Um e outro fizeram parte da nossa história política e não os apreciamos como deveríamos ter apreciado, a não ser agora…
Gaspar Vaz
A ideia de “Crepúsculo” – e a sua correlata de “Declínio” – é recorrente no pensamento europeu, afirmando-se com especial acuidade entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX. Com mais de um século de avanço, os pensadores vão prometendo o fim do “Ocidente”. Otimista por natureza como sou, sinto dificuldades em manter-me assim.
O “crepúsculo dos príncipes” de que falo tem a ver com duas personalidades maiores que nos deixaram recentemente: Balsemão e Laborinho Lúcio. Conheci primeiro o Francisco, embora nunca o tenha cumprimentado sequer. Porém, em 1974, era um dos fundadores do único partido em que me filiei: o PPD. Sempre o considerei “um senhor”, um jornalista inspirado e isento, um primeiro-ministro sem sorte e abandonado, um empresário de sucesso. Mesmo quando apodado de “lélé da cuca” pelo atual PR (na altura, seu subordinado), nunca perdeu a compostura: um senhor é assim. O segundo conheci-o bem mais tarde.
O meu colega da direção, Prof. Manuel Pinto, em resposta a uma referência elogiosa da minha parte, disse-me conhecer o “Álvaro José”. Combinamos que, se possível, viria à escola, no âmbito de uma “Escola Aberta”. E veio, inaugurando uma colaboração que haveria de se repetir. Era outro senhor: inteligente, um orador de eleição, um comunicador brilhante, um humanista. Percebia-se que tinha mundo, mas pensava localmente, integrando Alcobaça na sua vida, com graça e com carinho.
Um e outro fizeram parte da nossa história política e não os apreciamos como deveríamos ter apreciado, a não ser agora… Agora, há políticos que não falam: vociferam; há políticos que não pensam: produzem soundbytes; há políticos que não escrevem: postam, com erros que mereceriam, segundo os princípios que defendem, muitas reguadas na “escola primária”. Faltam-nos na Assembleia da República muitos dos príncipes que lá estiveram e que, na altura, não reconhecemos como tais.


