É impossível contar a história do comércio em Pataias no últimos 50 anos sem falar de Júlio Felicidade. São dele uma série de negócios pioneiros, que começam, em 1980, com uma papelaria onde também vendia cassetes e discos em vinil, uma novidade à data na então aldeia.
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Desde muito novo que ganhou a alcunha “Tim Tim”, que acabaria por ser a imagem de marca de várias lojas que abriu no centro de Pataias, onde nasceu. Estudou para ser professor, mas os negócios corriam-lhe no sangue desde que se lembra de ser gente. Os pais eram comerciantes e também pioneiros. “Lembro-me, com 6 anos, de eles terem a fábrica de sapatos, com 10 empregados, uma mercearia e uma taberna.
Mais tarde tiveram o primeiro café de Pataias – porque era só tabernas –, onde instalaram a primeira televisão”, conta Júlio Felicidade, que, depois da escola em Pataias e na Nazaré, tirou o curso do Magistério Primário em Leiria. Foi colocado numa escola de Peniche, mas nunca chegou a exercer. Em vez disso, foi trabalhar para a boite Mina, junto a Paredes da Vitória, como apanhador de copos e, mais tarde, como porteiro, barman, chefe de sala e “Disc Jockey, como se usava na época”. Ali esteve seis anos.
Pediu trabalho a várias pessoas de Pataias, sem sorte. “Em todos os sítios onde bati à porta, ninguém apostou no Júlio”, conta. Não desarmou e resolveu abrir o seu próprio negócio, aos 22 anos. A Papelaria Tim Tim, que teve durante duas décadas, vendia cadernos, livros, lápis, canetas e borrachas, mas também as procuradas cassetes de música e, pouco depois, discos em vinil, que só ali se encontravam e eram muito cobiçados pela clientela jovem. “Passou a ser um ponto de encontro da juventude em Pataias”, recorda o empreendedor. Foi ali que conheceu a mulher. No mesmo dia pediu-a em casamento e três meses depois estavam casados.
Era também dele a primeira sala de jogos, a primeira cervejaria, a primeira livraria e a primeira loja de artigos de desporto de Pataias. Vendeu de tudo um pouco, sempre preocupado em responder com as novidades do mercado. Levou para a vila o primeiro quiosque, importado do Brasil, e construiu o primeiro mini centro comercial, onde havia seis lojas, e que mais tarde vendeu à Escola de Condução Alcobacense.
Foi agente do Círculo de Leitores, teve um popular negócio de aluguer de cassetes de vídeo e a Tim Tim Teenager, uma loja para adolescentes com produtos que só se viam na capital do país. “Os anos 90 foram os meus anos de glória”, recorda Júlio Felicidade, que construiu e explorou o restaurante do Parque de Campismo das Paredes, e geriu também o Restaurante Floresta, em Pataias.
A aventura do empreendedor levou-o a abrir, em parceria com um amigo, a discoteca Jardim Bar, onde hoje a família Felicidade gere a Quinta da Boubã. A discoteca, que ficou muito famosa pelos concertos com bandas como os Moonspell, Blind Zero, Primitive Reason ou Xutos & Pontapés, era o ponto nevrálgico da noite na região. O sócio acabou por vender a quota à mulher de Júlio, que se revelou fundamental para o sucesso do empresário. “Ela e a minha mãe”, confessa Júlio Felicidade, prestes a completar 67 anos.