A “carteira profissional” designa António Marquês como tipógrafo, mas os tempos evoluíram e hoje em dia a profissão foi-se perdendo. E, ainda que hoje não desempenhe aquele “papel”, é na área gráfica que continua a dedicar a maior parte dos seus dias, liderando uma empresa familiar que se tornou uma referência no setor da impressão.
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Porque nesta edição especial recordamos profissões que marcaram gerações, é enquanto tipógrafo que vamos centrar a história do profissional António Marquês, que conta 74 anos, 60 dos quais dedicados a deixar uma boa impressão.
Tudo começou com o curso industrial de impressor tipógrafo tirado nas oficinas de São José, nos Salesianos, em Lisboa. “Os cursos industriais, e, neste caso, os Salesianos, tinham as artes gráficas, com impressoras, compositores, linotypes, tinham eletromecânica, eletricistas, carpinteiros…” recorda o beneditense, assumindo que foi pela “piada” que achou às máquinas de impressão que acabou por se decidir. “Não estava vocacionado diretamente para nada, mas dentro da possibilidade de escolher um curso industrial foi aquele que mais me interessou”, sublinha.
E nas últimas seis décadas muita coisa mudou no setor. “Desde que entrei no curso industrial até hoje, todo o processo de preparação de impressão mudou a 100%. No sentido de equipamento, da tecnologia, dos processos…”, conta. “Inclusive, além de começar a aprender a função de impressor tipográfico, tínhamos de aprender o mínimo suficiente de composição manual. Portanto, já se está a ver o que é hoje um computador e o que é estar a juntar letra a letra num compendedor, onde se juntava os caracteres”, brinca.
“Ainda marginei muito papel à mão”, nota António Marquês, acrescentando ter trabalhado com máquinas sem motor: “Algumas mais pequenas e ainda à mão, em que colocava o papel e puxava, e outras com recurso a um pedal, em que a máquina se movimentava com o pedal”.
Posteriormente, a profissão evoluiu e recorreu-se à linotype, uma máquina equipada com chumbo em ponto líquido, na qual era possível compor uma linha inteira de texto e que, assim que batida no teclado da máquina, era logo fundida. Este mecanismo permitiu aumentar a produtividade das tipografias.
Se a produtividade foi crescendo ao longo dos anos, o tempo também começou a escassear. “A evolução da tecnologia foi bastante desde que comecei neste ofício. Realmente as coisas levavam tempo, mas havia tempo para tudo. Hoje é tudo tão rápido e não há tempo para muito”, compara.
“Durante muitos anos, o setor da tipografia foi um mercado que prosperou muito, mas que acabou por ir perdendo força até se extinguir”, notou, revelando que foi a sua primeira profissão e aquela que o fascinou desde sempre. Também não é por acaso que ainda hoje preserva e utiliza a primeira máquina (a que está na fotografia) que adquiriu. Já não com o propósito que tinha quando era tipógrafo, mas para ajudar ao processo hoje utilizado no ofício. “Já não imprime, mas é utilizada para moldes de corte e vinco”, revela o homem que fundou a Relgráfica, empresa familiar que se tornou uma referência na área de impressão.
É certo que nos tempos que correm António Marquês, natural da localidade do Algarão, já não desempenha mais aquelas funções, tendo o mercado obrigado a readaptar-se e a inovar no setor das artes gráficas. E ainda que empregue atualmente mais de 20 colaboradores na sua empresa, continua a ser como tipógrafo que mais gosta de ser conhecido.