Desde o passado sábado que João Pedro está em Málaga, na vizinha Espanha, a trabalhar como cantor num resort de cinco estrelas. Foi em criança que o pataiense, de 29 anos, assumiu a sua homossexualidade, mas admite as dificuldades que o preconceito causou até ser adolescente.
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“Quero dizer a todas as pessoas que não entendiam, que hoje estão perdoadíssimas”, disse ao REGIÃO DE CISTER, antes de rumar ao novo trabalho que o vai ocupar nos próximos seis meses.
Numa vila como Pataias, João Pedro não encontrou a compreensão que enfrentou em casa. “Sempre fui aceite pela família, que me dizia que da porta para fora era uma selva”, conta o cantor, que hoje reside na vizinha freguesia da Moita.
Tinha a ambição de trabalhar no mundo do espetáculo em cruzeiros, para conhecer o mundo, “porque nunca quis ser famoso”.
Quando começou, nas rotas do Mediterrâneo no verão e do Brasil no inverno, aprendeu quatro línguas em oito meses. Quando está embarcado, responde pelo nome Pedro “porque os estrangeiros não conseguem dizer João, dizem Joau”, brinca o cantor, que acumulou durante anos o trabalho numa superfície comercial durante o dia com a formação profissional à noite.
Quando não está em resorts ou em cruzeiros, João Pedro atua no Glitz Club, na Boavista, em Leiria, onde dá corpo a Jessy Pedroza. Começou a fazer “drag queen” aos 16 anos, uma arte para a qual lhe serviram os conhecimentos que adquiriu tanto no curso de animação, como no de cabeleireiro. A isso juntou-se o gosto e jeito pela maquilhagem porque a voz é sempre a sua, sem playback.
A pandemia foi particularmente difícil para o jovem adulto, que estava num cruzeiro no Brasil quando, em março de 2020, o mundo praticamente parou. Ali esteve de quarentena, sem poder regressar a Portugal para os funerais do pai, da avó e do avô. A morte da avó, que o ajudou a criar, custou-lhe especialmente. É da antiga empalhadeira que guarda as melhores memórias.
Cantou e tocou órgão nas igrejas de Pataias e Martingança desde os 7 anos, mas aos 18, quando fez o crisma, “o padre praticamente disse que não era bem vindo”, um episódio que João Pedro acredita, com humor, ter a ver com preconceito do pároco, o seu à vontade e o cabelo comprido que usava naquele tempo.
A intolerância continua a ser uma realidade em muitos momentos, mas João Pedro não se deixa afetar. “Sejam felizes mas trabalhem a mentalidade. Saiam daqui, viajem um bocadinho”, recomenda o cantor, que segue a máxima “quem não te acompanha só te está a atrasar”, que lhe segredava a sábia avó.