Cinco temporadas e meia depois, Leandro Santos deixou o cargo de treinador do Ginásio, tendo suplantado vários recordes, positivos e negativos, na sua estadia no Municipal. Em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, o maiorguense, de 45 anos, explica a decisão e faz um balanço daquela que considera ter sido “uma verdadeira honra” na carreira.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > O que o motivou a deixar o comando técnico do Ginásio?
leandro santos (LS) > Foram vários fatores, principalmente os resultados menos positivos. Devido à instabilidade exibicional, aliada à falta de motivação de tudo e todos os envolvidos, entendi que era preciso sangue novo, ideias novas, um pouco de ar fresco em tudo o que envolvia o principal escalão do clube e, dado ainda faltar praticamente toda a segunda volta, entendo haver tempo para inverter a situação.
RC > Era uma decisão já tomada antes da derrota na Benedita?
LS > Não era uma decisão já tomada, apesar de noutra ocasião ter demonstrado ao presidente a vontade de sair. Acabámos por conversar e aceitei ficar, sempre com a ilusão de algumas mudanças e que as coisas melhorassem, mas isso não aconteceu e o resultado na Benedita tirou-nos de mais um objetivo: o da Taça Distrito de Leiria, que poderia vir a dar uma nova vida e motivação à equipa e à estrutura para o resto da época. Não sucedeu, entendi que era hora de dar lugar a outros que possam tentar trazer algo novo e que lhe permitam fazer mudanças de cima para baixo, quer a nível de condições, compromisso, motivação, foco e responsabilidade pelo clube que representam.
RC > Não é a primeira vez que aborda a saída internamente. Por que foi ficando e por que apenas sai agora?
LS > Foi o facto de ser o clube onde nasci e cresci. Por gostar muito do que faço, por acreditar no meu trabalho, e pela ambição que tinha em conquistar algo pelo meu clube. Entendi que ainda haveria muito para conquistar esta época, pelas conversas que tive com o presidente e pelos conselhos da minha família. Como disse, tomei a decisão firme agora, essencialmente devido aos resultados menos positivos, contrários à minha ambição e dedicação constantes, mas também ao acentuar da desmotivação, do desgaste e do cansaço.
RC > O presidente não queria que saísse?
LS > Eu e o presidente temos uma ótima relação. Conhecemo-nos muito bem, temos passado e vivido muitas situações naquele clube e ele, conhecendo-me bem, já tinha percebido que eu estava a chegar ao limite de cansaço e, acima de tudo não me revia em determinadas situações que se passavam internamente. Existem pessoas e situações tóxicas no clube que em nada o dignificam, situações incompatíveis com a minha maneira de ser, de estar e de trabalhar e, como meu amigo que é, acabou por compreender e aceitar a minha decisão, assim como várias vezes eu também aceitei várias situações às quais não me revia, por ele. Sair do Ginásio foi a decisão mais difícil que tomei na minha carreira futebolística, uma vez que estou a abandonar o meu clube, o clube onde nasci e cresci para o futebol. E também porque não gosto de deixar os projetos a meio, porque deixo de fazer o que gosto e porque vou deixar de conviver diariamente com algumas pessoas que prezo e gosto muito.
RC > No comunicado fala na questão de pressões. A quem se referia em concreto?
LS > Considerei importante realçar que a decisão não foi tomada por pressões, diretamente nunca ninguém me pressionou a nada. Confesso que o presidente apenas me pediu para não descer de divisão e, se possível, ficar do meio da tabela para cima, bem como tentar ir o mais longe na Taça. Talvez por ser uma pessoa consciente e perceber que as condições que o clube tinha e me dava, nunca dariam para mais que isso. Eu é que sempre me pressionei e coloquei objetivos ambiciosos, por acreditar nas minhas capacidades e nas pessoas que me acompanhavam. Obviamente, nunca se consegue agradar a todos e a vida de treinador é muito isto, quando ganhas és o melhor mas quando perdes és o pior, no entanto, muitas das vezes não passa pela cabeça das pessoas os problemas e dificuldades para que, ao domingo, isso não se reflita em campo. Apenas querem resultados, independentemente de toda a envolvente que impede os mesmos de aparecerem.
RC > Deixa o Ginásio como o treinador que mais tempo liderou a equipa sénior consecutivamente, além de ser o técnico com mais jogos à frente do clube na Honra. São apenas estatísticas, mas que o orgulham, por certo…
LS > É óbvio que são dados que me deixam orgulhoso, apesar de meramente estatísticos. Sobretudo por ter tido a oportunidade de estar ao serviço deste grande clube, um dos maiores e melhores clubes do distrito, com um grande historial, por ser o clube da minha formação e o clube da minha cidade.
RC > Ainda assim, nem tudo foram rosas e sai também do Municipal com alguns registos negativos. Quer comentar?
LS > Não há que esconder e nunca me escondi disso, assumindo responsabilidades enquanto treinador. No entanto, não as poderei assumir sozinho, quem segue o Ginásio deverá saber, certamente, o desinvestimento que foi feito a todos os níveis no que aos seniores diz respeito. E quando falo em desinvestimento, não falo só em jogadores, falo de tudo o que envolve ter uma equipa sénior ao nível e do nível do Ginásio. O clube decidiu direcionar a sua aposta na formação, tentando que a base dos seniores fosse de atletas da formação, reduzindo orçamento. No entanto, a formação do clube não estava preparada para que isso acontecesse e foi necessário, ano após ano, fazer um grande número de contratações (8 a 10 jogadores) havendo sempre um número muito reduzido de atletas identificados com o clube e que sintam a cultura ginasista. Todas as pré-épocas, sem exceção, foram sempre de enorme dificuldade para formar um plantel e conseguir ter um plantel equilibrado, com soluções e competitividade interna. A criação do campeonato Inatel também não ajudou, porque direcionou jogadores que podiam estar na equipa principal para esse campeonato. Mas reconheço que tive quota parte de responsabilidade por ter aceite e permitido essas situações, assim como a falta de outras necessidades imprescindíveis.