Isabel Ventura volta a liderar a candidatura do Chega à Câmara de Alcobaça, quatro anos depois da estreia autárquica. Defende o crescimento do partido, apresenta as principais propostas e rejeita críticas de extremismo.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Em 2021, o Chega foi a quarta força política em Alcobaça. O que leva a acreditar que o resultado pode ser diferente?
ISABEL VENTURA (IV) > Há um interregno grande. Muito mudou nas nossas vidas, na cidade e no concelho. Tal como no contexto político, local e nacional. Nas últimas legislativas, o Chega foi o segundo partido mais votado no concelho, não fazia sentido que não fosse apresentada uma candidatura, apesar dos valores abaixo dos 5% em 2021, perto do CDS-PP, que este ano não vai a votos. Mas isso expressou o que era o Chega no momento e até foi um impulso bom para o que veio a acontecer logo a seguir. As candidaturas locais são muito importantes porque têm de dar resposta aos requisitos e às necessidades dos munícipes.
RC > André Ventura está nos outdoors da campanha. É ainda necessária a figura do líder nacional para dar credibilidade a nível local?
IV > É uma opção nossa, não uma imposição. O convite para encabeçar a lista é, obviamente, uma decisão do presidente do partido. A perceção da equipa era de que, numa primeira apresentação, deveria aparecer o nosso presidente com todos os candidatos. Obviamente que é uma figura marcante da nossa política. Temos um orgulho enorme em estar ao lado dele na fotografia e estamos, de coração, sempre com André Ventura.
RC > O que a motiva a voltar a dar a cara?
IV > Aquilo que me move é o mesmo que me movia há quatro anos: o amor à minha terra. Sou uma alcobacense de gema e é o amor à minha cidade, ao meu concelho, que me viu crescer, que tem um significado e um peso histórico… Alcobaça esteve sempre presente na história do nosso País e temos momentos marcantes, por isso, este território tem de ser bem representado. Para o presente e futuro, a expectativa é de desenvolvimento económico do concelho, que seja sustentado e ambientalmente sustentável. Com respeito por todos. Neste momento há uma situação que acresce ao que acontecia há quatro anos, que é o aspeto cultural e tradicional. Há que manter as nossas tradições, as que são realmente nossas, e tentar preservá-las para o futuro. Estou muito esperançosa em que consigamos atingir um bom resultado.
RC > Em 2022, formalizou a candidatura à liderança distrital do Chega em Leiria, mas acabou por desistir alegando ter recebido um e-mail com tom de ameaça. O que aconteceu?
IV > A questão não me parece relevante neste momento. Não estamos em contexto de eleições internas. Estive sempre com a Direção nacional. Saí e voltei a entrar, mas nunca contra a Direção nacional. O que aconteceu é o que acontece em todos os partidos, que é haver algumas fricções entre militantes e candidatos a determinados órgãos do partido. Não se passou nada de relevante com a Direção nacional, em quem sempre confiei e que confiou em mim. Com o convite para voltar a ser candidata, reafirmam essa confiança.
RC > Pretende criar uma polícia municipal em Alcobaça e quer reforçar a videovigilância em escolas e zonas públicas. Considera que Alcobaça tem problemas de segurança?
IV > Alcobaça já tem alguns problemas de segurança, como existem em tantas outras terras. A proposta das câmaras de videovigilância é mais preventiva do que curativa. Por isso, e se é mais preventiva, não expressamos uma preocupação enorme em termos de segurança, mas temos uma preocupação enorme em que o que encontramos neste momento se altere, por contágio com o que acontece em cidades e regiões vizinhas. Será algo preventivo e espero que seja sempre preventivo.
RC > Afirma também querer implementar sistemas de anticorrupção e qualidade na Câmara. Está a querer dizer que o atual executivo é ineficiente ou corrupto?
IV > Não estou a colocar chavões em ninguém, mas, para os munícipes, é muito importante a transparência da gestão autárquica. Todos gostamos de estar informados. Sabemos que há ajustes diretos na gestão e esta é uma tentativa de minimizar esses ajustes diretos. A transparência na gestão autárquica é uma grande bandeira da nossa candidatura. Por que não criar ferramentas e mecanismo para que isso aconteça? Precisamos de ter um sistema implementado, não tem de ser certificado, e a ferramenta principal é o portal da transparência, que funcionará em sintonia com o Portal Base e será atualizado com termos de contratos imediatos. Para que todos os munícipes estejam esclarecidos. E é importante também para quem está a gerir, uma vez que quem não deve não teme. Isto acaba por ser um descanso para cada um dos que está a gerir e não há espaço para que se aponte o dedo. Vamos pensar na mesma num sistema preventivo. Na Área de Localização Empresarial da Benedita, há lotes que são entregues por ajustes diretos e outros por concurso público. Estas situações não fazem sentido e tem de haver um método e regras bem definidas. Quem tem prioridade nos terrenos contratualizados, a existência de empresas que já estão sediadas no nosso concelho e outros requisitos… As regras do jogo têm de estar bem definidas. A Aleb é um projeto que não foi totalmente implementado por este executivo, mas sim finalizado, tal como a existência do Panorama, a aprovação do Plano Diretor Municipal (PDM), que demorou mais de 20 anos a ser aprovado e que é aprovado em julho de 2025, com eleições em outubro de 2025. Não me parece uma boa bandeira para o executivo o PDM ter sido aprovado desta maneira. Não serve todos os alcobacenses e vai ser uma medida do Chega pedir a revisão do PDM porque, neste momento, não dá resposta ao que são as expectativas de todos os alcobacenses. O executivo não teve obra porque finalizou projetos. Não teve projetos de raiz em quatro anos, que iniciou e finalizou.
