Porque a “sabedoria” não pode ser etérea, mas tem de se confrontar coma realidade, hoje proponho-vos algumas notas de reflexão sobre o assunto que mais nos tocou no tempo mais recente: os resultados eleitorais:
1. As coisas nunca são a preto e branco – porque a realidade é, naturalmente, policroma. Porém, a preto bem negro, devem ficar as empresas de sondagens, na medida em que nos levaram a considerar cenários que nunca, com verdade, pelos vistos, se puseram. Ou, se se puseram, foi por metodologias erradas, perigosamente erradas. Ainda bem que estas empresas são privadas. Imaginem o que seria, agora, se as projeções tivessem sido da responsabilidade do INE, por exemplo: já teria havido um “Polígrafo” a decretar não válidos os resultados das eleições: porque sim e porque não. Seja como for, as péssimas sondagens apresentadas condicionaram muitas pessoas, a começar por mim. Na verdade, se tivessem sido mais fiáveis, eu próprio, certamente, teria votado de modo diverso.
2. As agências de notação – entidades que, por serem predadoras de topo, não aprecio, mesmo quando convergem com as minhas expetativas – já se apressaram a dar nota, através de Moody´s, do seu agrado por uma solução mais estável, sem “geringonça”. Dentro da lógica de entidades que apenas querem ganhar dinheiro, esta indicação faz sentido – mesmo que discordemos, como eu discordo. Na verdade, um estado de governação que se manteve porque sim e que caiu porque não, sem haver alterações substantivas nos valores em jogo, não pode ser entendido como credível para os “donos da massa”. Ora, tanto o BE como a CDU parecem não ter ainda percebido que boas intenções sem dinheiro que as sustentem são devaneios. Na verdade, os partidos políticos, por não serem bancos emissores, têm de calibrar os seus desejos com a dura realidade – que é “capitalista”, como se sabe. Mesmo na “comunista” China.
3. Seja como for, uma votação, com esta dimensão e clareza, não pode ser indiferente. E por isso, sinceramente, preocupa-me o CDS, um dos partidos fundadores do nosso sistema parlamentar e que foi varrido literalmente para a irrelevância. Isto mostra que nem sempre os “jovens turcos” têm razão, sobretudo quando dispensam a cultura institucional em que se movimentam. Recordar o José Ribeiro e Castro, um “rapaz para a minha idade”, com uma bandeira triste ao ombro, é uma das imagens mais deprimentes que guardo desta campanha. Desejo rápidas melhoras.