Há mais uma razão para visitar o Armazém das Artes. O espaço cultural de Alcobaça recebe até março do próximo ano a reinterpretação da Batalha de Aljubarrota de António Cassiano Santos, que junta numa única tela de grandes dimensões o passado e a contemporaneidade.
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Inaugurada na passada quinta-feira, data em que se celebraram os 640 anos deste marco histórico, “Batalha Real” propõe uma reflexão profunda sobre a identidade e a cultura de Portugal, partindo dos factos, dos mitos e das lendas e focando na contrariedade que equilibra a progressão da sociedade.
“Trata-se de um momento na história que nós podemos todos dizer que nos identifica e que não há contenção em relação a essa identificação”, sublinhou o artista, na ocasião.
Através de uma visão simbólica e provocatória, a pintura a óleo com dois metros de altura e três de comprimento mostra um novo campo de batalha, colorido e contraditório, em que não faltam as figuras incontornáveis daquele acontecimento. Em destaque, D. Nuno Álvares Pereira, a cavalo, é apresentado como um “rebelde intemporal”, através do qual é estabelecido um paralelismo entre o “atual” e o “antigo”.
“Procurei que fosse um rebelde um bocadinho mais moderno e que tivesse umas feições mais femininas, uma vez que se trata de uma questão muito fraturante e porque queria que a tela demonstrasse o valor da tolerância”, adiantou António Cassiano Santos, em declarações ao REGIÃO DE CISTER.
A dama das bilhas, uma aguadeira que levou à batalha água para dar aos filhos que estavam a combater e que, em pleno verão, acabou também por tirar a sede a D. Nuno Álvares Pereira, e, claro, a lendária Padeira de Aljubarrota, com seis dedos em cada mão, representam ainda o universo feminino presente na obra.
“As descrições históricas mostram que a padeira era uma mulher muito feia, muito masculina e associada ao trabalho no campo. Achei que isso não era algo que fosse inteiramente repreensível e que o ‘valor de feia’ poderia ser nublado. Por essa razão decidi torná-la mais bonita”, acrescentou o artista que pretende através deste trabalho que o visitante reflita sobre a posição e o papel da mulher daquela época.
São Jorge e o arqueiro inglês foram outras das figuras reproduzidas na tela que retrata o confronto entre o Reino de Portugal e o Reino de Castela ocorrido nas proximidades da vila de Aljubarrota, que foi decisivo para assegurar a independência do País.