António Poças, presidente da Direção da Associação Empresarial da Região de Leiria/Câmara de Comércio e Indústria (NERLEI CCI) elogia, em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, o tecido empresarial da região e o projeto da ALEB da Benedita, sublinhando a importância de as empresas se capacitarem, por forma a serem competitivas nos mercados internacionais.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Que retrato faz da atividade exportadora das empresas da região de Cister?
ANTÓNIO POÇAS (AP) > Estamos perante três concelhos com uma estrutura empresarial dinâmica, diversificada e com vários setores predominantes, que apresentam características fortemente exportadoras. Falamos das cerâmicas decorativas e utilitárias, das rochas ornamentais, do calçado, das cutelarias, entre outros. São empresas que têm sabido posicionar-se e inovar nos mercados internacionais, conseguindo assim manter-se relevantes enquanto exportadoras.
RC > Qual o apoio que a NERLEI dá para alavancar a atividade exportadora do distrito?
AP > A NERLEI CCI tem no apoio à internacionalização das empresas uma das suas principais áreas de atuação, detendo um grande know-how nesta área, construído ao longo de mais de 25 anos. Entre as principais atividades que disponibilizamos às empresas destacamos a realização de missões empresariais e participações nas mais importantes feiras internacionais, dedicadas a alguns dos setores de atividade que têm forte presença na região. Estas participações estão geralmente integradas em projetos cofinanciados, pelo que as empresas além de beneficiarem da nossa experiência e conhecimento na organização deste tipo de ações, beneficiam também de apoio financeiro. Além disso, damos apoio individualizado em diversas etapas do processo de internacionalização, desde a seleção dos mercados prioritários de atuação à abordagem comercial a um mercado específico. Realizamos diversas ações de capacitação sobre a temática da internacionalização (workshops, seminários, conferências) e trabalhamos na promoção das empresas, dos seus produtos e do potencial da região.
RC > Houve uma mudança com o reconhecimento enquanto Câmara de Comércio e Indústria?
AP > Desde que fomos reconhecidos, em junho de 2023, passámos a disponibilizar um serviço bastante relevante para as empresas que exportam: a emissão de documentos de exportação, necessários para muitas transações comerciais para mercados extracomunitários, como certificados de origem e certificados de venda livre. Além disso, o facto de estarmos integrados em redes de Câmaras de Comércio e Indústria internacionais potencia o conhecimento e posterior divulgação de oportunidades de negócio internacionais para as nossas empresas e também um maior conhecimento dos mercados.
RC > Quais são os principais constrangimentos que as nossas empresas exportadoras ainda enfrentam?
AP > De forma a posicionarem-se com uma estrutura empresarial robusta e tendo em conta a exigência e a forte concorrência dos mercados internacionais, sobretudo será útil que as empresas reforcem ao máximo todos os seus fatores de competitividade. Falamos de uma maior cooperação na abordagem aos mercados internacionais, de forma a ganharem dimensão, que lhes conceda ganhos de escala e maior competitividade. Na aposta na capitalização, que é um fator importante para qualquer empresa, mas às exportadoras dá-lhes uma robustez que lhes possibilita apresentarem-se em mercados globais, de forma mais capacitada e concorrencial. Também devem trabalhar mais a marca, além de cumprir os princípios ESG (environmental social and governance/ambiente, social e governança), que é uma preparação para a adoção de um paradigma económico rumo à sustentabilidade e valor acrescentado da atividade económica.
RC > A conjuntura económica atual é uma oportunidade ou um entrave ao crescimento da atividade exportadora?
AP > É uma conjuntura complexa devido aos conflitos que temos, sobretudo na Europa e no Médio Oriente, que trazem constrangimentos ao comércio mundial e por essa via às exportações. À partida diríamos que é um entrave, mas como em quase tudo na vida, mesmo nas crises há oportunidades. Por vezes basta conseguir identificá-las e dar-lhes resposta. Até agora a nossa economia tem conseguido dar uma resposta positiva ao contexto internacional em que vivemos que, desde a pandemia, se mantém desafiante.
RC > Quais os mercados com maior potencial para as nossas exportações?
AP > Dependendo dos setores de atividade da região, que são muito diversificados (moldes, plásticos, cerâmicas, cutelarias, rochas ornamentais, materiais de construção, metalomecânica), diríamos que a Europa, pela proximidade e pelas relações comerciais já existentes, principalmente em mercados considerados tradicionais para as nossas exportações: Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, mas também alguns países do Norte da Europa. Fora da Europa diríamos que os EUA poderão ser um dos principais mercados, embora tudo dependa do setor de atividade de que estamos a falar.
RC > Acredita que a Área de Localização Empresarial da Benedita pode vir a impulsionar as exportações da região?
AP > A competitividade empresarial depende de múltiplos fatores entre os quais a localização física das empresas e a forma como esta responde às necessidades da empresa, nomeadamente ao nível das infraestruturas, da envolvente, da disponibilidade de mão-de-obra, da integração na cadeia logística, entre outras. Assim, pela boa localização desta infraestrutura e pelo investimento que nela foi realizado, é de esperar que esta Área de Localização Empresarial da Benedita proporcione condições às empresas que se vão instalar que irão impactar positivamente a sua propensão e capacidade para exportar.