Foliões, preparem-se! O próximo fim de semana não dará tréguas, nem descanso. O Carnaval já chegou subtilmente aos bares de Alcobaça, mas vai sentir-se ainda com mais força. A habitual tenda em frente ao Mosteiro já está montada e paira no ar uma agitação característica da cidade, nesta que, para muitos alcobacenses, é a época mais aguardada do ano. E como o Carnaval de Alcobaça é repleto de tradição, a festa já não é a mesma sem as músicas dos muitos grupos existentes, que unem a amizade, a paixão pela música e a euforia da quadra para preservar e fomentar o Carnaval na cidade (e no concelho).
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“Não me venhas com cantigas, não me deito antes das dez, daqui é que eu não saio, nem que me doam os pés”, assim é o refrão da primeira marcha dos Carcarolas, que remonta ao ano de 1995, mas que não deixa de representar na perfeição o espírito vivido na cidade durante este período. Naquela época, a música foi gravada de uma forma “muito arcaica”, na antiga discoteca Princess, mas com um propósito definido.
“A ideia foi fazer uma música original, em português de Portugal, recorrendo a vários instrumentos, para criar uma assinatura característica e,também, uma marca identitária de Alcobaça”, começa por explicar um dos fundadores do grupo. Israel Costa Pereira recorda que aquele grupo de amigos queria “celebrar a noite do Carnaval alcobacense a ouvir músicas criadas na terra”. Quase 30 anos volvidos, o grupo já lançou a música relativa a 2024, conservando o estilo e a identidade que lhe é reconhecida.
O legado dos Carcarolas inspirou vários grupos que surgiram depois, como os Engenheiros do Samba, que lançaram o primeiro tema em 2007. “Naquele inverno, começámos a brincar com algumas ideias no estúdio do Nuno Ruas e a pensar que devíamos criar uma música para o Carnaval de modo a juntarmos o pessoal”, conta João Tiago Raimundo. O projeto nunca foi uma obrigação e decorreu, durante cinco anos, de uma forma “muito fluída e natural”, tendo como grandes objetivos, além da “diversão”, a fixação das pessoas em Alcobaça durante a quadra. “Sentíamos que o ambiente estava a ‘morrer’ um bocadinho e aquela foi a forma que encontrámos de ‘agitar as águas’”, elucida o membro responsável do grupo que terminou em 2013. “A elaboração da música já não estava a surgir como era habitual e decidimos acabar porque, daquele modo, as coisas não estavam a fazer sentido”, justifica o alcobacense.
A formação dos grupos começou a ser algo recorrente em Alcobaça, com as gerações mais recentes a seguir as pisadas dos mais velhos, preservando a tradição que foi criada. “Sendo todos foliões desde pequenos, sempre olhámos para os grupos com entusiasmo. Em 2018, motivámo-nos para constituir os Lecco La Patata e já vamos para a sétima música”, detalha João Prateiro, um dos integrantes do grupo. Para a turma composta por 14 membros, os dias que se avizinham são especiais. “É uma época bonita, pois permite que estejamos juntos no mesmo sítio a divertirmo-nos, algo que é difícil durante o resto do ano”, afirma o jovem.
Com uma visão semelhante surgem os Guáranis, que também aproveitam “a época mais aguardada do ano” para reunir “as tropas” e “representar a paixão crescente” que sentem pela cidade e pela vivência do Carnaval em Alcobaça. Bernardo Barreiro é um dos líderes do grupo de 11 elementos. Desde 2019 (ano de fundação dos Guáranis), que o entrudo “tem sido vivido com uma energia inexplicável”. Ainda assim, o alcobacense defende que as bandas deveriam ter mais apoios. “Penso que os grupos têm feito muito por este Carnaval, somos essenciais para preservar a identidade que se foi criando em Alcobaça. Além disso, expomos a tradição por todo o país. Devíamos ter outra ajuda para conseguir fazer coisas maiores”, argumenta Bernardo Barreiro.
A palavra tradição é uma das mais referidas para adjetivar a época que se avizinha em Alcobaça. Dentro dos próprios grupos também se vão criando tradições que, ano após ano, geram memórias nostálgicas, como tem acontecido com o grupo Julietas. “De segunda para terça-feira, o pessoal que vai para Alcobaça não se deita. Voltamos para o Casal Pardo, onde já temos uma carrinha enfeitada. Fazemos um corso pela nossa aldeia de manhã e vamos parando em casa das pessoas”, conta João Feliciano. “O almoço é sempre oferecido pelo Tozé e pela Nélia, pais de um membro do grupo, que já fazem parte da nossa rotina de terça-feira. De tarde, participamos no desfile da nossa freguesia”, acrescenta o alfeizerense, que confessa o carinho pelo Carnaval em Alcobaça. “Sentimos muito a época, apesar de não sermos naturais da cidade. Os nossos amigos emigrados vêm propositadamente para celebrar a quadra. O Carnaval de Alcobaça tem muita tradição e, quem diz o contrário, é porque nunca o viveu”, remata.
Nos próximos dias, o Rossio e os bares das ruas circundantes recebem milhares para mais um entrudo pleno de folia e algazarra. Prontos para carnavalar?
No fim da noite, todos os caminhos vão dar à… Sunset
A mítica discoteca Sunset, localizada na Fervença, é o destino final da noite de muitos foliões que passam por Alcobaça… e não só.
Nas décadas de 1980 e 1990, o espaço marcou a noite de muitos dos que por ali passaram, tendo contribuído para que o Carnaval de Alcobaça conquistasse mais adeptos. “Tanto agora como antigamente, em muitos lugares dos arredores, os eventos de Carnaval abrandam ao domingo, mas na Sunset a festa continua como nos outros dias e acabamos por receber muitas pessoas de locais como a Nazaré, por exemplo”, justifica um dos atuais responsáveis pela dinamização do espaço. Bernardo Dias explora o espaço com dois amigos desde 2020, tendo sido pela mão dos três jovens que a discoteca voltou ao ativo, após alguns anos encerrada. “Remodelámos algumas coisas, tentámos fazer preços mais acessíveis e alterámos os horários para que as pessoas voltassem a ter a rotina de outros tempos”, explica, acrescentando que o público-alvo é abrangente. “Há pessoas mais velhas que voltam passados muitos anos e ficam maravilhadas com o espaço novamente”, conta.
Desde 2020, a Sunset tem aberto apenas para a época de Carnaval e com um horário adaptado à atualidade (a partir das 6 horas da manhã), após o encerramento da tenda e de alguns bares, num conceito semelhante a um “after”. No fim de semana que antecede a quadra, o espaço abre também para a apresentação das respetivas músicas por parte dos grupos. Contudo, em 2023, o estabelecimento abriu na época natalícia para celebrar o “Carnatal”, uma nova tradição que Bernardo Dias pretende criar.
As boas memórias que se criaram na Sunset continuam a atrair visitantes. O legado da discoteca é um ponto a favor, na opinião do alcobacense, mas o ambiente continua a ser descrito como “especial”. “É sem dúvida um espaço nostálgico para muitos, mas para quem ali entra pela primeira vez sente que o ambiente é diferente e inexplicável”, finaliza.
A partir das 6 horas da manhã de sábado, a discoteca abre novamente (pois claro!) para celebrar mais uma edição do Carnaval!
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