Quinta-feira, Março 28, 2024
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Rota do IC2 entre Venda das Raparigas e São Jorge

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Ao volante do REGIÃO DE CISTER percorra os 27 quilómetros do troço do Itinerário Complementar n.º2, vulgarmente conhecido como IC2, que atravessa os concelhos de Alcobaça e Porto de Mós, e que foi inaugurado há 56 anos. Partimos à descoberta das histórias dos que percorrem o IC2 diariamente em trabalho, dos que decidiram ali sediar o seu negócio e dos que moram junto a esta estrada “que não dorme”.

Ao volante do REGIÃO DE CISTER percorra os 27 quilómetros do troço do Itinerário Complementar n.º2, vulgarmente conhecido como IC2, que atravessa os concelhos de Alcobaça e Porto de Mós, e que foi inaugurado há 56 anos. Partimos à descoberta das histórias dos que percorrem o IC2 diariamente em trabalho, dos que decidiram ali sediar o seu negócio e dos que moram junto a esta estrada “que não dorme”.

A odisseia começa na freguesia da Benedita, onde o IC2 assume uma grande importância devido ao forte setor empresarial ali instalado. Para aqueles que já percorreram longos quilómetros de estrada ou que se preparam para iniciar uma viagem, “O Bigodes” é paragem obrigatória. A história deste espaço de restauração surgiu em 1965, no primeiro ano de funcionamento do IC2. Depois de verificar a crescente afluência de motoristas naquele troço, o “Sr. Bigodes”, como era conhecido o proprietário, decidiu abrir um espaço que oferece serviços de restauração e de cafetaria a partir das 5 da manhã. “O nosso parque de estacionamento é vasto e muitos camionistas pernoitam aqui. Temos condições para que tomem banho e a sopa está pronta 24 horas por dia porque estes profissionais nunca têm horários certos”, conta Marco Marques, gestor do espaço. Pel’“O Bigodes” passam diariamente 500 pessoas, embora no verão este número tenha tendência a aumentar. “Somos uma equipa com 34 pessoas, mas já conhecemos os rostos mais frequentes e até os respetivos pedidos. Creio que este espaço já está associado à Benedita e isso enche-nos de orgulho”, declara o empresário.

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As “bermas” do IC2 são “solo fértil” para a indústria. O comércio automóvel ocupa a maioria dos lotes disponíveis, mas a restauração tem vindo a ganhar terreno ao longo dos últimos anos, com opções para os gostos mais requintados ou para aqueles que vivem em constante frenesim.

Alguns quilómetros mais à frente, encontramos José Inácio a cumprir um ritual com vários anos: beber um café e comer um pastel de nata dentro do seu carro… com vista para o IC2. Em 1962, quando foi forçado a viajar para a Guiné para cumprir serviço na Guerra Colonial, o beneditense recorda a chegada das máquinas que assinalavam o início da empreitada de construção do itinerário. “Nas cartas que troquei com a minha família, contaram-me que a obra durou dois anos. Quando regressei, parecia um mundo novo, com o trânsito muito ativo para esta zona”, conta. Ainda assim, em 1976, José Inácio decidiu construir a sua casa junto à “estrada 24 horas”, porque na verdade aquele era, entre os terrenos herdados, o que tinha melhor localização e porque “ver a vida passar, através dos carros já se tornava uma satisfação”. A família cresceu e o filho, Luís Ferreira, relembra as brincadeiras de infância junto ao IC2, que impunha respeito. “As brincadeiras consistiam em contar os carros, assim como os modelos e as marcas. Também brincávamos à bola, mas quando ia para a estrada, era um caso para esquecer”, conta. Pai e filho asseguram que o ruído nunca tirou o sono a ninguém, mas revelam que já enfrentaram situações peculiares. “Recordo-me de regressar a casa, após um jantar, e ver um camião no interior do jardim. Despistou-se e levou parte do muro à frente, por pouco que não entrava pela sala”, recorda Luís Ferreira, agora entre risos. O herdeiro já saiu da casa onde viveu durante 31 anos, mas os pais ali permanecem, onde todos os dias, pelas 18:30 horas, ouvem a missa sentados num carro antigo estacionado à berma do IC2. 

