A participação de Maria de Fátima, Maria Francisca e Maria da Conceição na Mostra de Doces & Licores Conventuais já é uma tradição. Desde 2013 que as três monjas cistercienses que compõem a pequena comunidade monástica residente no Santuário de São Bento da Porta Aberta, em Rio Caldo (Gerês), marcam presença no Mosteiro de Alcobaça para vender os produtos que preparam ao longo do ano.
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A edição deste ano da Mostra Internacional de Doces & Licores registou um marco importante na história do certame pela celebração das bodas de prata. Mas para as únicas monjas cistercienses em Portugal, a participação deste ano teve um sabor especial, pois assinalou-se precisamente uma década desde que as três irmãs marcaram presença no evento pela primeira vez. “Antes da primeira Mostra já tínhamos estado no Mosteiro, mas não conhecíamos as pessoas, nem sabíamos que género de público íamos encontrar. Ficámos agradavelmente surpreendidas”, conta a porta-voz da comunidade monástica ao REGIÃO DE CISTER. Maria da Conceição afirma ainda que participar na Mostra é como regressar a casa. “Como monjas cistercienses, estar num mosteiro cisterciense tem todo o sentido e é uma grande alegria para nós. Dá a impressão que estivemos cá na semana passada com as pessoas, mas afinal de contas já as deixámos há um ano”, fundamenta.
A presença das monjas motivou a ida de muitas pessoas ao expositor do Mosteiro de São Bento da Porta Aberta à procura das famosas compotas de Rio Caldo. “Os nossos produtos fizeram um sucesso estupendo desde a primeira Mostra”, revela Maria da Conceição que salienta também a relevância da participação no evento. “É importante que o público contacte connosco e vejam que, em pleno século XXI, ainda existem monges, monjas e freiras. Somos pessoas normais”, elucida.
O modo de vida desta pequena comunidade cisterciense é configurado pela regra de São Bento “Ora et Labora” – rezar e trabalhar. Na casa “emprestada” onde residem, as três irmãs têm uma quinta de 18 hectares à sua disposição. “Nós cultivamos uma parte, mas podemos colher todos os produtos disponíveis na propriedade. Tudo o que é fruta e legumes é produzido por nós e pelos nossos vizinhos”, clarifica a mais nova das três irmãs. Todos os produtos colhidos na quinta são cultivados de forma biológica, recorrendo a fertilizantes também biológicos. É aqui que nascem as famosas compotas premiadas em várias edições anteriores da Mostra Internacional de Doces & Licores Conventuais. Além da parte laboral, as orações são também prática regular no dia a dia das monjas cistercienses de Rio Caldo que se reúnem sete vezes ao dia na capela para rezar e ler a “palavra de deus”.
A somar às já referidas compotas, as monjas produzem ainda marmelada, mel, geleia, chás, xaropes e sabonetes de glicerina. “É fruto deste trabalho, feito em oração na clausura do mosteiro, que nos permite ter autossuficiência financeira”, vinca Maria da Conceição.
À margem da venda de produtos na Mostra estava a irmã Maria de Fátima a fazer crochet. Aos 83 anos, já ultrapassou um cancro e dez anos de quimioterapia, tendo passado também por três hepatites, mas isso não a impede de dar o seu contributo à pequena comunidade cisterciense. “Lá na quinta trabalha muito, mas aqui não está muito virada para as vendas, então, passa o tempo a fazer mantinhas e casaquinhos de bebé que depois vendemos ou acabamos por oferecer”, explica a irmã Maria da Conceição.
A participação na Mostra permite expor e vender todo o trabalho que é feito durante o ano em Rio Caldo, tendo uma enorme importância na subsistência das monjas. Além disso, permite-lhes também conhecer pessoas e atrair público para visitar o Santuário de São Bento da Porta Aberta.
A empatia desta comunidade já chegou às redes sociais (Facebook e Instagram), plataformas em que as três irmãs têm uma presença ativa, atualizando os milhares de seguidores sobre as atividades que executam ao longo do ano.
Do Brasil para o Mosteiro de Alcobaça
A Mostra Internacional de Doces & Licores Conventuais trouxe a Alcobaça expositores de vários pontos do país e do estrangeiro. Um deles localizado a cerca de… 6,5 mil quilómetros de distância. Vindo do Brasil, o Mosteiro Trapista da Boa Vista atravessou o Oceano Atlântico para marcar presença na Mostra, pelo segundo ano consecutivo.
A irmã Liliana foi a escolhida para representar esta comunidade de monjas contemplativas. Veio do Brasil “sozinha com duas malas de chocolate”, segundo a própria, e ficou encantada com o que viu. “Portugal é um país muito lindo e acolhedor, já visitei alguns mosteiros na França, mas este é impressionante”, conta a irmã Liliana ao REGIÃO DE CISTER.
Alcobaça ficou na memória da monja, não só pelo sucesso da mostra que considera “ser ótima para vender chocolates”, mas também pelas relações humanas. “O povo de Alcobaça é simples, bondoso e crente, é bom estar numa cidade com raízes cistercienses que nos torna irmãos”, acrescenta.
A comunidade de monjas contemplativas de Boa Vista pertence à Ordem de Cister da Estrita Observância, conhecida como Ordem Trapista. As monjas vivem em clausura no mosteiro seguindo a regra de São Bento, dedicando a sua vida à oração e ao trabalho manual, no qual se destaca o fabrico de chocolates que, segundo Liliana, “são feitos com a melhor matéria prima do Brasil”. Por isso, e por toda a distinção do processo desde a colheita até chegar ao público, os chocolates do Mosteiro da Boa Vista receberam, este ano, o selo de autêntico produto trapista.