Os primeiros três meses foram de sacrifício. Caminhar uma hora por dia, quase todos os dias, tinha sido um propósito para me manter saudável, para continuar a poder andar sem mais cirurgias, a mexer-me sem dores e a respirar sem esforço.
Ao fim deste período, durante o qual cada passo me parecia um pesadelo e cada minuto uma eternidade, dei por mim a sorrir sempre que calçava as sapatilhas e a desejar que o tempo do passeio se eternizasse.
Caminhar deixou de ser um exercício ou uma necessidade, mas um prazer, por vezes partilhado e com gargalhadas e desabafos à mistura, outras sozinha e outras ainda com a cabeça nas nuvens ou numa qualquer melodia que me toca ao ouvido.
Por vezes ouço uma qualquer história ou reflexão num podcast, noutras invento diálogos e escrevo na memória frases que nunca de lá hão-de sair ou outras que hei-de copiar para algum sítio.
Ralho comigo e absolvo-me. Zango-me e faço as pazes com o mundo e com a vida, interrogo-me e procuro respostas, deslumbro-me e agradeço a natureza que me rodeia.
E, ainda melhor que tudo isto, descobri, no outro dia, que caminhar não só me ajuda a ver melhor, como ajuda toda a gente. Porque ao caminhar oxigenamos o corpo todo e todos os órgãos, incluindo os olhos que melhoram com cada passo.