O que têm em comum um ascensor, uma igreja, uma roda gigante, uma igreja e um carrossel? As mãos de João Bexiga, carpinteiro e marceneiro de profissão e verdadeiro artista das miniaturas em madeira, feitas ao mais ínfimo pormenor. As obras do “siteiro”, que completa 88 anos no próximo mês de setembro, estiveram expostas no Centro Cultural até ao passado domingo.
Este conteúdo é apenas para assinantes
João Bexiga replica a realidade ao detalhe. Na igreja, por exemplo, está lá tudo. A escadaria e toda a beleza da arquitetura da fachada principal. Os bancos em madeira e todo o interior, as janelas, os sinos, os santos, o altar e os fiéis. Da mesma forma, no ascensor não faltam as carruagens, os carris ou a grande inclinação. Como também é mecânico de máquinas, consegue dar vida às criações, para as quais agradece a ajuda do filho nas ligações elétricas. “Por baixo da igreja, é uma autêntica central elétrica”, elogia o carpinteiro. Certo é que tudo mexe e ganha vida, entre mecânica, motores e luzes.
Antes de trabalhar a madeira, estuda os originais, de tamanho real. “Quando faço qualquer coisa, vou lá ver todos os pormenores por dentro e por fora”, descreve o nazareno.
“Isto começou com o elevador em 2013”, relata o carpinteiro, lembrando que, a partir dali, nasceu a vontade para dar corpo a outras réplicas. Na oficina, em casa, um armazém de 160 m2, ainda tem um helicóptero, o circo e a esfera da morte. A madeira domina as obras de arte, feitas ainda com recurso a ferro e material elétrico. “Ainda quero fazer a pista de automóveis e a praça de touros”, anuncia João Bexiga.
Constrói “aos bocadinhos”. Às vezes, confidencia, levanta-se de noite quando tem alguma ideia no momento e que tem de pôr logo em prática. Já não conta, como gostava, com a ajuda da mulher a vestir os bonecos “porque ela já tem problemas nos dedos”.
Há muito que queria expor no Centro Cultural. “Fiquei apalermado com o movimento disto à noite”, conta João Bexiga, que é oriundo de uma família de carpinteiros. Viveu, a partir dos 16 anos, em Vila Franca de Xira, cidade onde já morava um irmão. Mudou-se para ganhar mais, conta João Bexiga, e foi para lá com a ajuda da madrinha, depois de ter “perguntado na rodoviária quanto custava um bilhete”.
os 29 anos, emigrou para África do Sul, onde esteve durante 17 anos como decorador de grandes lojas, restaurantes e hotéis. “A minha mãe queria que eu fosse pintor e estucador”, recorda o octogenário, que prontamente lhe respondeu que o que queria era ser carpinteiro, como os seus familiares.
Reformado e regressado às raízes, vai entretendo-se a criar peças únicas. Ou, como descreve o texto de apresentação do Centro Cultural, as réplicas que “não são apenas modelos, são declarações de amor à Nazaré”.