A lista de espera no Centro de Recolha Oficial de Animais (CRO) de Alcobaça e no abrigo do Grupo de Amigos dos Peludinhos de Alcobaça (GAPA) confirmam o cenário que se verifica há anos na região e no País. Faltam condições físicas para dar resposta ao número de animais errantes ou vadios e seria necessário aumentar as lotações dos espaços existentes, de forma significativa, para resolver um problema que parece não ter resolução à vista, apesar do trabalho desenvolvido quer pelo município, quer pelo GAPA. As entidades procuram alternativas para o flagelo dos animais abandonados.
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Na localidade de Alqueidão, em Coz, situam-se as instalações do GAPA, uma organização sem fins lucrativos com mais de uma década de atividade, que alberga, à data, cerca de 200 animais de estimação que foram recolhidos, maioritariamente, nas ruas. Com cerca de 30 voluntários, a associação está envolvida em todos os processos pelos quais os animais passam, desde o procedimento de recolha, passando pela higienização e esterilização, até ao momento da adoção – quando ocorre.
Os custos da manutenção dos animais nas infraestruturas do GAPA são suportados pela organização que, além do apoio do município de Alcobaça, sobrevive através de donativos e da generosidade de alguns voluntários. A alimentação, os cuidados veterinários, os produtos de higiene, a limpeza e a aquisição de equipamento estão incluídos nestas despesas e representam a maior fatia dos gastos. De acordo com a fundadora da associação, por mês são necessárias três paletes de ração para alimentar os “patudos”, totalizando cerca de 1,5 toneladas de comida. Neste aspeto, Elisabete Rodrigues assume que “as dificuldades são cada vez maiores”, revelando que, quando falta alimento, é o grupo de voluntários da associação que assume as despesas. “A última vez que nos unimos para comprar comida, gastámos cerca de 800 euros numa palete de uma marca económica”, exemplifica.
Na perspetiva da também presidente do GAPA, 2023 foi um ano “normal”, no que diz respeito ao número de animais nas ruas e à taxa de lotação do abrigo – que se mantém sobrelotada. “Após a pandemia sentimos que o número de animais abandonados aumentou drasticamente, mas tem vindo a estabilizar”, explica Elisabete Rodrigues. Relativamente à taxa de adoção, a responsável afirma que esta estatística não pode ser comparada aos anos anteriores, devido aos requisitos pedidos aos candidatos a adotantes. “As pessoas têm de passar numa avaliação prévia, feita por nós, e temos de ter garantias que os animais quando saem daqui vão para um ambiente melhor”, esclarece, revelando também que a associação bloqueia as adoções em épocas festivas, como o Natal, para “evitar futuros abandonos”, como ocorreu no período pós-pandemia.
O GAPA tem assumido um papel importante no que concerne ao abrigo de cães e gatos, uma vez que o CRO de Alcobaça tem capacidade legal para acolher 25. Entre animais recolhidos devido ao abandono e outros por questões judiciais (que aguardam a resolução dos processos), o CRO abriga 35 animais, mais 10 do que a capacidade permite, estando prevista uma obra de requalificação e ampliação, ainda no decorrer do presente ano. Em 2023, o número de recolhas de animais diminuiu em Alcobaça, comparativamente com os anos anteriores, porque “ não existe espaço para colocar os animais”, de acordo com a veterinária municipal. Cristina António afirma também que a gestão do CRO é feita mediante “o número de adoções responsáveis por parte da população”. Ainda assim, no último ano, foram recolhidos 899 animais de estimação, dos quais 170 eram cães e 729 eram gatos ao abrigo do programa “Capturar Esterilizar Devolver (CED)”, que visa o controlo de colónias de felinos, num programa implementado de forma protocolar com a GAPA. Quanto à taxa de adoção, verificou-se um decréscimo para os 49%, uma vez que foram adotados 83 cães e 406 gatos, tendo sido esterilizados 803 animais.
Desde 2017, a Câmara de Alcobaça tem desenvolvido várias ações de sensibilização nas escolas sobre o abandono e o bem-estar animal, tendo ainda em vigor um programa de adoção de animais. Além disso, todos os anos o município promove uma iniciatva para as famílias carenciadas poderem esterilizar sem custos ou a baixo custo os animais que têm a cargo. Na plataforma online da autarquia são colocadas fotografias dos animais disponíveis. Os interessados devem deslocar-se ao CRO para procederem à adoção. Após o processo de validação do candidato, o programa inclui, gratuitamente, a vacina antirrábica, a identificação eletrónica, a esterilização, o registo na plataforma Sistema de Informação de Animais de Companhia e a respetiva documentação do animal.
Porto de Mós e Nazaré acompanham tendência
Também os Centros de Recolha Oficial de Animais (CRO) de Porto de Mós e Nazaré estão com a lotação completamente esgotada.
Em Porto de Mós, “não existe capacidade física por parte do CRO para responder a todas as solicitações”, sendo necessário “investir em informação para educar as pessoas sobre os cuidados a ter com animais de companhia”, defende o vereador do Ambiente. Além dos inúmeros casos de abandono, Eduardo Amaral alerta também para o crescente número de situações de “animais que passam todo o dia em apartamentos e que, ao saírem, tornam-se agressivos e atacam pessoas”. Este tipo de casos, obriga o CRO a receber os animais durante um período de quarentena, ocupando espaço que limita a recolha de animais nas ruas.
Atualmente, o CRO de Porto de Mós alberga 64 cães e 24 gatos, um número que supera a capacidade do local. Em 2023, este serviço recolheu, na totalidade, 222 animais de companhia abandonados. Por outro lado, foram adotados 125 canídeos e 62 felinos. Ao abrigo do programa CED, foram também realizadas 174 esterilizações a felínos. Relativamente aos custos inerentes aos “patudos”, o Município de Porto de Mós investiu cerca de 54 mil euros, apenas no tratamento de animais que foram encontrados debilitados. A Câmara de Porto de Mós tem um programa em marcha com o objetivo de promover as adoções conscientes de animais.
No Município da Nazaré, o CRO está lotado há cerca de dois anos. “Infelizmente, nos últimos tempos são mais os animais que são abandonados do que os que são adotados”, lamenta o vereador do Ambiente. Orlando Rodrigues afirma ainda que a proíbição do abate de animais de companhia agravou o problema do abandono. “As pessoas sabem que os animais são bem tratados no CRO e, por isso, acabam por se desfazer deles com mais facilidade”, explica o membro do executivo da Câmara da Nazaré, que revela ainda a exigência logística e financeira que a situação provoca. Atualmente, além da colaboração dos dois funcionários, também o Grupo de Voluntários dos Animais da Nazaré (GRUVA) auxilia o município nos processos inerentes ao tratamento destes animais. A organização tem 45 voluntários e recebe um apoio mensal da Câmara no valor de 500 euros.
Por ano, entram no CRO da Nazaré entre 200 a 300 animais. Apesar de estarem a “decrescer drasticamente”, o número de adoções continua a ser superior a 100.
O período pós-pandemia foi negativo para o que vinha a ser feito na Nazaré, no âmbito deste projeto. “Antes da Covid-19 trabalhávamos a um bom ritmo, mas agora as dificuldades têm sido maiores porque as pessoas também se afastaram deste tipo de iniciativas”, lamenta Orlando Rodrigues, que alerta ainda para a necessidade de consciencialização do problema por parte da população.