Após terminar o secundário, Sandra Fróis decidiu que pretendia um emprego “estável”, que obteve no balcão dos CTT em Alcobaça. Nesse espaço trabalhou durante algum tempo até ter tido oportunidade de ir laborar para a estação de correios de São Pedro de Moel, em que de manhã fazia a distribuição e de tarde estava no posto.
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Levar o correio e as encomendas aos outros é a missão de vida de Sandra Fróis, uma alcobacense com 49 anos e que trabalha há 28 anos nos CTT, empresa que lhe permitiu concretizar um dos grandes objetivos que tinha quando terminou o 12.º ano em Alcobaça: ter um emprego estável.
“Queria mesmo trabalhar nos CTT. De uma forma ou de outra era ali que queria trabalhar”, resume a profissional, que não por acaso se tornou sobejamente conhecida pelas ruas de Alcobaça. Não fosse ser a “carteira” mais popular da cidade.
É certo que as novas tecnologias vieram contribuir para que o correio fosse enviado de forma mais célere e prática e, por vezes, sem recurso a um documento físico. Aliás, já poucas pessoas escrevem cartas. Mas a profissão de carteiro continua a ser imprescindível para a população. Seja uma pessoa mais nova ou mais velha, ou até muitas empresas, é essencial que as contas da água e da luz, convocatórias, panfletos, multas e outras informações continuem a chegar a casa das pessoas. E até jornais…
Segundo explica Sandra Fróis, o dia-a-dia de um carteiro é feito de vários pontos altos: pelas 6:50 horas chega a “encomenda” com todo o serviço – desde cartas, objetos, pacotes postais, registos e tudo o que normalmente o carteiro conduz até às casas. Depois, o correio é tratado no posto, dividido e arrumado. “Só depois de tudo pronto é que vamos para a rua. Cada um com o seu percurso”, explica a alcobacense.
Mas, caro leitor, se pensa que ser carteiro é uma profissão monótona, desengane-se. E Sandra Fróis relatou uma vivência que o comprovará. “Os carteiros vivem histórias todos os dias. Uma das últimas foi um senhor, de nacionalidade estrangeira, pedir-me ajuda porque recebeu o pacote postal com fotografias e disse-me que nem queria ver pois não sabia se o filho era dele”, graceja, elencando ainda histórias em que “é dado auxílio” às pessoas e outras em que “por mais que se diga 10 vezes a mesma coisa, tudo permanece igual”.
Por tudo isto, e por muito mais, ser carteira é um orgulho para a profissional. “Dá-me a oportunidade de conviver diariamente com muita gente. Com pessoas que não têm com quem conversar e que identificam o carteiro como uma pessoa com quem podem desabafar”, justificou, acrescentando sentir-se uma “sortuda” por “toda a gente” lhe dizer “bom dia ou boa tarde”. “Ser carteira é mais do que a minha profissão, é um orgulho passar pelas ruas de Alcobaça e ouvir chamar a carteira Sandra”, salientou esta quase “psicóloga”.
Mas nem sempre foi tão fácil desde que começou a trabalhar nos CTT. A alcobacense chegou a fazer “cábulas” para saber onde eram os locais que agora conhece como a “palma da mão”. Confrontada se voltava a escolher a profissão que conheceu fruto do acaso, a resposta surge em tom de brincadeira: “nem Alcobaça era a mesma coisa sem a carteira Sandra”. “Desde o início que me sinto realizada no trabalho que faço. Não sou insubstituível, mas tenho noção que faço o melhor que sei”, atirou, reafirmando a dedicação à profissão. Até porque não há nada como chegar a um estabelecimento comercial e saber que o café já está pago por alguém. Somente porque é a “carteira Sandra”.