Falar da história da “Loja do Sr. Tito”, oficialmente denominada como “Casa Sousa Lopes”, é recordar alguns dos momentos mais marcantes da freguesia de Turquel. Aquela que é hoje uma loja de venda de utilidades domésticas e de pronto a vestir foi outrora um espaço de comércio de géneros alimentares, de loiça e até serviu de espaço a um posto de saúde improvisado para os casos mais urgentes.
Falar da história da “Loja do Sr. Tito”, oficialmente denominada como “Casa Sousa Lopes”, é recordar alguns dos momentos mais marcantes da freguesia de Turquel. Aquela que é hoje uma loja de venda de utilidades domésticas e de pronto a vestir foi outrora um espaço de comércio de géneros alimentares, de loiça e até serviu de espaço a um posto de saúde improvisado para os casos mais urgentes.
Depois de regressar da tropa, em 1934, Tito Sousa Lopes decidiu abrir uma pequena loja de comércio na rua principal da vila de Turquel. Uma vez que a agricultura, um dos setores económicos mais pujantes na época, não era uma opção devido a problemas de saúde, o turquelense decidiu arriscar e abrir uma loja para um público-alvo distinto. “Na época, a maioria das lojas comercializava maioritariamente vinho e o meu pai optou por vender bens alimentares e produtos de uso doméstico, cativando, assim, o público feminino”, conta Avelino Lopes. Foi, deste modo, que o empresário aumentou a carteira de clientes e conquistou a fidelização da comunidade.
Com a chegada da II Guerra Mundial e perante o aumento de carência entre os populares, Tito Sousa Lopes decidiu utilizar a loja para ajudar a colocar o pão na mesa dos turquelenses. “O racionamento das senhas foi uma das fases mais negras da história desta loja. Havia muita fome… Quem tinha senhas, não tinha dinheiro para adquirir o bem e o contrário também acontecia”, recorda. Perante o cenário, o comerciante criou um “entreposto de gestão de senhas”, para cobrir as diferentes necessidades da população e deu início ao sistema de créditos. “Recordo-me de ver o meu pai a sair de casa, de noite e de bicicleta, para ir buscar sacos de arroz ou de açúcar a Valado dos Frades. Ele não podia permitir que faltasse comida para os clientes”, conta Avelino Lopes.
Anos mais tarde, em 1940, o turquelense chegou a ser considerado um dos maiores comerciantes do distrito de Leiria e em 1979 reabriu a loja com novas instalações a poucos metros da anterior.
Face à necessidade de se adaptar aos novos tempos, a “Loja do Sr. Tito” passou a comercializar loiça e tecido para depois iniciar a venda de roupa. “Lembro-me de ser criança e receber gente que vinha pedir para o meu pai administrar uma vacina, porque na época não existia Centro de Saúde. Recordo-me de ver a loja cheia de sacos de arroz e até de loiça. Esta loja já teve muita história e sempre conseguiu adaptar a oferta à procura”, explica, sublinhando que foi também o primeiro espaço comercial de Turquel a vender rádios.
Após a reforma de Tito Lopes, a nora assumiu a gestão de negócio, que perdura aos dias de hoje. Fernanda Lopes adaptou o legado do sogro aos novos tempos, mas é certo que o negócio de família termina com esta geração. “Os meus filhos já têm a sua vida orientada. Não fica em família, mas o trespasse do espaço é uma opção”, revela.
O futuro é incerto, mas a família acredita que o legado do Sr. Tito não será esquecido. “Há uns anos veio cá um emigrante, que queria pagar um empréstimo que o meu pai deu há 40 anos e que, segundo ele, o salvou da fome. Há gente que vem cá porque tem memórias de infância do espaço, embora já não viva em Turquel. A memória do meu pai e o seu trabalho não serão esquecidos se a loja encerrar portas”, confessa Avelino Lopes ou Tito para os turquelenses.