Muitos jovens andam na apanha da fruta durante semanas para ganhar dinheiro para os estudos ou para poupanças. Apesar de considerarem o trabalho “um bocadinho duro”, entendem que o esforço vale a pena também pelo convívio.
Muitos jovens andam na apanha da fruta durante semanas para ganhar dinheiro para os estudos ou para poupanças. Apesar de considerarem o trabalho “um bocadinho duro”, entendem que o esforço vale a pena também pelo convívio.
Sexta-feira, 11 horas. O dia está ainda agradável, apesar das nuvens que anunciam chuva. Num pomar em Acipreste, freguesia de Évora de Alcobaça, um grupo de jovens atarefa-se a colher maçã, naquela que será a última jornada de um trabalho que dura há três semanas. Na segunda-feira, 15 de setembro, muitos já iam regressar à escola, desta vez com uma nova experiência no currículo.
É o caso de João Rafael Gomes, 17 anos, estudante do 12.º ano, que andou pela primeira vez na apanha da maçã, “para conhecer novas pessoas e para ganhar algum dinheiro, que dá sempre jeito”, contou ao REGIÃO DE CISTER. “Há coisas que é necessário comprar, mas estou a pensar guardar a maior parte do dinheiro”.
Também Pedro Costa, 19 anos, se estreou este Verão na atividade. Do dinheiro ganho, “parte será para investir em gadgets e outras coisas que são precisas e outra parte para poupar”, explica o estudante do terceiro ano de engenharia informática. É um trabalho duro? “Sim, uns dias mais que outros, mas se houver vontade faz-se bem e o tempo passa rápido”.
A irmã, Laura Costa, de 16 anos, também se estreou este ano na apanha da fruta. Diz que em campanhas anteriores a hipótese se tinha colocado – “a minha mãe já tinha pensado nisso” – e que o trabalho pode ser duro. “Na primeira semana foi mais, agora já estou habituada”, contou ao REGIÃO DE CISTER na sexta-feira. “Vim para ganhar dinheiro, que vou guardar, estou a pensar pagar a carta com ele”.
Quanto se ganha na apanha da fruta? “Depende do dia” e da fruta colhida, aponta a jovem, acrescentando que, como trabalham ao quilo, se a fruta for mais miúda pesa menos. Houve uma semana em que Laura ganhou quase 200 euros. “Depende do que trabalharmos. Se formos três pessoas a encher um palot [caixa grande onde é colocada a fruta], temos de dividir o dinheiro por três. Quantos mais formos, mais temos de trabalhar para render o mesmo a cada um”, explica.
João Rodrigues, 16 anos, andava a apanhar fruta no mesmo pomar em Acipreste, também pela primeira vez. O dinheiro que se ganha e o facto de se conhecerem pessoas novas foram as principais motivações que o levaram para o campo. “O convívio é importante”. O dinheiro “será para o que for preciso”, diz o estudante do secundário.
“Venho porque preciso do dinheiro”. Há três anos que Mariana Souto, 18 anos, estudante do curso de Design de Ambientes na ESAD, Caldas da Rainha, apanha fruta. Explica que o dinheiro será usado para “pagar propinas e para os materiais”. Considera que se ganha bem e que a forma como trabalham (ao palot e não ao dia) “é mais justa e puxa mais” pelos jovens. O trabalho é “um bocadinho duro, mas faz bem”. A jovem diz que não se pode apanhar a maçã de qualquer maneira. “Às vezes tem de se escolher, porque uma está mais adiantada que outra, não se pode arrancar o pé nem se pode apertar. No início da campanha explicam-nos como é”.
Também Mariana aponta o convívio como uma parte importante da experiência. “É importante. As pessoas deste grupo praticamente não se conheciam e sempre se fazem novos conhecimentos”. Além disto, o cumprimento de regras e de horários serve para os jovens “compreenderem como será o mundo do trabalho” e incute responsabilidade, entende por sua vez Pedro Costa.
Aos 19 anos, Jorge Menderico já por várias vezes passou parte do verão na apanha da fruta. “Sempre é um dinheiro extra que entra e passam-se as férias de outra maneira”, diz o estudante do primeiro ano de engenharia electrónica, considerando que “o convívio também é importante”. O rendimento obtido nesta atividade servirá para “ajudar a pagar o curso e para ser mais independente”.
Também Renato Barreiro, 21 anos, vai para o primeiro ano do ensino superior (curso de programação no Politécnico de Leiria). Assim como o colega, não é novato nas andanças da apanha da fruta porque o dinheiro ganho “dá sempre jeito”. Servirá para “o que for preciso para o curso ou mesmo para ajudar em casa”. O jovem entende igualmente que trabalhar nas féria permite perceber como é o mundo laboral. “Ajuda a crescer e a ganhar maturidade”
Num outro pomar a poucos quilómetros do primeiro, o REGIÃO DE CISTER encontrou Sofia Silva, 17 anos, pela primeira vez na apanha da fruta. Porquê? “Pelo dinheiro”, responde a estudante do 12.º ano, neta de agricultores, já habituada ao trabalho agrícola. Por isso, apesar de reconhecer que “exige esforço físico”, garante que apanhar maçã “se faz bem”. Quanto ao dinheiro ganho nesta actividade, a jovem pretende “poupá-lo para comprar um carro”.