O grupo “Cante d’Eira” nasceu na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister (Epadrc), em Alcobaça, reúne 14 elementos e procura manter viva a tradição cultural portuguesa dos cantes populares. A iniciativa surgiu de uma forma espontânea e, até, em tom de brincadeira, mas a verdade é que o grupo criado no passado ano letivo tem tido sucesso e até já tem atuações agendadas.
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“O projeto surgiu numa aula em que alguns membros estavam a preparar as falas para uma peça de teatro que íamos fazer e depois alguém teve a ideia de fazer uma versão nossa da música gotinha de água. Começámos a querer que a letra rimasse e, a verdade, é que até ficou engraçado para o teatro”, explica Eduardo, um dos membros do grupo. A partir dali, o artista residente responsável pelo Plano Nacional das Artes, Tomé Dionísio, sugeriu que a vertente da música “poderia dar mais alguma coisa, até que alguém falou no cante alentejano”.
Foi, portanto, de uma forma natural, por vontade dos alunos e com um “empurrãozinho” de Tomé Dionísio que nasce o grupo “Cante d’Eira”, assim denominado porque o primeiro ensaio foi, precisamente, na eira daquele estabelecimento escolar. “O que julgo mais interessante no projeto foi que, a partir de uma massa jovem, na sua maioria sem formação musical, vem uma proposta de cante alentejano”, partilha o responsável. “Temos uma escola muito ligada à terra e é engraçado que muitos dos alunos têm esta ligação cultural a tradições”, reforça.
No âmbito da iniciativa, que está integrada no Plano Nacional das Artes, o grupo fez uma recolha dos cantares populares e etnográficos da região, a partir do livro “Tradições Musicais da Estremadura”, de José Alberto Sardinha, e tem o objetivo de recriar aquele repertório, sendo fiel às letras, mas reinventando os regionalismos presentes com uma reinterpretação própria do grupo, no que diz respeito de “alguma métrica, algum ritmo e algumas variações”.
Apesar de ser um projeto extracurricular, há também uma parte curricular na gestão do tempo de algumas aulas para os ensaios e por pertencer ao Plano Nacional das Artes, que está ligado ao programa educativo da escola. A autonomia, a responsabilidade, a capacidade de pesquisa e desenvolvimento de conhecimentos e competências culturais são algumas das características enumeradas por Tomé Dionísio, que são fomentadas nos alunos do “Cante d’Eira”.
A primeira atuação do grupo foi no dia 19 abril, no Armazém das Artes, numa interpretação da música “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso. Atualmente, o grupo está a preparar-se para levar os cantares populares à Santa Casa da Misericórdia de Aljubarrota, com o objetivo de promover um encontro intergeracional, para que também possa ser feito, junto dos idosos, o levantamento de mais algumas cantigas tradicionais.