A caminho da reforma, José Querido não esquece o contacto com as pessoas que estabelece há mais de uma década como gasolineiro, um ofício cada vez mais difícil de encontrar.
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O avanço tecnológico tem substituído alguns postos de trabalho que há poucos anos pareciam ser insubstituíveis, no entanto, ainda há lugares que não trocam a mão humana pela máquina. É o que acontece no posto de gasolina da Cooperativa Agrícola de Alcobaça, onde José Querido exerce a profissão de gasolineiro há sensivelmente uma década.
“Aqui há um atendimento personalizado, uma particularidade diferente de outras bombas, que normalmente têm um serviço de ‘self-service’, em que é o condutor [ou um passageiro] que abastece o veículo. Depois fazem o pagamento ao atendedor que está na cabine ou numa máquina”, começa por explicar o gasolineiro com 60 anos feitos em fevereiro.
Entre as várias características que compõem o ofício, José Querido destaca o contacto com o público como uma das grandes diferenças para outros trabalhos que teve no passado. “Há dias em que se não ler os jornais, chego ao final do turno informado na mesma porque vou conversando um bocadinho com cada pessoa”, conta ao REGIÃO DE CISTER. É precisamente este contacto permanente que, com o passar dos anos, ajuda a desenvolver múltiplos aspetos como a empatia e a sensibilidade. “Ouvir as pessoas, as novidades e até os desabafos pessoais é algo que faz parte desta profissão”, justifica, salientando também os inúmeros rostos com quem cria ligação através das relações habituais com os clientes.
Antes de ingressar na Cooperativa Agrícola de Alcobaça, José Querido trabalhou 10 anos na área da cerâmica, 20 numa fábrica de produção de papel para computadores e dois num caixa de supermercado. Agora, o trabalho é ligeiramente mais leve e a constante interação com o público “facilita” e faz com que o ofício “não seja tão rotineiro”, no entanto, o trabalhador natural do Areeiro (Évora de Alcobaça), mantém a exigência. “Apesar de não ser um trabalho muito exigente a nível técnico, é preciso ter muita atenção a cada abastecimento, praticamente, e a cada fatura que sai para não haver erros”, vinca.
A experiência ao longo do tempo no mesmo posto de trabalho permite-lhe “aperfeiçoar os métodos corretos”, algo que não acontece com o self-service, mas também possibilita a identificação de alguns fenómenos relacionados com o comportamento das pessoas, principalmente, quando o assunto se trata da carteira. “Antigamente, os abastecimentos eram mais regulares, mas agora noto que as pessoas estão muito mais atentas ao preço dos combustíveis e isso gera alguns picos. Quando há uma descida anunciada, as pessoas esperam pela segunda-feira para abastecer com o preço novo. Pelo contrário, quando há uma subida, os clientes abastecem no final da semana, antes do valor atualizar”, descreve José Querido.
Com o pedido de reforma entregue recentemente, o gasolineiro vive os últimos meses de trabalho nas bombas de combustível da Cooperativa Agrícola de Alcobaça. Quando questionado sobre aquilo de que sentirá mais falta, José Querido aponta o “contacto diário com os colegas e com público”, algo que fez sempre parte de uma rotina de uma década de dedicação ao ofício.