Já o disse aqui muitas vezes, e repito-o por acreditar profundamente que a argamassa das relações humanas são as memórias partilhadas
Susana Santos
Este ano fui, com a minha filha, à missa do Galo no Mosteiro. E que bonito ritual, iniciado quase às escuras, com a Nave apenas pontuada, junto ao transepto, por uma pequena vela que, com o anúncio do nascimento, se transformou numa claridade gloriosa e aconchegante. Quando decidimos parar no Rossio, às 11h da noite da consoada, sabíamos que aquela era uma noite especial, mas não imaginávamos que havia outros aniversários, além do de Jesus.
Estávamos também a celebrar o 800º Natal da nossa abadia, e, ao mesmo tempo, o mundo católico comemorava o aniversário da primeira representação do presépio, feita, também ela, há 800 anos, por S. Francisco de Assis.
Já o disse aqui muitas vezes, e repito-o por acreditar profundamente que a argamassa das relações humanas são as memórias partilhadas. As memórias que resultam da capacidade de celebrarmos, em conjunto, acontecimentos importantes, momentos simbólicos, que nos unem.
São eles que acrescentam novos elos à cadeia que nos liga. Desta noite especial já só restam as nossas lembranças. Se fechar os olhos ainda consigo respirar o cheiro húmido do calcário e vislumbrar a pequena chama que apontava a manjedoura lá perto, do altar.
E estou certa de que, mesmo quando eu já cá não estiver, a minha filha se vai lembrar que esteve lá, no dia do 800º aniversário da celebração de Natal no Mosteiro de Alcobaça.