Até ao final deste ano ou no início de 2024, a tutela do Museu Dr. Joaquim Manso passa para responsabilidade municipal. O anúncio foi feito pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, no passado dia 23, na apresentação pública da reorganização da gestão dos museus, monumentos e património cultural.
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A Câmara da Nazaré só aceita receber a gestão do espaço depois de concluídas as obras de requalificação, que decorrem sob responsabilidade da Direção Geral de Cultura do Centro, explicou ao REGIÃO DE CISTER o vereador da Cultura, Manuel António Sequeira, que garante que “as obras estão a decorrer a bom ritmo”. A intervenção ronda 1 milhão de euros.
Assim que a tutela for municipal, o Estado assume o pagamento dos salários dos sete colaboradores e as despesas de manutenção, cabendo ao município a gestão do espaço, bem como a escolha de um diretor. O espólio do museu passa a ser propriedade municipal.
Manuel António Sequeira garante que o objetivo na gestão do Museu Dr. Joaquim Manso é dar “maior amplitude” à ligação dos nazarenos com o mar. “Aquilo é a nossa história”, resume o vereador.
As coleções do Museu Dr. Joaquim Manso documentam a identidade histórico-cultural da região da Nazaré, desde a pré-história à atualidade, através de três momentos principais: a história e a lenda, o mar com as suas embarcações tradicionais e o traje. No âmbito da etnografia marítima, vertente dominante do acervo do museu, é possível conhecer o património náutico de vários pontos do litoral português, com embarcações e apetrechos de pesca.
O percurso expositivo inicia-se com vestígios materiais dos tempos pré-históricos (paleolítico, neolítico, idades do bronze e do ferro), da época romana e do período paleocristão. Há elementos arquitetónicos da Igreja de São Gião, atribuída ao século VII, uma escultura de São Sebastião, em pedra calcária, dos fins do século XV.
Encontram-se referências à Pederneira, primitiva vila medieval que, além de ter recebido Foral de D. Manuel I em 1514, foi também um importante porto e estaleiro naval, sobretudo no tempo dos Descobrimentos.
O culto mariano que se desenvolveu no Sítio também está presente, com a iconografia do milagre de Nossa Senhora da Nazaré que, segundo a lenda, teria salvo o cavaleiro D. Fuas Roupinho de cair no mar, quando perseguia um veado em dia de nevoeiro.
A temática da etnografia marítima é a vertente dominante da exposição, com destaque para um conjunto de miniaturas de embarcações tradicionais da Nazaré. A pintura e escultura sobre a vila e as suas gentes, bem como fotografias de Álvaro Laborinho (1879-1970) da primeira metade do século XX são outros pontos de interesse do Museu, que abriu ao público pela primeira vez em 1976. Está instalado, desde 1972, numa moradia do princípio do século XX – a antiga casa de veraneio do Dr. Joaquim Manso, escritor e jornalista, fundador do Diário de Lisboa.
O Museu Dr. Joaquim Manso integra um lote de sete museus e mais de 60 monumentos e sítios que são considerados “património classificado como de interesse nacional, de interesse público ou de interesse municipal e que vão passar para responsabilidade dos municípios.
O Governo decidiu extinguir a Direção-Geral do Património Cultural e criar duas entidades públicas – o instituto Património Cultural e a empresa Museus e Monumentos de Portugal, cujos diplomas de criação devem entrar em vigor a 1 de janeiro de 2024. No âmbito da reformulação da área da gestão do património cultural, uma parte do processo de descentralização passa pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, cuja lei orgânica foi recentemente promulgada, e que, segundo o ministro da Cultura, ficam com “grande parte das competências” que eram das direções regionais de Cultura.