Com 82 anos de vida, 68 deles foram dedicados à arte e à precisão de fazer o tempo avançar. Falamos de Martinho Ribeiro, natural de Turquel e radicado em Alcobaça, um relojoeiro de alma e coração, que é ainda um dos proprietários da Óptica Martinho, uma casa que já atravessa gerações e continua a ser um ícone na cidade.
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A paixão pelos relógios nasceu com o pai, António Ribeiro, ainda novo, dedicava-se a consertar relógios para escapar ao trabalho pesado no campo. O gosto e o interesse pelo artefacto foi transmitido aos filhos – um dos quais viria até a ter uma fábrica de relógios em Turquel –, com Martinho Ribeiro a ser o mais fiel seguidor da tradição.
“Trabalhava de noite, de dia, de madrugada estava até às 3, 4 ou 5 da manhã. Ao fim de semana era igual”, assegura o turquelense ao REGIÃO DE CISTER, contando que naquela época havia muitos relógios mecânicos. “Hoje em dia os relógios são quase todos de quartzo”, afirma.
E como é trabalhar com relógios? “Ainda hoje, apesar de tudo, há segredos. A própria máquina, por vezes, tem pequenos segredos que nos traem a memória. Precisamos de tentar, descobrir e desmontar. É uma arte de paciência, além de ser técnica. Felizmente, tenho muita paciência”, confidencia, entre risos.
Embora a técnica tenha evoluído, o artífice nota que este ofício continua a exigir calma. “Na prática, ainda continuo a trabalhar e a reparar relógios. Mas, como disse, a técnica hoje é muito diferente. Os relógios de quartzo não têm nada a ver com os mecânicos”, nota. “Porém, a experiência que acumulei ao longo dos anos faz com que não demore muito tempo a resolver qualquer problema”, assevera.
É na oficina que Martinho Ribeiro ainda passa a maior parte do tempo. Ao abrir a porta daquele pequeno espaço para o REGIÃO DE CISTER, o turquelense revela o seu mundo: relógios que marcam horas e horas, quase tantas quanto as centenas de milhares que já passaram pelas suas mãos ao longo do seu percurso.
Desde relógios de parede e despertadores, até relógios de bolso e de pulso, o repertório é vasto. Todos eles continuam ainda a fazer as delícias do profissional, que mantém, após quase sete décadas, a nutrir uma paixão imensa por aquela arte.
“Se voltasse ao início da minha vida, sabendo o que sei hoje, voltaria a ser relojoeiro”, confessa, certo de que a paixão que herdou do pai ainda se mantém viva. “Tenho mais de 300 relógios que guardo com muita estima num armário”, elencou o relojoeiro, afirmando que regularmente gosta de ir trocando o relógio que utiliza.
Martinho Ribeiro já conta mais de oito décadas de vida e o percurso de vida ajuda também a contar a importância e a evolução do artefacto. “Antigamente, um pai dava um relógio a um filho como forma de o premiar por algo. Hoje já não é bem assim, quase toda a gente acaba por ter um”, comparou, evidenciando que os telemóveis acabaram por substituir, em certa medida, aquele adereço. Contudo, sustenta também, os relógios continuam a ser procurados tanto por homens e mulheres, permanecendo, em alguns casos, como um “artefacto valioso”. Ainda que já não tenha a expressão de antigamente. “Havia pessoas que compravam relógios a prestações…”, elencava também o mais antigo profissional daquele ofício em funções na cidade de Alcobaça.
Para Martinho Ribeiro, o relógio é muito mais do que um simples acessório. O objeto acaba por ser o reflexo de uma vida de trabalho árduo e dedicação. Não apenas reparou relógios, mas ajudou a preservar uma tradição, deixando um legado que continuará a contar o tempo, nomeadamente na Óptica Martinho.