A indústria da pedra “ganha” entre os setores empresariais sediados no IC2. Os grandes blocos de pedra branca destacam-se da paisagem e comprovam que esta é uma área de predominância na região, não fosse a proximidade às Serras de Aire e Candeeiros. A estrada do IC2 atravessa também as freguesias de Turquel e Aljubarrota. Sabemos que estamos a entrar no concelho vizinho, Porto de Mós, quando as paisagens verdejantes se tornam mais comuns. 

É então tempo de fazer uma nova paragem, desta vez no “24 Horas”. O espaço é, há vários anos, ponto de encontro para muitos camionistas. É o caso de Fernando Francisco, de 71 anos, que continua a estacionar ali para a pausa do almoço. O portomosense afirma, com orgulho, que conhece o IC2 de olhos fechados, resultado das várias vezes que percorreu a via em trabalho. “A bordo da minha camioneta vou até ao fim do mundo. Já vi muita coisa triste acontecer na estrada, inclusive no IC2 que apresenta condições vergonhosas para o País”, lamenta. Chegou a conduzir com apenas duas horas de sono, mas a pandemia veio roubar o trabalho e agora transporta pedra até à freguesia de Serro Ventoso com “muito menos frequência”. “Há dias em que trabalho e outros que não. Ser camionista nos dias que correm não se compara há 20 anos. Antigamente eu e os meus colegas parávamos em todas as tascas ao longo do caminho. Hoje em dia isso é raro e encontro a maioria dos meus colegas de profissão por acaso e muito raramente”, partilha. Ainda que o trabalho permita horários mais flexíveis, Fernando Francisco gosta de manter a rotina e por isso a conversa tem de ser interrompida pela pressa de “ir em busca de almoço”. Mas antes de partir, aconselha a “conduzir com prudência porque o IC2 é muito traiçoeiro”. 

Os últimos quilómetros do IC2 no concelho de Porto de Mós atravessam as freguesias de Pedreiras e Calvaria de Cima. A maioria das empresas ali instaladas dedicam-se ao comércio ou à reparação de automóveis. Perto do horário de almoço, o fluxo de camiões é mais notável e embora a sinalização no troço convide a circular a uma velocidade “moderada”, os profissionais aproveitam a diminuição do trânsito de veículos ligeiros para reduzir rapidamente a distância ao destino. Para todos aqueles que não partilham da mesma pressa, a buzina é a “arma” perfeita, que convida (de forma pouco cordial) a sair da frente. 

A viagem do REGIÃO DE CISTER termina na freguesia da Calvaria de Cima, na localidade de S. Jorge. Mas a viagem pelo IC2 podia continuar até ao distrito do Porto. Os 27,4 quilómetros que separam as freguesias da Benedita (Alcobaça) e de Calvaria de Cima (Porto de Mós) podem ser percorridos, a uma velocidade legal, em pouco mais de 24 minutos. Mas se quiser parar e carimbar o “passaporte” em alguns dos espaços históricos do itinerário e conhecer a história daqueles que viram a evolução do IC2, planeie dedicar um pouco mais tempo… mas sempre com prudência.

Obras prometidas mas…

Diz a sabedoria popular que “quem espera, desespera”. É o caso da população que aguarda, há vários anos, a requalificação do IC2. O mau estado do piso daquela estrada já motivou vários tipos de protesto, inclusive uma marcha lenta, no passado mês de março, entre o troço da Benedita e Aveiras de Cima. 

A Infraestruturas de Portugal (IP) prometeu lançar em março o concurso público para a empreitada de requalificação do IC2/EN1 entre o nó da Asseiceira e a zona urbana de Freires, mas até à data nada aconteceu. Trata-se de um troço com uma extensão total de cerca de 20,3 quilómetros que atravessa os concelhos de Rio Maior e Alcobaça, nos distritos de Santarém e Leiria. A empreitada, avaliada em cerca de 7 milhões de euros, contempla a reformulação de cinco interseções, substituindo os atuais cruzamentos por rotundas, e “uma reabilitação profunda do pavimento, bem como de todas as infraestruturas de drenagem e instalação de equipamentos de sinalização e segurança”. Cinco meses depois, o projeto continua sem ver a luz do dia. Até ao fecho desta edição, não foi possível obter uma declaração da IP sobre o assunto.
Em 2014, o IC2 foi apelidado de “Corredor da Morte”, tendo somado na última década, apenas no norte do distrito de Leiria, 77 mortes. 

 

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