Vasco Luís encerrou uma carreira dedicada em exclusivo ao HC Turquel, no passado dia 4 de maio, no reduto do CH Carvalhos (3-2). O hoquista bisou e foi expulso nos instantes finais, terminando um período de 33 anos depois (mais de metade dos anos de existência do clube) e um ciclo de mais de 550 jogos e 794 golos enquanto sénior.
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E se o último jogo foi no passado dia 4, a verdadeira despedida do eterno capitão aconteceu na aldeia do hóquei, na tarde do passado dia 1, num dia que ficará para sempre marcado na história dos Brutos dos Queixos. Apesar da derrota diante do Valongo (3-4), tudo se transfigurou quando, a poucos segundos do fim, Vasco Luís foi substituído. O momento merece ser contado pormenorizadamente. A 26 segundos do término do encontro, eis que o ritmo acalmou e irrompe uma avalanche de aplausos que emocionou as centenas ali presentes: o “speaker” anunciava o término da carreira do eterno capitão. Naquele momento, ninguém ficou indiferente e todos os colegas de equipa acorreram a Vasco Luís para o abraçarem. Como se cada um lhe estivesse a agradecer a dedicação que evidenciou ao longo de mais de três décadas com o símbolo do HC Turquel ao peito.
Já após o soar da buzina, Vasco falou à família turquelense e deixou “escapar” alguma emoção. Até a dos adversários, alguns de longa data, que não ficaram indiferentes. Afinal, a aldeia do hóquei estava a despedir-se de uma lenda do clube. A maior que alguma vez representou os Brutos dos Queixos.
“É um momento complicado para falar. São 33 anos a jogar. Iniciei com 4 anos, tenho 37. Se não ficar ligado ao hóquei dentro da modalidade, ficarei de certeza do lado de fora, a apoiar o HC Turquel. Ali junto da claque, a fazer barulho e a puxar por esta equipa e por este clube que tanto merece e por quem tanto dei. Deixei aqui tudo o que tenho e saio de consciência tranquila. Fiz grandes amigos na modalidade”, começou por dizer.
“O clube ganhou uma dimensão que está à vista de todos, apesar de cair na 2.ª Divisão. Não era a forma ideal ou que sonhava para me despedir, mas não é possível. Não consigo mais. Chego mesmo aqui ao fim. Dei tudo pelo clube e o clube deu tudo por mim. Isso é o mais importante”, complementava, asseverando que será “mais um do lado de fora”, com “um prazer enorme”, a apoiar a equipa. “Vou ser adepto, da claque, o que calhar”, notou, motivando mais uma ronda de aplausos.
As palavras atingiram outra dimensão quando o capitão decidiu abrir o coração a uma outra “escala”: a familiar. “Tenho de agradecer aos meus pais. Isto agora é mais complicado… [as lágrimas tomaram conta do momento e por breves segundos todo o pavilhão chorou com o capitão, provocando novamente uma invasão de aplausos de pé de toda a plateia]. Porque os valores que eles me transmitiram são aqueles que quero transmitir aos meus filhos. São duas pessoas do mais generoso que pode haver e eu amo-vos muito. À Maria João e aos filhotes. Aquela maltinha que está no meu coração. Todos vocês, muito obrigado por fazerem parte disto e por continuarem a apoiar o clube”, finalizou, naquele que foi, talvez, o discurso mais difícil que teve de protagonizar durante uma caminhada de mais de três décadas.
“Foi das coisas mais bonitas que já vi na minha vida. Uma equipa que desceu de divisão, que está a perder em casa…”, relatava um dos comentadores da ADV TV, enquanto transmitia aquele momento nas redes sociais, deixando-se, também levar pela emoção.
30 anos é uma vida. E na aldeia do hóquei ninguém esquece, nem esquecerá, o nome de Vasco Coelho Luís, considerado por muitos o maior ícone dos 60 anos do clube.
Vasco Luís passou por todos os escalões de formação, vestindo a camisola do HC Turquel por mais de 550 vezes como sénior e ficando a apenas… 6 golos de atingir a marca redonda dos 800 remates certeiros pelos turquelenses, registo único a nível nacional. Pelo menos, ao serviço do mesmo clube. Se contabilizados os jogos e os golos nos escalões de formação, então Vasco Luís terá ultrapassado, por certo, os 1.000 golos pelo clube, elevando ainda mais o número de vezes que ajudou a (e)levar o nome da aldeia do hóquei pelo País fora.
Enquanto sénior, cumpriu 11 temporadas na elite do hóquei em patins português, somando ainda 9 épocas no segundo escalão e apenas uma na 3.ª Divisão. Neste trajeto, a que se juntam vários títulos nos escalões de formação, o filho da terra somou subidas de divisão, tendo sido o autor do golo mais importante da história do clube.
Na temporada passada, Vasco Luís apontou o golo que permitiu ao HC Turquel ultrapassar a Juventude Pacense e conquistar o título mais importante da já longa história do clube: a 2.ª Divisão Nacional.
Além disso, ajudou também os Brutos dos Queixos a alcançarem boas prestações nas provas europeias, onde também faturou por diversas vezes.
Na memória de Vasco vão ficar, por certo, as inúmeras vezes que entrou naquele pavilhão, as centenas de golos que festejou, os sorrisos que distribuiu, os “gritos” de incentivo de que foi autor e tanto mais há, certamente, por acrescentar. Já na memória da família HC Turquel ficará o legado ímpar daquele que é – arrisquemos dizê-lo – a maior figura e a maior lenda do HC Turquel. Por isso, e por tanto mais, a aldeia, a região e o hóquei agradecem-te. Obrigado, lenda!