A vida na Cela Velha não é propriamente um corrupio, mas, uma vez por ano, e há 36 anos – apenas em dois anos não aconteceu devido às medidas de segurança impostas pela pandemia –, a localidade enche-se para a recriação das tradições ribeirinhas.
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A 34.ª edição da Mostra Gastronómica da região ribeirinha do concelho de Alcobaça vai realizar-se no próximo domingo, na sede do Rancho Folclórico e Etnográfico Papoilas do Campo, numa iniciativa que pretende recriar a alimentação característica dos tempos passados, quando as pessoas que trabalhavam no campo alimentavam-se daquilo que as terras lhes dava.
“Pretendemos recriar essas vivências e mostrar como as pessoas aqui viviam na década de 1920. Queremos aproximar essas referências e esses sabores o mais possível”, explicou a vice-presidente do Rancho Folclórico e Etnográfico Papoilas do Campo ao REGIÃO DE CISTER. Iva Vieira dá conta do anseio de transmitir esses valores e essa história às novas gerações, acrescentando que, para a realização do evento, a associação conta com uma preciosa ajuda. “Temos senhoras de 88 anos que ainda cozinham a cachola à Ti Olinda”, confidencia, notando que até ao dia do evento estão a ser ultimados todos os pormenores.
Torresmos, pastéis de bacalhau, petinga frita, sopa de grão e acelgas, misturadas, aferventado de legumes da época, galinha guisada à ti’Farricha, cachola à ti’Olinda, carne de porco malhado de Alcobaça no alguidar, coelho de agrião à ti’Quim, ensopado de borrego, sarda grelhada com cebola, azeite e vinagre, enguias fritas, carapaus enjoados, arroz doce de Lúcia Lima, pão de ló à Lavínia, café da borra, filhoses ou “velhozes” são alguns dos produtos gastronómicos que podem ser degustados durante o evento.
Além disso, a organização, a cargo do Rancho Folclórico e Etnográfico Papoilas do Campo, pretende também recriar tradições culturais e costumes daqueles tempos idos.
O preço unitário é de 25 euros e as inscrições podem ser efetuadas através dos contactos telefónicos 262 560 213, 966 490 303 ou 964 087 289. Ainda assim, a celense, que vive e trabalha em Lisboa, mas que é uma das maiores entusiastas da Mostra e não perde pitada, sublinha que o número de participantes não é, de todo, o mais importante. “Podemos receber entre 380 a 400 pessoas. É o nosso máximo para que possamos prestar uma mostra gastronómica de qualidade”, garantiu Iva Vieira, asseverando que a ideia é ter “um evento em que há pessoas a conviverem de forma intimista, em que podem ser transmitidos valores e referências da época”.
Acima de tudo, destaca também a vice-presidente da coletividade, o propósito maior é dar (mais) vida a uma terra, situada entre o mar e a serra, onde, nos restantes meses do ano, habitam cerca de duas centenas de pessoas e num local onde o dia a dia já foi outrora bem mais atribulado.