A 51.ª edição do Congresso Internacional de Cerâmica, que juntou 300 congressistas provenientes de todo o mundo, marcou os últimos dias das cidades de Alcobaça e Caldas da Rainha. Um dos momentos altos da sessão de abertura, que decorreu no Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel na manhã desta segunda-feira, foi a doação do Museu de Cerâmica de Alcobaça “Coleções Maria do Céu e Luís Pereira de Sampaio” à Câmara de Alcobaça.
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“Após os discursos protocolares de arranque das atividades, o historiador Jorge Pereira de Sampaio, e demais entidades ali representadas, assinou o protocolo de doação da “Coleção Maria do Céu e Luís Pereira de Sampaio” ao Município de Alcobaça. Trata-se de um “notável” espólio de cerâmica artística, composto por 2.300 peças e reunido ao longo de dezenas de décadas pelos pais, Maria do Céu e Luís Pereira de Sampaio, patente na galeria conventual da família, um espaço que foi também doado e passará também a ser gerido pela Câmara de Alcobaça, com o apoio de um conselho consultivo. O acervo, de resto, começa com duas esculturas do século XVII atribuídos aos monges barristas do Mosteiro e uma forma de doces conventuais do século XVIII.
“Quero agradecer à família Pereira de Sampaio, que dedicou toda a sua vida à cultura alcobacense”, começou por elencar o presidente da Câmara, enaltecendo a “gentileza” do ato. “Nem todo o ser humano é capaz de o fazer, mas ele [Jorge Pereira de Sampaio] optou por doar toda aquela riqueza cultural que podemos testemunhar”, frisou Hermínio Rodrigues, garantindo que “não ficaria bem” se não “devolvesse” o espaço à população.
“Não só à alcobacense, mas a toda a população que possa usufruir daquelas bonitas peças feitas ao longo das últimas décadas”, enfatizou o edil, garantindo tratar-se de “um projeto da comunidade” e destacando o “papel dos empresários alcobacenses” para a construção daquele património da cerâmica.
Bem mais emotivo foi o momento para Jorge Pereira de Sampaio, membro da Comissão Científica do Encontro e orador de uma conferência em Caldas da Rainha. “Senhor presidente, não pode imaginar o sentido de dever cumprido que me proporciona hoje [segunda-feira], vendo concretizada a vontade dos meus pais em partilhar as suas coleções com a comunidade”, começou por dizer, lendo depois um texto de José Gonçalves Sapinho, antigo presidente de Câmara de Alcobaça, dedicado aos pais.
E continuou, recordando o contributo dos progenitores, antigos empresários alcobacenses, para a cultura local. “Após a morte da minha querida mãe, em 2021, a vontade da partilha pública deste acervo com a comunidade tornava-se uma realidade cada vez mais forte”, sublinhou o ex-diretor do Mosteiro de Alcobaça, deixando depois uma palavra de agradecimento a todos os envolvidos no processo de doação, bem como a renomadas figuras do setor da cultura e da sociedade que, por diversos motivos, contribuíram para aquele momento simbólico.
O protocolo de doação contou com a presença dos proprietários das empresas Arfai, Jomazé e Perpétua Pereira & Almeida (PPA), antigas Cerâmicas São Bernardo, assim como do presidente da Associação de Defesa e Valorização do Património Cultural da Região de Alcobaça (Adepa), entre diversas entidades políticas locais.
“É, permitam-me, um golo certeiro”, enfatizou Jorge Pereira de Sampaio, demonstrando a certeza de que a “Câmara irá fazer do Museu de Cerâmica de Alcobaça um espaço exemplar”, e a convicção de que possa “em breve ser alargado na direção do rio, fazendo a ligação à Biblioteca Municipal”, permitindo, também, a realização de exposições de outros acervos históricos.
Num final de discurso atraiçoado pela emoção, e já depois de deixar o repto para futuras doações, completou: “Maria do Céu e Luís Pereira de Sampaio, meus queridos pais e um casal a todos os títulos exemplares, são eles, e não eu, os verdadeiros doadores. Obrigado”.
300 congressistas de 50 países visitam Alcobaça e Caldas da Rainha
A abertura do Congresso Internacional de Cerâmica, que reuniu 300 congressistas de 50 países, decorreu no Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel. “Hoje é verdadeiramente um dia histórico para Alcobaça, um território fortemente ligado à fundação e à construção de Portugal.”, sublinhou o presidente da Câmara, recordando a “profunda tradição de cerâmica que grassa nestas terras de Cister”.
Os “dados mais recentes” são “inequívocos” e demonstram que “das 52 empresas do setor a laboral no concelho, 11 pertencem à lista das 250 maiores de toda esta região [informações extraídas da revista publicada anualmente pelo REGIÃO DE CISTER], empregando quase 900 trabalhadores e faturando cerca de 50 milhões de euros, 80% dos quais destinam-se à exportação”. “Trata-se de um setor que tem demonstrado uma capacidade notável de reinvenção e de resiliência aos mais variados contextos adversos: pandemias, guerras, crises energéticas e escassez de matérias-primas muito necessárias ao seu funcionamento”, frisou.
A riqueza do evento foi também enfatizada pelo presidente da Câmara de Caldas da Rainha, Vítor Marques, pelo presidente da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas da Cerâmica, Miguel Capão Filipe, e pelo presidente da Academia Internacional de Cerâmica, Torbjørn Kvasbø. Depois de Alcobaça, os congressistas seguiram para Caldas da Rainha, no qual participaram em diversas atividades, sessões e experiências ligadas à arte da cerâmica.