Em agosto completa 60 anos de portas abertas e ganhou o nome com as iniciais de Hélio e Carlos, filhos do fundador Silvério de Jesus Matias.
Em agosto completa 60 anos de portas abertas e ganhou o nome com as iniciais de Hélio e Carlos, filhos do fundador Silvério de Jesus Matias.
Instalado num icónico edifício do centro de Valado dos Frades, o Café Helcar é o mais antigo estabelecimento comercial da vila e desde setembro de 1971 que é gerido por Alice Grácio e Carlos Raimundo. O casal trabalhou para os primeiros proprietários e assumiu o negócio há 48 anos. Mas mantiveram o nome do café, apesar de ali terem nascido os seus dois filhos.
“Estivemos como empregados um ano, depois o dono da casa alugou-nos o espaço. Os clientes já estavam habituados a nós e fomos continuando o trabalho e deixámos ficar o nome”, explica Alice, que tinha 26 anos quando deixou a Spal, onde trabalhou nove meses, para acompanhar o marido numa mudança de vida.
“Trabalhei durante 12 anos nos Cações [uma mercearia], mas recebi uma proposta para trabalhar no café e decidi aceitar. Sabia que não era fácil, mas sempre fui atrevido”, recorda Carlos, que no início teve de se impor no balcão. “Isto era o far west, havia muito álcool. Tínhamos licença até às 2 da manhã, mas só fechávamos às 3. Felizmente, nunca se passou nada de grave”, relembra o comerciante que, aos 28 anos, decidiu novamente mudar de vida: passou a ser motorista de longo curso e deixou a mulher à frente do negócio. Alice não se fez rogada, arregaçou as mangas e foi à luta.
“Embora, por vezes, não seja fácil lidar com o público, tenho amizade por clientes que vêm cá há muitos anos. Foi aqui que criei os meus filhos”, diz esta pisoense, de 74 anos, que conheceu o futuro marido “num baile” e viria a casar em Valado dos Frades, onde se sente “acarinhada pelas pessoas.
Se os filhos, João Paulo e Patrícia, “nasceram no café”, os netos também já por ali andam. Sebastião, de 10 anos, “gosta de ajudar” os avós, mas tudo na vida tem um fim e a família não sabe durante quanto mais tempo ficará à frente do Helcar. “Os nossos filhos têm a vida estabilizada e não lhes podemos pedir que aqui fiquem”, resume Carlos Raimundo.
A pergunta impõe-se. Como foi gerir sozinha, embora com o apoio do marido à distância, um café com tanto movimento? “Foi preciso muita coragem, fazer contas à noite e pensar como seria o dia seguinte. Felizmente, sempre tive uma boa clientela e tenho muito gosto no que faço”, afiança a comerciante, que entra no Helcar pelas 7:30 horas e só sai “assim que é possível, depois das 22 horas”, quando os clientes já saíram. Isto sem folgas… “Sinto-me muito cansada. Abro os 7 dias da semana e sinto necessidade de parar um pouco, mas como tenho compromissos com os clientes, acabo por abrir sempre, mesmo aos domingos”, assume Alice Grácio, ou, como é carinhosamente tratada pelos valadenses, a “D. Alice do Café”.