RC > E que bandeiras eleitorais elenca para esta candidatura?
IV > Temos boa representatividade em termos económicos, estamos bem situados em relação a outros concelhos, mas queremos mais e melhor. Na candidatura, há uma peça fundamental que é a criação de um polo técnico, a sul do concelho, na Benedita, que é onde estão implementadas o maior número de empresas da indústria transformadora. Existe a Aleb e esse potencial que já existe vai ter um crescimento maior. O polo técnico faz todo o sentido nessa freguesia, comportando parcerias com as empresas. Os empresários têm muita dificuldade em recrutar colaboradores qualificados e seria uma forma de haver uma transmissão daquilo que são as necessidades das empresas em termos de formação. Esse polo, de alguma forma, dará resposta a essas necessidades e, assim, aumentaríamos a empregabilidade e teríamos o tão desejado crescimento económico. Outras bandeiras passam pela criação da via verde municipal, que garanta a resposta, em 10 dias, aos pedidos de licenciamento simples. Os processos são morosos e burocráticos, não facilitando o desenvolvimento económico. Assim como a falha em termos de habitação. Os licenciamentos têm de ser simplificados e céleres e há que ter uma equipa alocada com esse objetivo. Em termos de grandes projetos, e pensamos em 12 anos, pretendemos construir os novos Paços do Concelho, porque acreditamos que não temos serviços condignos. Temos também as forças de segurança em edifícios quase por empréstimo e que não fazem sentido. A Assembleia Municipal não tem um espaço próprio e a gestão é feita num espaço comum com o executivo…
RC > Em 2021, o Chega concorreu apenas a duas juntas de freguesia. Este ano apresenta listas em 11. Este aumento representa um enraizamento local ou é um reflexo do crescimento do partido?
IV > Reflete o que tem sido o crescimento do partido a nível nacional e há cada vez mais simpatizantes e militantes nas diferentes freguesias, o que propiciou diversas candidaturas. As únicas em que não apresentamos listas, também pela especificidade das freguesias, são Maiorga e Bárrio. Foi opção enquanto equipa e sentimos que realmente existiam candidaturas independentes de peso… E, sou franca, já foi um trabalhinho megalómano, de repente, termos 13 listas autárquicas: a câmara, a assembleia municipal e as 11 freguesias. Um bom resultado é ganhar algumas das freguesias. Não temos a ambição de ganhar todas, mas há freguesias em que apostamos fortemente na vitória.
RC > Este ano, há candidatos que concorrem pelo Chega, mas que nas últimas autárquicas estavam noutros partidos. E também há antigos candidatos do Chega que agora estão noutras listas. Essa mobilidade não descredibiliza o projeto?
IV > Não descredibiliza. Há um cabeça de lista em 2021 que não está nas candidaturas do Chega e está num outro partido da oposição [Jorge Henriques]. É uma opção pessoal e que respeitamos. Também temos um candidato de peso, que esteve por um movimento de outro partido, foi eleito e teve a sua atividade política como independente. Está agora connosco [José António Correia]. Não me parece que seja oportunismo político. É uma forma de cada candidato estar na política e também da fase de vida que está a viver. No Chega não somos pessoas do carreirismo político, mas da vida civil, do trabalho e de currículos feitos com a nossa profissão.
RC > O Chega tem sido acusado de extremismo, racismo e populismo. Como reage a quem diz que está a candidatar-se por um partido antidemocrático?
IV > Não estou e nunca estive a candidatar-me por um partido antidemocrático. E se falarmos de falha de democracia, no poder local sentimos isso. Houve dificuldade em termos candidatos, uma vez que há simpatizantes, e pessoas de valor, que nos dizem que se revêm na ideologia do Chega, mas que, por algum familiar ter ligações a alguém que está no poder, ou por ter negócios com a Câmara… isto é uma pedra no sapato. Em termos locais, não podemos ter uma democracia encapotada. Esses chavões são um disparate. O partido respeita toda a gente. Como é que podíamos ser racistas se temos pessoas de raças diferentes nas nossas listas? Não faz sentido absolutamente nenhum.
RC > O que será uma vitória?
IV > É ganhar a Câmara. Temos um projeto interessante, temos pessoas muito focadas, uma equipa multidisciplinar e num patamar elevado. A nível de paridade, temos cinco mulheres e cinco homens e isso é diferenciador. Entrar no executivo já seria um bom resultado, mas o melhor mesmo é ganhar.
RC > Caso não vença, vai manter-se ativa na oposição?
IV > Manter-me-ei ativa, mas tenho de olhar para os resultados e analisar. Nunca tive medo de não ganhar. O ser candidata já é muito positivo. Dá para apresentar a minha visão do concelho e aquilo que são os nossos pilares fundamentais. Sei que há muita gente válida e obviamente os jovens têm de começar a ter o seu espaço político. Nem amanhã sei o que me vai acontecer e deixo tudo no ar. O sim e o não. No momento se verá.