Em vez de ervas daninhas de mais de metro de altura e de autênticas lixeiras, como acontecia em alguns casos, o vale de Paredes da Vitória está transformado em campos de cultivo, ordenados e limpos, graças à iniciativa de Rui Marques, agricultor de Valado dos Frades.
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O empreendedor foi contactando os vários proprietários, que não hesitaram em ceder-lhe, de forma gratuita, as suas parcelas de terra, que nada produzia a não ser mato desgovernado. “É um empréstimo. Tenho os terrenos cuidados e a responsabilidade de manter tudo limpo”, explica Rui Marques, que fala em nome do pequeno negócio familiar no qual conta com a irmã Cristina e a mãe, Maria Palmira. Nos três se vê o carinho com que encaram a profissão. “O que falta hoje às pessoas é fazerem as coisas com paixão”, atira o valadense, consciente das melhorias que já operou no vasto e verdejante vale.
O resultado são “8 a 9 mil metros quadrados” de terras de cultivo, de onde saem batatas, ervilhas, favas, couves de várias qualidades, feijão, rabanetes, beterrabas, grelos, brócolos, alfaces, cebolas, coentros e salsa. O destaque vai, contudo, para os morangos, muito elogiados na região pelo sabor e o calibre especiais. “Têm de ser apanhados num período específico da manhã Os bens que a terra produz têm como destino todos os restaurantes de Paredes da Vitória, bem como várias outras casas na região, que a família Marques visita em venda ambulante. Tudo é escoado num ápice.
Na verdade, os produtos que saem do vale das Paredes “são únicos”, classifica o agricultor, que fala das condições especiais do local, onde às características do vale se junta o mar e o rio. “Aqui não é preciso regar muito”, constata Rui Marques.
É um facto que no vale das Paredes vive-se um microclima. Contactado pelo REGIÃO DE CISTER, o especialista em geografia e planeamento regional e mestre em gestão do território, Paulo Grilo, explica que há vários fatores para o sucesso das colheitas. “Primeiro, o solo, de excelente qualidade, fruto do assoreamento marítimo a partir do século XV e da deposição de sedimentos feita pelo próprio rio”, esclarece o professor, que acrescenta que a realidade de o vale ser muito encaixado e profundo, protege-o dos ventos dominantes. Por outro lado “a vertente a sul é menos inclinada que a norte, o que permite uma maior insolação natural durante quase todo o dia”. Acresce ainda “o facto de termos um núcleo urbano entre o vale a a praia, que funciona também como proteção, não só aos ventos como à maresia: ar húmido e salgado”.
Paulo Grilo clarifica ainda que, pela influência e proximidade do mar, há temperaturas amenas todo o ano e grande humidade atmosférica. “O vale muito encaixado reforça esta realidade”, sublinha o professor, que não tem dúvidas em afirmar que o vale de Paredes da Vitória tem os ingredientes de excelência para a prática de agricultura 365 dias por ano.