Vitórias morais não enchem salas de troféus, mas podem ser verdadeiros pontos de viragem na história. É certo que o Nazarenos perdeu diante do Caldas B (1-1, 2-4 após desempates por grandes penalidades) na final da Taça Distrito de Leiria, disputada no passado domingo, na Marinha Grande, todavia, o dia jamais sairá da memória recente das gentes da vila.





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O clima vivido antes, durante e depois do jogo foi demonstrativo da união de uma vila à beira-mar plantada. Uma terra que dá casa a um dos históricos do futebol distrital e que se deslocou em grande número até ao Municipal da Marinha Grande. Mas deixemos a história do encontro mais para a frente. Até porque, antes, houve mais para contar.
Pelas 11 horas da manhã, já dezenas de adeptos se juntavam na sede dos alvinegros para começarem a viver a festa da Taça. Equipados a rigor, com camisolas e cachecóis do clube, beberam-se as primeiras imperiais e comeram-se as tradicionais sandes de porco no espeto (não chegaram para todos os adeptos que foram ao estádio). Os mais velhos enalteciam uma união que “já não se via há muito tempo”. Os mais novos iam vivendo aquela euforia pela primeira vez. Afinal, a última vez que o Nazarenos foi a uma final da taça distrital foi em 1996/1997.
Ao REGIÃO DE CISTER foram-se revelando promessas, depositando a confiança no “Viktor Gyökeres do Nazarenos” – Ricky – e mostrando toda a esperança no triunfo do clube. Além disso, destacavam o momento que se vivia em torno do clube, momento que surgia refletido pelos demais clubes da Nazaré. AR Pederneirense e Sótão iam deixando mensagens de grande incentivo, numa simbiose que ganhou forma já a pouco mais de duas horas do apito inicial.
A chegada do autocarro que transportava a equipa do Nazarenos foi digna de um dos grandes do futebol português e o apoio das bancadas durante o jogo… superou. Ao longo dos 120 minutos do encontro, as largas centenas de adeptos alvinegros nas bancadas deram um verdadeiro espetáculo. Cantaram, gritaram e soltaram toda a euforia aquando do tento de Ricky, que permitiu o empate já nos últimos minutos. Se no campo, o resultado acabaria por ser negativo, fora dele o resultado foi inesquecível.
E prova disso foram os discursos do treinador Walter Estrela e do capitão Ricky. “Os adeptos foram incansáveis, parecíamos um clube de 1.ª Liga”, assumia o capitão, ao passo que o técnico admitiu mesmo que “nunca em tantos anos de profissionalismo” sentiu o que viveu no domingo. “O que vi foi inacreditável. Foi sentimento, foi paixão, foi pele, foi orgulho, foi mar, foi sal, foi gerações, foi a Nazaré a remar toda para o mesmo lado e com uma força de quem rompe ondas toda a vida. Obrigado, Nazaré”, exaltou.
Da lado dos adeptos, o sentimento foi idêntico: “Apesar de termos perdido, a envolvência da Nazaré foi incrível. Chegámos à final e só isso foi um bom trabalho. Hoje viu-se a união do povo nazareno desde o princípio. E mesmo no final, apesar da derrota, conseguimos apoiar a equipa e isso é o mais importante” sublinhou João Tavares após o final. O adepto alvinegro argumentou que “por vezes não é na vitória, mas é no orgulho”. “O Nazarenos é mesmo orgulho”, vincou ainda. “Procurar títulos já é uma ambição de sempre, mas esta caminhada ajudou a voltar a juntar a vila em torno do Nazarenos”, enfatizou o adepto.
É certo que o Nazarenos viu prolongar-se o “jejum” quanto à taça distrital – não ganhou nenhuma das últimas três finais da Taça Distrito de Leiria –, mas também foi notório que esta derrota pode mesmo ter sido o início de um futuro de sucesso para o clube. E, como partilhavam os adeptos já após o final do encontro, o “gigante Nazarenos ainda não ganhou, mas está a acordar”.
Final equilibrada só decidida no desempate por grandes penalidades
A final da Taça Distrito de Leiria foi decidida apenas no desempate por grandes penalidades, num momento em que o guarda-redes Duarte Almeida (Caldas) se exibiu em grande plano, defendendo duas tentativas. Isto já depois da igualdade a uma bola no final dos 120 minutos. Na primeira parte não houve golos, ainda que o Caldas tenha sido ligeiramente mais criterioso, e foi preciso esperar pela segunda parte para as redes abanarem. Tiago Catarino aproveitou uma saída em falso de Mocheco, aos 64, com Ricky, com um cabeceamento sem hipóteses, a empatar a contenda já aos 83. No prolongamento, houve um Nazarenos mais experiente, ainda que sem a desejada assertividade. Nos penáltis, tudo podia acontecer. E aconteceu futebol…