As injustiças sociais feriam-no e sabia, como sabem os sábios, que a vida é feita de escolhas permanentes e que só quem pensa livremente pode escolher com dignidade.
Susana Santos
Com a partida de Álvaro Laborinho Lúcio, ilustre filho da Nazaré, a nossa terra perdeu um dos seus melhores. Não falo apenas do magistrado de prestígio ou do governante reconhecido, mas do cidadão que, com generosidade e coragem, dedicou a vida à defesa dos valores da Justiça, sobretudo da Justiça Social, intervindo sempre com lucidez e ética na vida pública.
Acreditava que só a Educação poderia garantir a verdadeira igualdade de oportunidades entre os jovens. Defendia que a escola deve promover essa igualdade na saída, e não apenas na entrada, onde as circunstâncias familiares já impõem diferenças profundas, como bem sabia, pois ele próprio foi aluno nas nossas escolas da Nazaré e Alcobaça. Para ele, educar era criar condições para que cada criança pudesse escolher em liberdade — e argumentava que, para isso, é preciso saber pensar, resistir às manipulações e ter acesso à informação e à cultura.
Laborinho Lúcio trabalhou incansavelmente por estas causas. Analisou, escreveu, ensinou, apresentou estudos e soluções nos mais reputados fóruns, sobretudo nas últimas décadas da sua vida, que decidiu dedicar aos seus concidadãos, quando poderia dedicar-se apenas aos seus mais próximos.
As injustiças sociais feriam-no e sabia, como sabem os sábios, que a vida é feita de escolhas permanentes e que só quem pensa livremente pode escolher com dignidade.
Foi um humanista e foi, sobretudo, um homem bom. Deixou-nos uma obra escrita — ensaios e ficção — que, se a soubermos aproveitar, continuará a ajudar-nos a refletir e a construir uma sociedade mais justa e mais esclarecida. Este é o seu legado para cada um de nós: uma vida fecunda, uma obra valorosa e um testemunho exemplar.
Obrigado, Mestre! (mesmo sabendo que não gostava que assim lhe chamasse).


