concelho de Alcobaça a colocar de lado os seus receios e aceitar o desafio de participar no projeto “Estudo em Casa”, trocando a sala de aula pelos estúdios de televisão. À frente das câmaras ou a apoiar na produção dos conteúdos transmitidos pela RTP, este é um desafio para o qual ninguém estava preparado.

“Este é um projeto que resulta de uma necessidade urgente. Costumo dizer que estamos em missão porque o País chamou por nós e não houve tempo para preparações ou grandes reflecções no momento de abraçar este projeto”, conta a beneditense Vera Lopes, professora de espanhol. As gravações das aulas decorrem às segundas-feiras num período de 30 minutos, sem possibilidade de um segundo take. Toda a preparação a nível de vestuário ou maquilhagem é realizada de forma autónoma pelas professoras, em casa, pois o cronómetro marca apenas 30 impiedosos minutos. “Não há oportunidade de repetir, gravamos tudo sem cortes e perante dificuldades, temos de improvisar e dar continuidade à aula”, revela a docente, que leciona na escola Fernando Casimiro Pereira da Silva, em Rio Maior.

Região de Cister - Assine já!

Uma vez que é a única professora de Espanhol naquela escola e consciente da impossibilidade de “abraçar sozinha um projeto de tamanha dimensão”, a beneditense convidou a sua colega  Rita Duarte, de Leiria, para formar “uma dupla eficaz e focada”. “A Rita foi minha colega de mestrado e como já conhecia um pouco do seu percurso profissional considerei desde logo que seria uma boa aliada”, recorda. Para Vera Lopes, o apoio da equipa é muito importante para diminuir ansiedade, resultante da inexperiência de estar diante das câmaras e da ausência do feedback dos estudantes. “Estamos habituados a estar em sala de aulas e a conhecer as capacidades e dificuldades do nosso público. Neste projeto isso não se verifica e resulta num aumento da insegurança”, confessa.

Além do inflexível calendário de gravações, a beneditense tem ainda de gerir funções enquanto diretora de turma e mãe de duas crianças pequenas, que também requerem acompanhamento e estão a sair prejudicadas com toda esta situação. “Infelizmente não tenho fins de semana ou feriados e todo o tempo acaba por ser dedicado a funções profissionais. Preciso de mais 24 horas num dia para acompanhar de forma eficaz os meus filhos nas tarefas”, desabafa.

Esta é uma realidade bem conhecida da alcobacense Susana Almeida, responsável pelas aulas de Matemática. “Este ano não tive direito a Domingo de Páscoa e os fins de semana são tão atarefados quanto os restantes dias. Mas é preciso focar no bem maior que é garantir o acesso à educação a todos os alunos”, sublinha. A docente, a lecionar na escola Fernando Casimiro Pereira da Silva, em Rio Maior, tem marcado presença no estúdio Luíz Andrade, nas instalações da RTP, todas as quintas-feiras para a gravação de duas aulas. Contudo, as gravações vão duplicar e, consequentemente, o “trabalho de casa” vai exigir muito mais tempo. “Cada aula exige muita preparação prévia e o acumular de funções torna-se cada vez mais desafiante”, declara. Susana Almeida confessa que apesar de já estar praticamente a meio do número de aulas calendarizadas, o desafio não é menor e “apenas se aprende a equilibrar as tarefas”. “Não tem sido um percurso fácil, mas o crescimento a nível profissional e até pessoal tem sido enorme. A Telescola trouxe uma lufada de ar fresco para os mais novos e demonstrou que somos capazes de nos adaptar a diferentes realidades”, afirma. 

Mas nem só diante das câmaras se leva a escola a casa dos alunos. As aulas exigem várias horas de preparação nos bastidores, nomeadamente em busca de conteúdo dinâmico, cativante para as diferentes faixas etárias e informativo. A alcobacense Susana Traquina não pensou duas vezes em aceitar participar do projeto nacional… mas longe dos holofotes. “O projeto caiu no nosso colo e a decisão teve de ser tomada com rapidez. Não hesitei em apoiar a comunidade educativa, mas não me sinto à vontade com a exposição e por isso optei por ficar ligada à parte da produção”, explica. Mas o trabalho não é menor. De acordo com a professora de Português, é necessário desconstruir métodos de ensino e procurar novas formas de conseguir cativar a atenção do aluno, que agora possui a capacidade de “fugir” à escola com o simples ato de desligar o televisor. “Preparar conteúdo exige horas de dedicação e faltam elementos fundamentais como a interação e a capacidade de olhar para o aluno e entender se precisa de uma nova explicação ou de uma abordagem diferente”, lamenta.  

Para Susana Traquina, a urgência de pôr o projeto em funcionamento eliminou a possibilidade de realizar um período de adaptação, que poderia ajudar a melhorar a sua eficácia. “Não é um projeto perfeito porque todos temos a noção que não houve um período de análise e experiência necessário. Mas acredito que é pertinente e que é uma mais valia para os estudantes dada a situação atual”, argumenta. Atualmente, além de integrar a equipa de Português da iniciativa “Estudo em Casa”, Susana Traquina cumpre funções enquanto diretora de turma e professora de 100 alunos com os quais realiza duas sessões síncronas por semana.

A dedicação destas professoras ao projeto tem como único objetivo garantir que “nenhum aluno é esquecido ou negligenciado”, mas não visa substituir o trabalho de proximidade que deve ser realizado pelos professores. “As transmissões televisivas têm o objetivo de complementar os ensinamentos dos professores. Não é possível substituir um acompanhamento detalhado, na medida do possível, que cada escola quer disponibilizar. Estamos a dar o nosso contributo, mas o sucesso só será alcançado com o trabalho de todos: pais, escolas, estudantes e a Telescola”, conclui.

Do concelho de Alcobaça, participam ainda no projeto os docentes Paula Lourenço, Vânia Mateus, João Jorge, Cláudia Santos, Micaela Penas, Liliana Soares e Clara Cruz.

Fotografia: Joaquim Dâmaso/Região de Leiria

AD Footer

Primeira Página

Artigos Relacionados

Cláudio Azoia é o novo presidente do HC Turquel

Cláudio Azoia foi eleito, na passada sexta-feira, presidente do Hóquei Clube de Turquel. O ex-vogal da Direção do...

Montes acolheu festa dos Bombeiros de Pataias

Nos Montes, a emoção foi bem visível, no passado dia 15, no final do discurso do presidente da...

APA faz derrocadas em rocha com risco de rutura iminente na Nazaré

Por existir, na arriba do Sítio, uma massa rochosa “com fortes sintomas de instabilidade e indícios de rotura...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!