É, provavelmente, a única associação do País que tem uma capela própria. A construção do local de culto religioso foi uma “imposição” da população para se avançar com a constituição do Centro Cultural e Recreativo de Casal dos Ramos. Quatro décadas volvidas, a associação, que correu riscos de fechar portas há alguns anos, surge revigorada e tem em mãos um projeto para requalificar as instalações e ampliar o leque de serviços à população, nomeadamente através da construção de salas de formação.
É preciso recuar até janeiro de 1973 para perceber as razões da fundação do Centro Cultural e Recreativo de Casal dos Ramos. Tudo começou numa conversa de taberna entre os amigos Lourdes Fonseca e Amílcar Pereira. Naquele lugar da freguesia da Cela havia “pouca coisa para oferecer aos jovens” e a criação da associação pretendia suprir essa necessidade. “Queríamos um espaço para poder conversar e juntar as pessoas, apresentar peças de teatro e fazer bailes, porque aqui à volta nada existia e tínhamos dificuldade nos transportes até à sede do concelho”, recorda Amílcar Pereira.
O processo de criação da associação não foi fácil. Um grupo de jovens decidiu começar por ter reuniões com a população daquele lugar da freguesia da Cela, mas também se deslocaram até à Junqueira, aos Rebelos ou à Pousada. Foi, então, que os habitantes “mais velhos começaram a pedir que, além do salão, se fizesse uma capelinha…”, recorda o sócio-fundador. A proposta foi aceite, mas ainda demorou a ser concretizada.
O Centro Cultural e Recreativo de Casal dos Ramos começou a funcionar num barracão, que “dava para fazer uns bailaricos” e, depois de se garantirem algumas verbas, decidiu avançar-se com a constituição e publicação dos estatutos em Diário da República, já em novembro de 1978. Antes já tinha sido desenhado o emblema, que apresenta duas cores, “o verde dos campos e o amarelo por ser a cor do concelho de Alcobaça”, e resultou de uma ideia do alcobacense Carlos Hélder.
O estatuto de sócio número 1 ficou reservado para Lourdes Fonseca, uma professora radicada na Benedita, que, apesar de estar na génese da associação, nunca se chegou a efetivar como associada… Mas este é apenas mais um episódio de uma existência recheada de peripécias.
O terreno onde hoje existe a sede do Centro Cultural e Recreativo de Casal dos Ramos foi, também ele, um “episódio”. A associação adquiriu uma parte do terreno e outra parte foi oferecido pelo proprietário José Albino Abegão, mas o assunto chegou, mais tarde, a tribunal… E o que dizer da própria capela, que foi transferida já em 1990, mas que também serviu de discórdia com a Igreja? O assunto foi discutido na assembleia geral mais concorrida da história, com os sócios a tomarem a decisão de não entregar a capela à Igreja, a menos que a paróquia assumisse as despesas dos atos administrativos necessários.
No início desta década, a associação atravessou um período de grande adversidade e quase fechou portas. Foi, então, que os “mais jovens se juntaram com os mais antigos” e, uma Direção liderada por Marco Siopa, evitou o encerramento. “Pagámos as dívidas e fizemos diversas obras. Recebemos cartas de fornecedores a ameaçar que nos iam levar equipamento. Tivemos de fazer algo pela instituição, pois não podíamos deixar que o Centro fechasse”, salienta o dirigente.
Hoje em dia, o CCR de Casal dos Ramos está estabilizado. O bar funciona todos os dias da semana e a associação tem dois funcionários a tempo inteiro e um colaborador, sendo um ponto de convívio de diversas localidades vizinhas. E presta serviços como a ginástica sénior.
A festa de verão é a próxima iniciativa. Entre 9 e 12 de junho, todos os caminhos vão dar até ao Casal dos Ramos, para um evento que reúne nomes conhecidos do panorama musical da região e no qual até a associação de pais beneficia, pois assegura as receitas da quermesse. “É para isto que serve o Centro Cultural e Recreativo. Para servir a população”, resume Amílcar Pereira. E não podia estar mais certo.