Há profissões que “nasceram” fruto da evolução dos tempos. Outras há que se foram extinguindo ao longo das décadas. Mas também existem aquelas que continuam a ser necessárias. Tal como o eram há mais de 60 anos, período em que Joaquim Pescada, natural de Fanhais, se iniciou como pintor de construção civil. Aos 12 anos.
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Naquele tempo, a necessidade de trabalhar para ajudar a família impunha-se em tenra idade e, depois de atuar como ajudante de serração em Pataias-Gare, Joaquim Pescada tornou-se pintor da construção civil — estatuto que ainda hoje ostenta aos 76 anos, mesmo após se ter aposentado.
Se hoje considera mais fácil ingressar na profissão — “há mais material e mais evolução” —, o mesmo não se podia dizer no início da década de 1960. “Naquela época, só quem trabalhou na construção civil é que sabia como era. Não havia tantos materiais, e a forma como se trabalhava a madeira ou as paredes era completamente diferente”, explica o habitante da localidade de Fanhais, no concelho da Nazaré, recordando que a tinta era muitas vezes feita pelos próprios pintores. “Havia pouca tinta pronta. A cor éramos nós que fazíamos em plena obra, com corantes…”, acrescenta.
“Era tudo à base de sacos de pó e cal. Fazia-se a mistura e depois criavam-se as cores. Era tudo manual, não havia cá máquinas”, graceja o homem que trabalhou durante quase toda a vida naquele ofício. “Houve apenas um período em que estive na Marinha de Guerra”, contextualiza o nazareno, que mais tarde se interessou também pela atividade política, ao serviço da CDU.
Começou a trabalhar aos 12 anos, e o conhecimento sobre como pintar era passado pelos mais experientes — não havia manuais. “Tínhamos de aprender com os mestres e com aqueles que já trabalhavam há mais tempo no ofício”, justifica. “Há 60 anos, tínhamos de saber fazer as cores, perceber se era melhor usar água, diluente…”, relembra Joaquim Pescada, para quem “hoje é tudo muito mais simples”, desde a lavagem dos edifícios até à pintura final.
Enquanto profissional da pintura na construção civil, acabou por conhecer várias zonas do país em trabalho. Todavia, foi na região — e sobretudo nos concelhos de Alcobaça e da Nazaré — que laborou durante a maior parte das seis décadas de ofício. “Ainda trabalhei, entre outras grandes obras, na pintura do centro comercial Gafa. Não na primeira, que o edifício é mais antigo, mas na segunda vez que o prédio foi pintado”, recorda, elencando outras obras em que empunhou a trincha e deixou uma parede ou uma casa mais coloridas.
Nos concelhos de Alcobaça e Nazaré são, por isso, vários os espaços que terão passado pelas suas mãos. Profissional dedicado, trabalhou com grandes mestres ao longo dos anos, e assegura que a rivalidade entre pintores era praticamente inexistente. “Ainda gosto de encontrar os pintores do meu tempo — que já não são muitos — e recordar histórias e a forma como se trabalhava antigamente”, partilha.
Com mais de 60 anos de experiência neste ofício, Joaquim Pescada — que também transmitiu os seus conhecimentos aos filhos — confessa não ser adepto de pinturas que não envolvam um pincel, uma trincha ou um rolo na mão. Mas de uma coisa tem absoluta certeza: “O meu sonho é acabar com o pincel na mão”, atira o “fanheiro”, demonstrando que, enquanto a vida e o corpo o permitirem, será à pintura que continuará a dedicar grande parte dos seus dias.
Assim tem sido há mais de seis décadas para este “artista” que continua, mesmo aposentado, a pintar — com orgulho e paixão — a chamada região de Cister.