Mário Cordeiro já perdeu a conta aos quilómetros que percorreu um pouco por todo País com os seus táxis, mas tem a certeza de que o número já ultrapassa os 5 milhões. As contas foram fáceis de fazer: às quatro viaturas que adquiriu, juntou-lhe médias de várias centenas de milhares de quilómetros por veículo.
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Em meio século de atividade enquanto taxista, é facilmente percetível que aquele número não será excessivo. Tanto é que os colegas de praça em Alcobaça o indicaram de imediato para ser o “fiel” representante do ofício na edição de aniversário que o REGIÃO DE CISTER lhe entrega hoje em mãos.
Como quase sempre sucede, tudo começou por acaso. Mário Cordeiro nasceu há 82 anos no concelho de Bragança, até começou por ser sapateiro, mas depois do 25 de Abril e de já ter vivido em vários países do continente africano, acabou por descobrir o mundo dos táxis.
Desde então, foi nesse ofício que percorreu Portugal de lés-a-lés. Lisboa, Mirandela, Coimbra, Régua, Braga foram alguns dos locais onde transportou clientes. “Fazíamos muitos serviços para transportar pessoas aos hospitais, às sessões de hemodiálise… Hoje já não é assim”, atira. Voltemos aos números para perceber a realidade: “antigamente fazia uma média acima dos 200 quilómetros diariamente e hoje em dia, em média, devo fazer mil quilómetros por mês”, sublinhou o condutor. “Havia dias que não conseguíamos parar aqui na praça, tal era a quantidade de trabalho”, acrescenta.
Ao longo das últimas cinco décadas, o taxista, que até reside em Salir do Porto, já no concelho de Caldas da Rainha, conta uma vida de dedicação à profissão. “Tive dias em que saía de casa às 4 ou 5 horas da manhã e que já chegava à meia-noite”, relembra o octogenário, revelando que, por vezes, era solicitado para efetuar transportes em dia de descanso.
“Fui regularmente chamado para serviços ao domingo pois não havia transportes públicos tão acessíveis como há agora”, diferencia, revelando que se mostrava sempre pronto para “aceder” aos pedidos dos clientes. “Se não estivesse ocupado, aceitava sempre os serviços”, complementou o “nortenho emprestado a Alcobaça” há largas décadas.
Foi através da família que Mário Cordeiro conheceu Alcobaça – tinha irmãos que já residiam na região –, mas, a verdade é que, como diz a canção, “quem passa por Alcobaça não passa sem lá voltar” e por isso a história tinha de ter continuidade. O taxista não só voltou, como se fixou na zona. Por cá criou a sua família, viu os filhos crescerem e agora acompanha o mesmo processo, mas com os netos.
É já uma cara bem conhecida de quem passa pela praça instalada bem próxima aos Paços do Concelho. Todavia, e porque a longevidade dos 82 anos já deixam marcas, Mário Cordeiro revelou que o final de carreira está próximo. “Venho para o serviço também para me manter entretido, mas já não cumpro os horários como antigamente”, brinca o antigo sapateiro que hoje já “só sai para quatro ou cinco serviços diariamente”.
Questionado se ser taxista foi a profissão da sua vida, a resposta não poderia ser mais perentória. Tão perentória quanto a certeza de que voltaria a escolher o mesmo percurso se recuasse ao início da vida profissional. Até porque no caso de Mário Cordeiro, um taxista que integra, por certo, o lote de mais antigos taxistas em qualquer praça do País, o GPS nunca foi necessário para saber o caminho por onde seguir — deste taxista que, ainda hoje, tem particular gosto em conduzir os clientes pelos caminhos de Portugal.